Em uma outra oportunidade eu comentei que as nossas vidas se pareciam com a de personagens de videogames [carma mario bros] porque somos controlados com o objetivo de executar determinada tarefa imposta pelo jogador/usuário, que no nosso caso poderíamos chamar de espírito.
E eu deixei bem claro – pelo menos tentei – que este destino não é tão inflexível assim. Temos um objetivo traçado pelo espírito, que somos nós aliás, e ele se encarrega de nos guiar, mas todo o resto para se alcançar este objetivo/destino dependerá do nosso livre-arbítrio. Quando este livre-arbítrio se funde ao ego, declarando veementemente que o espírito deve estar errado, então entramos em conflito e a máquina emperra.
Ralph sabe muito bem que para sair de seu papel de “detonador” malvado, para se tornar um herói não é fácil. Ele tem que preencher o espaço pelo qual foi criado. Conosco é assim, não suportamos fazer o que o destino quer e saímos em busca daquilo que possa promover felicidade.
Mas a felicidade não é um produto, não se pode ter felicidade ou compra-la eternamente, este estado é temporário e viciante. Estamos sempre aumentando as nossas expectativas para elevar o grau de satisfação do que chamamos de felicidade. Na verdade, Ralph percebe que a felicidade estava em cumprir o seu papel naquele jogo. E foi reconhecido por ser exatamente assim.
Isto me fez pensar em duas coisas: o bem e o mal são complementares, só podemos perceber o bem se o mal for assimilado. Não quer dizer que precisamos ser o “mal”, mas se não o reconhecermos, estaremos negligenciando todas os nossos aprendizados. Um pouco disto está explicito em 004MH5 – naruto. Segundo, a felicidade não é uma conquista, pertence a nós, porém nos comprazemos em criar ideias errôneas em relação a todas as coisas e assim se formaliza um estado de ausência que deprime. Será que, se não criássemos estes vínculos com o ter, não seríamos mais felizes?
Num jogo de videogame, o personagem deve seguir o seu destino como determinado pelo programador, sem espaço para rebeldias. No nosso mundo, o destino é apenas, ou são apenas direcionamentos que estão alinhados com as necessárias aquisições do espírito. Não quer dizer que teremos uma vida controlada, sem desejos e vontades próprias. Neste caso, quando extremo, a vida se encarrega de nos chamar ao compromisso. O que causa muito sofrimento se não entendermos que, por pior que pareça, talvez seja a alternativa mais fácil. É só nadar a favor.
E quem disse que a escolha de papeis indignos devem ser esquecidos? Ralph aprendeu que a sua função destrutiva permitia o crescimento das funções construtivas de todos os personagens. Portanto, pense duas vezes antes de condenar alguém que te pareça infringir sofrimentos e medos, porque ele pode ser uma ferramenta para o seu crescimento.
Em um desses dias li um comentário feito a um praticante do budismo que queria crescer, mais algumas pessoas e situações o prejudicava. Tal comentário sugeria uma retirada de campo, se afastar dos problemas e exercitar a compaixão em meio à serenidade. Concordo, contudo, ao se fugir destes embates – que são fórmulas mágicas – estaremos perdendo a chance de aprender o que viemos aprender. Parece difícil, mas é pior do que parece. O melhor é observar, alguns diriam discernir, e colher informações, sem se afligir.
De todos os ensinamentos budistas, o que mais gosto – depois da parábola do Detona Ralph – é a da Cidade fantasma: um grupo de viajantes, tendo ouvido falar de uma cidade cheia de tesouros, parte para enfrentar uma difícil jornada. Para chegar à cidade, teriam de percorrer uma estrada extremamente longa que atravessava desertos, florestas e terras perigosas.
Nenhum trecho dessa estrada era seguro e os viajantes teriam de ter muita coragem e persistência para atingir sua meta.
Haviam completado mais da metade da jornada e acabado de sair de uma densa floresta quando o guia, que conhecia bem o caminho, avisa que logo iriam se aventurar por um deserto. O sol escaldante e as fortes tempestades de areia provaram ser demais para eles. Os viajantes estavam tão cansados que começaram a perder a coragem e a querer desistir dos tesouros em troca da segurança de seus lares que haviam deixado para trás.
O guia, contudo, estava determinado a levar todos, não importando como. Ele usa então seus poderes místicos para fazer aparecer uma cidade no meio do deserto. Num instante, os viajantes tiveram uma visão fantástica. Surge do nada um lindo oásis repleto de árvores, por entre as quais veem uma cidade. Imediatamente, por entre as quais veem uma cidade.
