domingo, 24 de fevereiro de 2013

026 - o que é ego segundo tiago


Antiego.


Bom, já está na hora de falarmos de um novo aprendizado no que diz respeito ao ego e sua extinção. Já me referi, anteriormente, que o ego é indispensável enquanto o usarmos. Mas quando é que ele deve ser erradicado? – Foi o que Tiago disse. Eu tentei me lembrar das designações que estão descritas nos dez artigos anteriores.


isto é um enigma? Deixe-me pensar. Baseado no fato de que as religiões pregam o fim do ego como o fim primordial para se alcançar a iluminação espiritual, ele só será erradicado quando for desnecessário para o espírito. Se bem me lembro, existe uma citação de Buda de que o ego só seria completamente extinto ao fim da vida...


Então ele me interrompeu. – No entanto, sabendo que o ego é uma ferramenta de relacionamento entre todos os homens, a chance de que ele venha a ser erradicado é quase zero.


A psicanálise considera o ego um mecanismo de controle, de equilíbrio. Um mediador entre a consciência e o inconsciente. Dando ao ego uma aparência de imprescindibilidade. Enquanto estivermos vivos, estaremos tentando controlá-lo. Digo, tentando evitar que ele se anarquize e, agindo através dos excessos emocionais, comande as nossas ações, as nossa atitudes e pensamentos. – Parei por um instante, esperava que Tiago completasse alguma falha, mas ele não se manifestou. – Contudo parece existir uma brecha, como acabar com o ego quando ainda o necessitamos?


A esta brecha, existem duas situações, mas nenhuma delas dá conta de uma extinção do ego. O ego é indestrutível! Alcançar o fim do ego é como correr para uma meta e descobrir que, ao fim da jornada, ela era outra. Uma isca. Não pense nisto agora pois é como descrever algo que nunca tenha experimentado.


Fiquei um pouco surpreso, depois de tudo o que li, eu percebi o erro. – Todos descrevem métodos e práticas para findar o apego ao ego, mas ninguém realmente diz como é ser assim, sem ego. Os poucos que se arriscam em explicar um ser sem-ego, não-eu, fazem-no por analogias com as sensações e palavras disponíveis. Por isso usam tantas parábolas e exemplos relativos?!

Exatamente. Descrever o mel pode gerar uma infinidade de descrições, os valores adquiridos pelos cinco sentidos, inclusive as percepções captadas por um sexto sentido, valores modificados e criados pela consciência, mas, basta experimentar o mel e todas as descrições se tornarão insuficientes. Assim como a descrição de Deus, se poucos se preocupam em experimentar...


Mesmo em uma condição onde o ego pareça não existir, ele existirá?


Tiago sorriu em concordância. – Lembra-se da parábola da cidade fantasma? Buda descreve que todo os ensinamentos são apenas uma isca para que, quando estivermos prontos, realmente percebamos o caminho para a iluminação. A cidade fantasma é apenas uma analogia para que não desistamos de atingir a iluminação porque, à primeira vista, nos parece impossível ou incompreensível. Libertar-se do ego é um engodo.


Então é impossível extinguir o ego?


Em termos, sim. – Tiago se pôs na defensiva. – Quando chegamos, depois de executar um infindável número de práticas espirituais, às portas da iluminação, estaremos prontos para entender que aquilo que chamamos de iluminação não passava de um chamariz. Porque sem estas práticas, não é possível compreender o que os mestres querem dizer sobre a iluminação, ou extinção do ego, ou a manifestação do não-eu, estado búdico. Buda se refere a dois nirvanas nesta parábola da cidade fantasma, sendo a própria cidade um recanto para o descanso dos peregrinos, portanto uma iluminação parcial?! Entendeu?


O conceito sim, Depois que eu experimentar o que é iluminação, te direi o que é. – confesso o meu sarcasmo. – Mas se não podemos eliminar o ego, agora eu te pergunto: Porque todos teimam em pregar a anulação do ego?


Usou o verbo correto, anular. Tornar-se nulo ou sem efeito; provocar total destruição de; perder a identidade e; aquela de que mais gosto, obter vitória sobre. Nunca foi uma questão de extirpar, mas sim se converter o ego em algo novo, mudar a sua essência. A intenção de Buda, por exemplo, ao nos falar sobre o não-eu com o objetivo de eliminarmos o sofrimento e a impermanência já nos diz que o ego resiste, o que morre é a essência conflituosa que torna o ego como ele é, quero dizer, anular o ego é simplesmente tomar controle sobre ele. – se ele não encontrava palavras, por sua vez eu estava entendendo assim mesmo. – A fórmula padrão afirma que aquilo que é impermanente é dor ou sofrimento, e aquilo que é impermanente, sofrimento e sujeito à mudança não pode ser considerado como meu ou eu. Este é o princípio do não-eu.


Se o ego não é extinto, por que se fala em extinção?


Não há razões para se tentar extinguir uma inextinguível atividade do espírito. Assim como não se pode remover quaisquer dos atributos que determinam o que Deus é, ou que nós somos. Toda esta explicação sobre não-eu e anulação do ego só esta nos confundindo. Pense que, ao mudar o ego, de suas ações instintivas para conscientes, estaremos criando um ego invertido, um antiego.


Tive que me calar. – Um antiego seria?!


Um ego com atributos superiores, um não-eu, cuja função é eliminar sistematicamente o que torna o ego desprezível. Inclusive aquelas personalidades aparentemente saudáveis que, infelizmente, se baseiam em esquemas de submissão ao medo. Um antiego é um ego destituído de personalidades controladoras, tem uma visão de compaixão por saber que não há necessidade de julgamentos...


Porque somos todos um. Um antiego pode exercer plenamente o discernimento, mesmo sabendo que ele não fará uso dele. – não vejo razão para que alguém que se considerasse o todo, precisasse fazer distinção. – Então, porque o ego não é extinto?


Porque é o meio pelo qual interagimos e criamos este mundo. O ego constrói uma imagem deturpada porque ele interpreta o mundo conforme a sua reação aos estímulos externos, e temos que considerar a ideia coletiva perpetuada pelos homens. O antiego, um não-eu, desapegado das impressões oferecidas pelas ideias coletivas, se baseia na certeza máxima de que Deus é perfeição, todas as coisas levam a esta perfeição. Tudo aquilo que chamamos de mal passa inexoravelmente pelo crivo da bondade dEle. Não pense que o alvo final da jornada humana é a extinção do ego, mas sim a evolução do ego para parâmetros de autodomínio das atividades emocionais. Até podemos chamar de extinção do ego, mas sem algum resquício do que chamamos de ego, deixaremos de possuir individualidade.


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