A mente, e aqui eu me refiro ao ego, tenta, a todo custo,
nos dizer no quê devemos acreditar. A princípio a mente superior, ou seja, o
espírito, nos alerta se nos afastamos do programa, através de “coincidências”
que podem ser ou não negligenciadas. Quanto às coincidências, elas não existem,
não como imaginamos. É porque vivemos tentando interpretar a realidade como ela
nos é apresentada, plena de falhas e lacunas. Porém não vamos nos preocupar em
como a realidade deveria ser, pois as religiões tentam nos dar algum
direcionamento e simplesmente a moldamos de acordo com os nossos desejos.
As imprecisões nascem porque acreditamos que o tempo é o único fator inalcançável aos
nossos desejos de querer interferir. E, na tentativa de controlá-lo, fixamos os
pensamentos no passado, com o propósito de afirmar nossas convicções, e no
futuro, para projetar os nossos anseios. Deste modo nunca estamos no presente.
“A voz [em nossas cabeças] comenta, especula, julga, compara, desculpa, gosta, desgosta, etc. A voz não precisa ser relevante para a situação do momento, pois ela pode estar revivendo o passado recente ou remoto, ou ensaiando, ou imaginando possíveis situações futuras. Neste último caso, ela imagina sempre as coisas indo mal e com resultados desfavoráveis. É o que se chama de preocupação”. O Poder do Agora, Eckhart Tolle
Não-estar
no presente cria o sofrimento. Darei um exemplo.
Ó,
dentistas. Se você conceber alguém com um medo fóbico de dentista, este será
eu. Os traumas de infância sempre se transformam em monstros. Quis experimentar
um exercício de programação mental que aprendi na seicho-no-ie. Pois eu já sabia que reagiria assim:
Sabendo
que arrancaria os sisos em dois meses, eu me comportaria com uma ansiedade
crescente que se transformaria em sinal de alerta nas 72 horas anteriores à
tortura, e em estado de pânico nas derradeiras 24 horas. Eu passaria todo este
tempo imaginando o sofrimento que seria, as dores, as dificuldades, a submissão...
enfim, o quanto seria desagradável. Sempre senti assim, sempre acreditei que
seria assim.
Mas
eu preferi experimentar não sofrer, seja das antecedência angustiosa ou das dores
intermináveis da cirurgia. Comecei afirmando, sem muita convicção, que arrancar
dentes não doem e nem sangram, quantas vezes eu me lembrasse durante o dia.
Confesso que não fui muito disciplinado. E me conscientizei que, e eis a
Verdade, todos os momentos que não são aqueles em que acontece a cirurgia não
merecem ser vividos como tal. Não preciso pensar naquilo que não aconteceu e
nem acontecerá após aqueles momentos do fato, de fato. Não preciso sofrer por
algo que não está realmente acontecendo, porque pensar nisto, porque pensamos
em coisas que nos provocam medo? Para antecipar problemas que podem jamais
existir?! Para nos precaver do mal?!
Consegui
manter a serenidade até o instante de entrar no consultório, e como não sou de
ferro, entrei em estado de atenção quando começou a cirurgia. Não doeu, não sangrou
o que eu imaginava engasgar. Da hora e meia reservada, precisou de apenas 20
minutos para arrancar os enormes dentes. O pós-operatório foi extraordinário,
sem remédio para dor. Eu acrescentaria que em uma semana estava com a boca
quase restaurada. E também acrescentaria, ao mantra: arrancar dentes não doem,
nem sangram e nem inflamam.
Por precaução.
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