Imediatamente, correram até lá com grande alegria. Todo o cansaço, as dores e o desânimo desapareceram num instante para dar lugar ao otimismo e à esperança. Eles se banharam, saborearam comidas deliciosas e dormiram tranquilamente.
Em suas conversas, nem se cogitava a ideia de desistirem da jornada e de retornarem aos seus lares. Na manhã seguinte, logo que despertaram, ficaram estarrecidos ao ouvir o guia dizer-lhes que tinham de deixar aquele lugar maravilhoso e seguir viagem. Mas este é com certeza o paraíso que procuramos por tanto tempo! – exclama um deles.
Não – responde o guia – os senhores ainda estão na metade da jornada. Este é somente um ponto de descanso, uma lugar para refrescarem-se. Acreditem!
O destino final é muito mais belo que esta cidade e não está tão longe. Agora que tivemos tempo para descansar e relaxar, vamos continuar nossa viagem. Dito isso, a cidade desapareceu na areia.
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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
DETONA RALPH
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domingo, 2 de junho de 2013
CARMA MARIO BROS
Não há propriedade em se advogar dono da verdade.
Aqueles que o fizeram se utilizaram de meios hábeis para tentar explicar o inexplicável. Quero dizer, eles não tinham como dizer o óbvio de modo tão óbvio. A mente humana se restringe a estratagemas incoerentes que precisam de complexidade e não de simplicidade. Portanto somos escravos das nossas mentes, ou melhor, das ilusões que elevamos ao mais alto degrau da nossa existência e a chamamos de realidade. Por isso o uso de parábolas e fábulas para dar vazão às mentes indiscriminadoras.
Mas falando em explicações, vamos nos por em uma atitude bastante infantil para ouvir mais. Isto quanto à ilusão que chamamos de leis cármicas. Pense em tua vida como o personagem de um videogame. Ele tem que enfrentar certos obstáculos para seguir o jogo, enfrentando poços de lava fumegante ou dragões cuspidores de fogo, em alguns casos até tartarugas trôpegas. E fazemos isto tantas vezes quantas forem necessárias, aprimorando os nossos reflexos a cada morte. O personagem morre, mas o usuário – ou jogador – continua se aprimorando. Talvez nem se importe em morrer, elas são tentativas de aprimoramento que o jogador adquire, mesmo que o personagem não ache justo. Pois nós também não achamos justo o que acontece em nossas vidas.
O personagem é o ego que nos representa durante esta vida e o jogador é o ser superior que, mesmo oculto pelas ilusões do ego, está nos observando. Não estou falando de Deus – até poderia. Estou falando de algo que denominamos de estado crístico, ser búdico, a nossa essência real e assim por diante.
Assim como o jogador se põe a conhecer o ambiente do jogo e o experimenta “n” vezes até adquirir experiência, nós, ou seja, o ser superior intrínseco em nós e que está acima do ego e do personagem que representamos nesta existência, está a par dos obstáculos que enfrentaremos. E nem sempre são maus, na verdade nunca são.
Assim como o jogador conhece o jogo, a parte superior de nós também conhece o jogo da vida. Se eu dissesse destino, logo apareceriam contrariedades filosóficas. Se eu afirmasse que o livre-arbítrio suplanta aquele destino inexorável, estaria mentindo. Talvez seja algo intermediário. Em linhas gerais estabelecemos o projeto, o ambiente do jogo, mas as jogadas e a perícia do personagem são “livres”. Mesmo que seja dentro de uma realidade imposta.
Precisamos seguir o cronograma. Os defensores do carma dizem que é uma adequação aos erros e acertos do passado que criam o jogo. Porém o jogo deve atender ás necessidades do jogador.
Se eu não quiser jogar sempre o mesmo jogo, preciso escolher novos. O jogador, assim como nosso eu superior, “conhece” o jogo. Este conhecimento é importante, mas sem a experiência de jogá-lo até se atingir a perfeição, não passa de uma ideia. A prática leva á perfeição, não é o que todos dizem? Quantas vezes veremos o personagem ser derrubado pela tartaruga antes que suplantemos este obstáculo? Digo mais, quantas vezes precisaremos jogar o mesmo jogo antes de percebemos que é inútil? O carma existe, mas basta uma resolução e ele se apagará. O jogo é jogado enquanto houver personagens...
domingo, 24 de fevereiro de 2013
026 - o que é ego segundo tiago
Antiego.
