sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

125 - como eu posso ajudar?

Realmente eu estou em um a situação, digamos, bizarra. Como ajudar? Pode parecer fácil, mas quando a gente não tem pleno conhecimento daquilo que está acontecendo, nem de como interferir sem parecer, no mínimo, arrogante ou dono da verdade, cometemos o erro de parecer ignorantes, idiotas.

Eu queria muito que este conselho, que estou arquitetando, me fosse dado uns 8 anos antes, mas eu entendo que na época não teria surtido efeito. Por quê? Porque existe uma causa por trás de todas as doenças. Causas estas que possibilitarão uma renovação e esta renovação obedece às escolhas de cada um. Portanto, oferecer os meus exemplos não são garantias de primazia ou maestria em suas escolhas. Você não come aquilo que não gosta só porque é caro, ou porque o obrigaram!

Se me tivessem dito que as doenças incuráveis – crônicas, mortais e debilitantes – tinham cura ou poderiam ser tratadas humanamente e em um tempo relativamente curto, sem passar anos sofrendo as consequências dos tratamentos agressivos, eu provavelmente mergulharia de cabeça. Porém, as regras do meu jogo exigiam ações diferentes, por isso eu entendo que, ao oferecer ajuda, pode acontecer exatamente o contrário. E resignar-se pode ser uma faca de dois gumes. [104MH1]

Efetivamente, se espera que todas as boas ações gerem bons resultados, mas nem sempre é assim. O papel mais importante no processo de cura é entender que é autocura e dependerá do quanto somos capazes de subjugar o sofrimento que é reflexo das ideias erradas que fazemos da doença e de todas as relações que nascem desta situação. Como você vê a doença, ela desperta dor e angústia ou força e perseverança? Quais são as respostas emocionais daqueles que te amam, daqueles que te conhecem, daqueles que te cercam? No fim, a doença se resume às nossas respostas emocionais.

Não vou negar que quando a doença cria impedimentos, ficamos nervosos e depressivos, como se alguém nos roubasse a liberdade. Maldizemos e barganhamos com Deus [053MH1 - 060713] como se o problema tivesse vida própria e fosse causado pela maldade dos outros, mas, na verdade, só estaríamos nos enganado e ao fazer isto, reforçamos a crença de que a doença pode nos controlar.

A causa das doenças está em nós mesmos, é uma reação do organismo aos pensamentos doentios de raiva, medo e demais sentimentos contrários ao amor. Mas não se preocupe, todos estamos iludidos por tais sentimentos: quando agimos com amor e este amor é apego, ou quando interferimos nas escolhas dos outros porque nos advogamos possuidores da verdade, ou etc. Esta intromissão nunca garantirá a plena solução do problema por uma simples razão: alguns problemas são soluções para determinadas – todas –  pessoas e, sem eles, não existiria a oportunidade de crescer.

Por isso que eu não faria diferente ao voltar atrás, todos os ganhos que obtive nasceram dos momentos de raiva, dor e sofrimento, mas geraram respostas que só consolidaram novos ideais e crenças, perseverança acima das expectativas criadas pelos medos. Enfim, saber que ninguém tem as respostas para todas as coisas, nem a ciência, nem a religião e a filosofia, mas que elas existem potencialmente dentro de cada um.

Então não recrie os medos e os alimente porque te disseram que a vida tem que ser assim, porque tudo que já foi dito tem que ser imutável, não jogue todas as suas cartas nas certezas que nos ensinam, Porque existem coisas que não nos foram ditas, lições que não conhecemos e que disseram que devíamos temer. Se as suas premissas [004MH3] se baseiam em dados científicos, eu pergunto, quais dados, pois existem dados que não são divulgados. Observe o que a nova biologia está nos dizendo e não crie expectativas de aversão pensando que ela, por ser contrária às experiências vigentes, não deva ser estudada. A nova biologia trata de novas pesquisas que tentam explicar as dúvidas que a biologia clássica não conseguiu, mas ao tratar tais anomalias conceituais, descobriu-se que as respostas já existiam 50 anos antes de Darwin determinar que a lei da sobrevivência fosse a bola da vez.
Construímos as nossas verdades a partir de informações falhas, Darwin o admitiu no fim da vida. [004/008/009/010/011MH2]. E que, o funcionamento biológico deveria ser compreendido por suas interações energéticas, vibracionais. Portanto, as terapias, ditas complementares e milenares, tem mais eficácia que as terapias tradicionais. E que o pensamento pode e causa as perturbações orgânicas, porém também faz oposto, pode propiciar a cura.





