Como eu
estive falando, literalmente, sobre
os meios hábeis no podcast 001, precisava discutir o outro lado. Se todas as
coisas podem servir de meios para se conseguir aprimorar, também podemos
discutir o quanto essas experiências são reais.Existe um
conflito entre as experiências realizadas, através dos nossos sentidos, e o que
realmente é real. Parece um daqueles pleonasmos totalmente redundantes. Tudo se
constitui de meios para se obter experiências e, se pensarmos bem, elas não
existem.
Sabemos que a
mente prega peças – o vídeo do NatGeo apresenta-nos alguns exemplos. O que eu
mais gosto é a experiência sobre o efeito
placebo. Para quem quer ficar realmente confuso, veja os exemplos. Somos condicionados
por uma mente que nos define as dimensões do nosso mundo, sobretudo ao se
considerar os julgamentos que estabelecemos.
Observamos o mundo com as nossas
impressões particulares e estas são definidas pelos exemplos que ele nos
oferece, se estes sensores são falhos, as impressões são deturpadas e os
julgamentos carecerão de exatidão.
Vivemos em um
mundo de ilusões. Enquanto o mundo ocidental é limitado pelos “pecados”, as
doutrinas orientais focam nas “ilusões”. Mas, se somos incapazes de definir e
orientar os nossos pecados, creio que
o mesmo aconteça com a ilusão. A ilusão
é enfrentada com o argumento de que vivemos em um mundo de ilusões e se espera
que uma fórmula mágica – ou religião – possa ensinar como escapar destas
ilusões. Já deve ter ficado claro que é impossível apagar as ilusões como se
elas fossem um véu a encobrir a realidade. A
ilusão está em interpretar o mundo de modo errôneo.
Não é uma
questão de reescrever o mundo, mas de entendê-lo. Toda a ação do mal passa pelo
crivo da bondade de Deus. Aquilo que nos fere, atormenta e faz sofrer é o que
parece ou um julgamento de nossas mentes, de nossas crenças? É o que Buda diz, contudo
supomos que temos que esperar o fim da vida para que se possa conhecer a
realidade. A realidade não é um lugar, esta diante dos nossos olhos. O mesmo
acontece com o pecado, se a ilusão é compreendida como um obstáculo à
realidade, o pecado é uma distorção da realidade.
“É tolice e desnecessário a uma pessoa
continuar sofrendo simplesmente porque não alcançou a iluminação, quando
esperava alcançá-la. Não há insucesso na
iluminação, portanto a falha reside nas pessoas que, durante muito tempo,
procuraram a iluminação em suas mentes discriminadoras, não compreendendo que
estas não são as verdadeiras mentes, e sim, falsas e corrompidas, causadas pelo
acúmulo de avidez e ilusões toldando e ocultando as suas verdadeiras mentes.
Se este acúmulo de falsas divagações for eliminado, a iluminação aparecerá.
Mas, fato estranho, quando os homens atingirem a iluminação, verificarão que,
sem as falsas divagações, não poderá haver iluminação”. Buda compreende que, mesmo que
estejamos em ilusão, sem as ilusões – ou falsas divagações – não poderíamos
entender a realidade.
“O portal dessa sabedoria é difícil de
compreender e de transpor. Nenhum dos homens de erudição ou de absorção é capaz
de compreendê-la. Qual é a razão disso? Um Buda é aquele que serviu a centenas,
a milhares, a dezenas de milhares, a incontáveis Budas e executou um número incalculável de práticas religiosas”. Tanto nos parece contraditório que
ele, no sutra de lótus, confirma a necessidade de se aprimorar as percepções do
mundo através das falsas divagações, que aqui são as práticas religiosas.
Há um
conformismo de que o mundo é assim, mas não passa de um aglomerado de crenças
limitadoras, de egos malformados e a repetição de padrões imprecisos que não
podem ser modificados, este é o medo.
Um
treinamento para se perceber a realidade é aceitar que todo e qualquer
julgamento de nossa parte é falho, não temos meios de aferir a realidade
através das trevas. E aceitar que tudo é perfeito, o que nos parece imperfeito
é o sofrimento causado por não compreendermos os fatos. Isto se deve ao carma,
causa e feito, que promove um equilíbrio justo, como não entendemos o mecanismo,
simplesmente preferimos acreditar na injustiça.
Esta é a
premissa que criou as leis dessa nossa realidade – ilusão. Que devemos agir,
porque Deus não atua nos nossos destinos. E isto esta tão arraigado em nossas
mentes que acreditamos que Deus prioriza aqueles que mais rezam por sua
intercessão e não vemos que aqueles que acreditam plenamente na atuação de Deus
parecem viver em um mundo diferente. Enquanto o mal se espalha, por não
entenderem o mal, estão imunes. E não são assim porque são escolhidos, mas
porque estão em equilíbrio e buscam a realidade de que o mal não existe.
Porque não é
mal. É uma atribuição da nossa personalidade ter livre-arbítrio e assim
experimentar todas as coisas conforme o destino, o carma, a causa e o efeito de
seus atos precisem do mal. Talvez por culpa, pelos medos, mas principalmente
pelas nossas ilusões, nossas crenças que se baseiam em modelos falsos.
“Tua fé te
salvou”. ”Vais e não peques mais.” Tem o mesmo sentido. Jesus não estava se
referindo aos poderes de Deus, na verdade ele estava sim, só que Deus que está
em cada um, nas nossas capacidades de sobrepujar o mal que não existe. Quando
você entende que as amarras da culpa e do pesar não passam de experiências, que
cabe a você romper com a ilusão, a realidade surge como um paraíso na terra.
Mas nem todos
conseguem se livrar dos medos, das culpas, do ódio, com um simples pensamento.
Estamos presos por muitas crenças que nos impedem de aceitar que a realidade é
amor. Que Deus é amor.Mas fica a
dúvida, se devemos nos concentrar nos meios hábeis ilusórios para nos
aprimorarmos ou esquecer o que sabemos saber porque a nossa realidade é falsa.