Bom, já está na hora de falarmos de um novo aprendizado no que diz respeito ao ego e sua extinção. Já me referi, anteriormente, que o ego é indispensável enquanto o usarmos. Mas quando é que ele deve ser erradicado? – Foi o que Tiago disse. Eu tentei me lembrar das designações que estão descritas nos dez artigos anteriores.
isto é um enigma? Deixe-me pensar. Baseado no fato de que as religiões pregam o fim do ego como o fim primordial para se alcançar a iluminação espiritual, ele só será erradicado quando for desnecessário para o espírito. Se bem me lembro, existe uma citação de Buda de que o ego só seria completamente extinto ao fim da vida...
Então ele me interrompeu. – No entanto, sabendo que o ego é uma ferramenta de relacionamento entre todos os homens, a chance de que ele venha a ser erradicado é quase zero.
A psicanálise considera o ego um mecanismo de controle, de equilíbrio. Um mediador entre a consciência e o inconsciente. Dando ao ego uma aparência de imprescindibilidade. Enquanto estivermos vivos, estaremos tentando controlá-lo. Digo, tentando evitar que ele se anarquize e, agindo através dos excessos emocionais, comande as nossas ações, as nossa atitudes e pensamentos. – Parei por um instante, esperava que Tiago completasse alguma falha, mas ele não se manifestou. – Contudo parece existir uma brecha, como acabar com o ego quando ainda o necessitamos?
A esta brecha, existem duas situações, mas nenhuma delas dá conta de uma extinção do ego. O ego é indestrutível! Alcançar o fim do ego é como correr para uma meta e descobrir que, ao fim da jornada, ela era outra. Uma isca. Não pense nisto agora pois é como descrever algo que nunca tenha experimentado.
Fiquei um pouco surpreso, depois de tudo o que li, eu percebi o erro. – Todos descrevem métodos e práticas para findar o apego ao ego, mas ninguém realmente diz como é ser assim, sem ego. Os poucos que se arriscam em explicar um ser sem-ego, não-eu, fazem-no por analogias com as sensações e palavras disponíveis. Por isso usam tantas parábolas e exemplos relativos?!
Exatamente. Descrever o mel pode gerar uma infinidade de descrições, os valores adquiridos pelos cinco sentidos, inclusive as percepções captadas por um sexto sentido, valores modificados e criados pela consciência, mas, basta experimentar o mel e todas as descrições se tornarão insuficientes. Assim como a descrição de Deus, se poucos se preocupam em experimentar...
Mesmo em uma condição onde o ego pareça não existir, ele existirá?
Tiago sorriu em concordância. – Lembra-se da parábola da cidade fantasma? Buda descreve que todo os ensinamentos são apenas uma isca para que, quando estivermos prontos, realmente percebamos o caminho para a iluminação. A cidade fantasma é apenas uma analogia para que não desistamos de atingir a iluminação porque, à primeira vista, nos parece impossível ou incompreensível. Libertar-se do ego é um engodo.
Então é impossível extinguir o ego?
Em termos, sim. – Tiago se pôs na defensiva. – Quando chegamos, depois de executar um infindável número de práticas espirituais, às portas da iluminação, estaremos prontos para entender que aquilo que chamamos de iluminação não passava de um chamariz. Porque sem estas práticas, não é possível compreender o que os mestres querem dizer sobre a iluminação, ou extinção do ego, ou a manifestação do não-eu, estado búdico. Buda se refere a dois nirvanas nesta parábola da cidade fantasma, sendo a própria cidade um recanto para o descanso dos peregrinos, portanto uma iluminação parcial?! Entendeu?
O conceito sim, Depois que eu experimentar o que é iluminação, te direi o que é. – confesso o meu sarcasmo. – Mas se não podemos eliminar o ego, agora eu te pergunto: Porque todos teimam em pregar a anulação do ego?
Usou o verbo correto, anular. Tornar-se nulo ou sem efeito; provocar total destruição de; perder a identidade e; aquela de que mais gosto, obter vitória sobre. Nunca foi uma questão de extirpar, mas sim se converter o ego em algo novo, mudar a sua essência. A intenção de Buda, por exemplo, ao nos falar sobre o não-eu com o objetivo de eliminarmos o sofrimento e a impermanência já nos diz que o ego resiste, o que morre é a essência conflituosa que torna o ego como ele é, quero dizer, anular o ego é simplesmente tomar controle sobre ele. – se ele não encontrava palavras, por sua vez eu estava entendendo assim mesmo. – A fórmula padrão afirma que aquilo que é impermanente é dor ou sofrimento, e aquilo que é impermanente, sofrimento e sujeito à mudança não pode ser considerado como meu ou eu. Este é o princípio do não-eu.