A doença surge porque queremos mudar alguns aspectos de nossas vidas que não temos coragem de impor com amor. Ela nos força a regredir a um estado de emoções primitivas que brotam de nós com ferocidade, obrigando-nos a perceber quais criaturas sombrias carregamos dentro de nossa mente. Obrigando-as a se mostrarem diante de nós, destruindo o ego, que não passa de um personagem que criamos para enfrentar os medos deste mundo que percebemos erroneamente. [004MH5]

Este choque com o ego deturpado e grotesco, formado pelos medos irracionais – as criaturas sombrias – nos obriga a rever conceitos que nos ensinaram, que foram ensinados pelos pais e pelos pais dos pais...

A doença nos força a encontrar quem somos, sobretudo os aspectos mais sublimes que eram ocultados pelo ego. Portanto a doença é força que destrói as ilusões [005MH5], mas se não quiser enfrentar este bom combate [010/011MH3], as suas opções criarão um estado mórbido e autoalimentado por culpas e ideias que são reflexos de suas crenças de que é incapaz de aprender com a oportunidade.

A doença se autoalimentará destes pensamentos de derrota e ampliará os sintomas. Não é ela quem causa os sintomas, é a nossa ideia de que ela é assim que nos prende a este círculo vicioso de autopunição. São os tipos de respostas que precisamos que nos prenderá em determinados níveis de sofrimento. Por isso eu não posso ajudar, porque não sei qual é o seu grau de imersão, que experiências deseja colher desta oportunidade, mas uma coisa eu posso ajudar, quaisquer que sejam as suas escolhas, elas sempre serão exatamente aquelas que você precisava. Toda a ação do mal passa pelo crivo da bondade de Deus.

sábado, 25 de janeiro de 2014

124 - Deus joga moedas.

 Um artifício que utilizo para decidir temas tão importantes quanto aos tratados nos últimos oito artigos, é usar a moeda. Nestas questões onde grandes massas se chocam, contra e a favor, enfrentando-se como ferozes inimigos, cada um defendendo as suas verdades elegidas, eu recorro à moeda que me falará, como um oráculo, quem está certo.
 
Não se assustem se estou confiando as minhas premissas, as minhas escolhas pessoais, à decisão de um lançamento de cara ou coroa. Qualquer uma das posições defendidas, seja a ideia inata de que nascemos com o destino traçado – em síntese –, ou aprendemos com a experiência, serão ideias parciais.

Jogar a moeda só determinará a qual grupo eu pertencerei e definirá as experiências desta vida. Mas se a moeda cair do avesso, todas as suas experiências serão diferentes. Sempre estamos decidindo os valores de nossas escolhas através da moeda. Não existem diferenças, senão aquelas que julgamos existir. A moeda é apenas uma distração para que acreditemos que estamos no controle da vida. A moeda brilha e ofusca para que não percebamos a nossa ignorância.

Qual ignorância?

De que a moeda tem os dois lados iguais. E decidir quais caminhos queremos percorrer só serve para nos iludir, pois qualquer escolha é uma escolha sensata. O problema está em supor que deveríamos seguir outro caminho porque “temos que ter o controle”, e sofremos enquanto não fizermos o que as escolhas querem.

É quase a mesma questão: Deus joga dados?

Quando vamos compreender que as escolhas, sejam antagônicas ou ligeiramente parecidas, são os dois lados de uma mesma moeda. Decidir por um lado é negligenciar o outro. E se quisermos ser felizes, precisaremos ser o todo, absorver os lados e entender que não existem diferenças, só opiniões, julgamentos e preconceitos que nascem parciais. De um dos lados.
Deus joga dados quando precisa nos ensinar que as partes, os lados, são meios. E também não arremessa os dados por uma questão bastante óbvia, Ele não joga dados. Isto é o ciclo da verdade, o ying e o yang e o carma. Enquanto precisarmos dos opostos para entender o todo, os dados cairão.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

123 - inato ou aprendido p2

A rejeição contemporânea da natureza humana tem a ver com o medo da desigualdade, do racismo, da guerra e da violência, visto que durante o século XX algumas explicações biológicas foram (mal) forjadas por pessoas para justificar ideias eugenistas e racistas.

Portanto, tais receios não são totalmente injustificáveis, visto que movimentos como o nazismo, por exemplo, ficaram conhecidos por fazer uso de explicações supostamente biológicas (como a noção de raça superior que deveria dominar), de uma forma totalmente deturpada para cometer atrocidades.

O problema é que estas preocupações que se pautam exageradamente no passado acabam ignorando a proposta atual da utilização de explicações biológicas, que é diferente da que foi feita, de forma distorcida e desonesta, no passado por certas figuras políticas.

A própria biologia se encarregou de demonstrar que somos todos primos, unidos pela mesma árvore da vida, sendo que diferenças superficiais como a cor da pele ou o formato dos olhos não podem dizer quais são os nossos potenciais nem as nossas características fundamentais, muito menos a nossa função social. Dois avanços importantes na teoria genética ajudaram a desmistificar o determinismo genético (Gould, 1991): a ideia de herança poligênica e a falta de diferenciação genética entre humanos. Essas duas ideias podem ser resumidas, respectivamente, da seguinte forma: as características humanas são o resultado da participação de vários genes juntamente com um “exército de efeitos interativos e ambientais” (Gould, 1991); as diferenças genéticas entre indivíduos das diversas raças humanas são extremamente pequenas, ou seja, não existem “genes raciais” que diferenciem uma raça da outra.

A antipatia à explicações biológicas, ironicamente uma “herança” do debate entre o que era inato ou aprendido, surgiu principalmente por conta de ideias como o darwinismo social, o determinismo genético e a frenologia (é uma teoria que reivindica ser capaz de determinar o caráter, características da personalidade, e grau de criminalidade pela forma da cabeça.)

O darwinismo social foi um pensamento desenvolvido inicialmente por Robert Spencer, que defendia a aplicação da ideia de “sobrevivência dos mais aptos” às instituições sociais (Otta e Yamamoto, 2009), justificando assim, de alguma forma, a desigualdade social como sendo um resultado natural do sucesso dos mais aptos. Esta concepção foi uma utilização distorcida e superficial da teoria da evolução de Darwin, mas que ganhou a simpatia de determinados setores da sociedade interessados em justificar a desigualdade e políticas preconceituosas como a eugenia e a higienização social.

A forma brutal como a natureza funciona não deve ser o modelo no qual devemos basear nossa sociedade, e a teoria da evolução de Darwin não propôs que devêssemos nos inspirar na natureza para construir uma sociedade. Argumentar que algo é bom porque é natural é uma falácia naturalista, visto que as questões factuais com as quais a teoria de Darwin lidava nada tinham a informar sobre questões morais nem poderiam provar a validade de qualquer julgamento de valor (Evans e Zarate, 1999).

O determinismo genético foi uma visão que muitos biólogos tiveram do papel dos genes nas características fenotípicas e no comportamento das pessoas, e que hoje em dia não encontra apoio na comunidade científica. Muitos etólogos e psicobiólogos acreditavam que os animais herdavam de seus ancestrais padrões fixos de resposta e que a hereditariedade seria a principal origem até mesmo de comportamentos mais complexos.

A briga entre etólogos e psicólogos behavioristas se amenizou quando ambos começaram a perceber que seus modelos eram corroborados por várias evidências, o que indicava que a suposta “oposição excludente” entre o aprendido e o genético não era tão verdadeira. Etólogos entenderam que comportamentos poderiam ser altamente flexíveis e modificáveis, ao passo que behavioristas passaram a compreender que existem predisposições em muitos organismos para associar determinados estímulos, além de existirem fortes restrições biológicas aos estímulos que podem ser condicionados.

Como os exemplos citados no início da Parte 1 deixam claro, atualmente os biólogos não estão propondo que genes determinam o destino das pessoas, tamanha é a influência do ambiente e da nossa capacidade de adaptação. Diferentes características terão diferentes influências genéticas, e uma grande parte das características humanas poderá se expressar de diferentes formas a depender do seu ambiente.