Se o ego não é extinto, por que se fala em extinção?
Não há razões para se tentar extinguir uma inextinguível atividade do espírito. Assim como não se pode remover quaisquer dos atributos que determinam o que Deus é, ou que nós somos. Toda esta explicação sobre não-eu e anulação do ego só esta nos confundindo. Pense que, ao mudar o ego, de suas ações instintivas para conscientes, estaremos criando um ego invertido, um antiego.
Tive que me calar. – Um antiego seria?!
Um ego com atributos superiores, um não-eu, cuja função é eliminar sistematicamente o que torna o ego desprezível. Inclusive aquelas personalidades aparentemente saudáveis que, infelizmente, se baseiam em esquemas de submissão ao medo. Um antiego é um ego destituído de personalidades controladoras, tem uma visão de compaixão por saber que não há necessidade de julgamentos...
Porque somos todos um. Um antiego pode exercer plenamente o discernimento, mesmo sabendo que ele não fará uso dele. – não vejo razão para que alguém que se considerasse o todo, precisasse fazer distinção. – Então, porque o ego não é extinto?
Porque é o meio pelo qual interagimos e criamos este mundo. O ego constrói uma imagem deturpada porque ele interpreta o mundo conforme a sua reação aos estímulos externos, e temos que considerar a ideia coletiva perpetuada pelos homens. O antiego, um não-eu, desapegado das impressões oferecidas pelas ideias coletivas, se baseia na certeza máxima de que Deus é perfeição, todas as coisas levam a esta perfeição. Tudo aquilo que chamamos de mal passa inexoravelmente pelo crivo da bondade dEle. Não pense que o alvo final da jornada humana é a extinção do ego, mas sim a evolução do ego para parâmetros de autodomínio das atividades emocionais. Até podemos chamar de extinção do ego, mas sem algum resquício do que chamamos de ego, deixaremos de possuir individualidade.
...
sábado, 19 de janeiro de 2013
o fim justifica os meios
Soa estranho usar as palavras de Buda em um contexto, digamos, de dois mil e seiscentos anos para tentar dar uma explicação atual. De todas as parábolas que eu ouvi sobre os tais meios hábeis, duas se destacam: a da casa em chamas e da cidade fantasma. Meias verdades brandas que são usadas para encaminhar. Nos dias de hoje poderíamos considerar até uma blasfêmia dizer que os fins justificam os meios.
Tenho que fazer uma ressalva: o fim justifica os meios?!
Comumente escuta-se que o fim
justifica os meios numa alusão de que "certos" fins
podem, ou devem, ser alcançados através de métodos não convencionais, ou
antiéticos, ou violentos. Contudo no budismo este termo tem ares mais claros.
Esta me parece bem acertada, conforme esclarecido no texto do Budismo Essencial, A
Felicidade escrito pelo mestre Gyomay Kubose:
...o homem moderno pensa que o fim é mais importante que os meios. Alguém disse que duas ideologias modernas estão representadas por Stálin e Gandhi: o caminho de Gandhi é que os meios são tão importantes quanto o fim, enquanto, para Stálin, o fim é tão importante que justifica os meios. Os budistas aprendem que todos os passos e todos os meios são muito importantes. Cada meio é, em si, um fim. Para o artista, o músico e o escultor, o trabalho em si é prazer e felicidade...
Também pudera, ele considerava que o budismo deveria ser uma
experiência pessoal e não apenas o de ir a templos e recitar sutras. A
experiência deve vir de dentro, ou não há substância. Para efeito, Kubose
colocou Buda no mesmo nível de Sócrates, em que o budismo seria primeiro uma filosofia, e só
depois uma religião. E voltamos para Sócrates e o conhecer-se a si mesmo.
Fugi um pouco do tópico. Infelizmente é necessário
transformar ideias atemporais em posts lineares, o que me parecia mais fácil de
imaginar do que executar. Portanto eu terei que sumariamente me desviar dos
assuntos abordados para conseguir obedecer os meus objetivos. De que somos
bombardeados e influenciados por outras conexões que não sejam tão óbvias
assim.
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