O campo de estudo da epigenética, por exemplo, vem se consolidando como importante avanço na biologia molecular ao investigar como padrões de expressão genética de um indivíduo podem ser modificados pelo ambiente e transmitidos para seus descendentes. Esse campo de pesquisa evidencia que os biólogos tem investigado seriamente os efeitos do ambiente de desenvolvimento dos organismos e que, portanto, o determinismo genético é uma visão ingênua, antiga, insuficiente e desatualizada do entendimento biológico humano.
A frenologia foi apropriada pelo senso comum para classificar as pessoas em violentas e bondosas, de acordo com protuberâncias no crânio. Nessa época, muitos estudiosos foram contra a ideia porque era bem exótico pensar que um tecido gelatinoso como o cérebro exercesse pressão suficiente contra o crânio ao ponto de formar elevações. Mas como a ideia da frenologia encontrou um solo fértil, ela fez mais sucesso. Outro exemplo é “a anatomia de um assassino”, criada pelo italiano Cesare Lombroso.

Essas e outras ideias hoje não possuem mais aceitação na comunidade científica, mas ainda assim as ciências humanas guardaram um profundo rancor de tudo que tem biologia no nome ou está associado à ela. Isso as impede de reconhecer as conclusões tiradas de pesquisas biológicas, se esquecendo de que o homem também possui uma biologia, e não só uma história. É preciso reconhecer as dimensões de atuação orgânica. Uma das linhas de pesquisa mais emblemáticas desse caso é a que estuda os gêmeos.

Uma série de estudos indica que gêmeos idênticos criados separadamente são muito parecidos, gêmeos idênticos criados juntos são mais parecidos do que gêmeos fraternos criados juntos e irmãos biológico são mais parecidos do que irmãos adotivos (Bouchard, 1994, 1998; Bouchard e McGue, 1990; Lykken et al., 1992; Plomin, 1990; Plomin, Owen e McGuffin, 1994; Strmswold, 1998, 2001). Por outro lado, a relação entre o QI e a personalidade de adultos que quando pequenos foram criados juntos como irmãos adotivos é insignificante (Plomin, 1990).

Uma pesquisa curiosa sobre o assunto mostra que se você tem um irmão gêmeo idêntico que se divorciou, você possui 18 vezes mais chance de se divorciar também. Já no caso de irmãos fraternos, a probabilidade cai para 2 vezes somente (MgGue e Lykken, 1992). Esse é um exemplo claro de como a genética possui correlação com o comportamento. Mas isso não significa que haja uma correlação causal com o ato do divórcio. Não existe um gene do divórcio, mas existem certos fatores influenciados pela genética que se correlacionam com a possibilidade maior ou menor de alguém ser apto a uma vida a dois. Alguns desses fatores é o temperamento, a agressividade e a sede por dominância. Esse tipo de relação é chamada de covariação-gene-ambiente.

Não precisamos temer um surto psicótico mundial ou a ascensão de um novo regime ditatorial e racista só por reconhecer que como espécie, as pessoas compartilham uma natureza. Aceitarmos que o comportamento violento, por exemplo, não é apenas uma criação histórica, poderia nos ajudar a compreender de forma mais completa este comportamento e, consequentemente, poderia resultar em meios mais eficazes de reduzir o comportamento violento. O mesmo aconteceria com certas injustiças sociais, como a humilhação que certos grupos, etnias e raças sofrem (como a exploração de mão-de-obra infantil, tratamento humilhante sofrido contra as mulheres em países machistas como o Irã; a mutilação de órgãos sexuais em rituais religiosos).

Supor que o ser humano é uma tábula rasa pode incentivar ou ignorar atitudes como a tolerância ao tratamento miserável que é dado à mulher em certos países, mutilações e comportamentos em geral que infringem dor às pessoas. O argumento de que temos que respeitar culturas diferentes, pois cada uma é singular, acaba a partir do momento em que o sofrimento é causado, visto que dor não é apenas uma criação cultural. Afinal, não importa a cultura, ninguém gostará de ser ferido nem menosprezado de forma cruel, por mais que aprenda a se submeter e não questionar os sofrimentos aos quais é imposto.

Podemos concluir o entendimento que surgiu do debate entre inato e aprendido da seguinte forma: as bases genéticas dos comportamentos e o ambiente onde o organismo vive fazem parte de um único processo, o desenvolvimento. Portanto, aspectos biológicos e de aprendizagem do comportamento não são de forma alguma excludentes ou suficientes cada um em si, mas sim duas dimensões totalmente interligadas do processo de desenvolvimento de um organismo.

Referências:
Bouchard, T. (1994). Genes, environment, and personality. Science, 264 (5166), 1700-1701 DOI: 10.1126/science.8209250
Bouchard TJ Jr (1998). Genetic and environmental influences on adult intelligence and special mental abilities. Human biology, 70 (2), 257-79 PMID: 9549239
Bouchard, T., & McGue, M. (1990). Genetic and Rearing Environmental Influences on Adult Personality: An Analysis of Adopted Twins Reared Apart. Journal of Personality, 58 (1), 263-292 DOI: 10.1111/j.1467-6494.1990.tb00916.x
Evans, D., & Zarate, O. (1999). Introducing evolutionary psychology. Cambridge, United Kingdom: Icon Books.
Gould, S. J. (1991). A falsa medida do homem. São Paulo, Martins Fontes.
Lykken, D., McGue, M., Tellegen, A., & Bouchard, T. (1992). Emergenesis: Genetic traits that may not run in families. American Psychologist, 47 (12), 1565-1577 DOI: 10.1037//0003-066X.47.12.1565
McGue, M., & Lykken, D. (1992). Genetic influence on risk of divorce. Psychological Science, 3 (6), 368-373 DOI: 10.1111/j.1467-9280.1992.tb00049.x
Otta, E. & Yamamoto, M. E. (2009). Psicologia Evolucionista. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
Plomin, R. (1990). The role of enhiritance in behavior. Science, 248, pp. 183-248.
Plomin, R. (1995). Nature and nurture an introduction to human behavioral genetics. The Japanese Journal of Human Genetics, 40 (1), 153-154 DOI: 10.1007/BF01874080
Plomin, R. & Bergeman, C. (1991). The nature of nurture: Genetic influence on enviromental measures. Behavioral  and Brain Sciences 14, 373-427.
Plomin, R. & McClearn, G.E. (1993). Nature, Nurture and Psychology. Washington: American Psychological Association.
Plomin, R., Owen, M., & McGuffin, P. (1994). The genetic basis of complex human behaviors Science, 264 (5166), 1733-1739 DOI: 10.1126/science.8209254
Rachels, J. (1991). Created from animals: The moral implications of Darwinism. New York: Oxford University Press.
Stromswold, K. (1998). Genetics of Spoken language disorders. Human Biology, 70, pp. 297-324.
Stromswold, K. (2001). The Heritability of Language: A Review and Metaanalysis of Twin, Adoption, and Linkage Studies. Language, 77 (4), 647-723 DOI: 10.1353/lan.2001.0247

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

122 - inato ou aprendido

André Rabelo e Felipe Novaes
Texto também publicado no Blog NERDWORKING e http://scienceblogs.com.br/socialmente/2011/04/inato-x-aprendido-parte-1/

Desde a Grécia antiga até os dias de hoje, uma ideia tem tido grande influência na discussão acerca da natureza humana – a dicotomia entre comportamentos inatos e aprendidos ou explicações biológicas e culturais do comportamento, o que ficou conhecido com o debate nature or nurture, natureza ou criação, inato ou aprendido.

Este debate acalorado teve seu auge na metade do século passado e seu período mais crítico durou cerca de 20 anos, apesar de muitos ambientes acadêmicos ainda enfrentarem este fantasma, fruto de uma antiga disputa que misturou posições ideológicas e políticas com científicas.

De um lado, sociobiólogos e etólogos afirmavam que grande parte dos comportamentos eram inatos; do outro, pesquisadores das ciências sociais e psicólogos behavioristas defendiam que a maior parte dos comportamentos (ou todos) eram aprendidos.

Geralmente, as ciências humanas, sociais e comportamentais adotavam, e ainda adotam em muitos círculos acadêmicos, uma ideia próxima da tabula rasa, conceito criado por John Locke, que afirma que o ser humano nasce como uma folha de papel em branco a ser preenchida pelas experiências. Essa ideia já deveria ter sido revisada desde que, nos últimos anos, repetidas evidências tem apontado diversos aspectos do ser humano como tendo fortes bases biológicas.

A dicotomia entre inato e aprendido foi sendo vagarosamente substituída por uma visão interacionista entre ambos – depois de perceberem que além do preto e do branco pode existir o cinza também, os estudiosos do ser humano puderam avançar consideravelmente no entendimento de como predisposições biológicas influenciam o comportamento humano e como o ambiente pode afetar a expressão de características genéticas, além de quando essa expressão poderá ocorrer (Dovidio et al., 2006).

Um dos autores do presente texto já descreveu em textos anteriores algumas evidências empíricas corroborando a ideia de que os seres humanos possuem determinadas tendências humanas inatas. Além disso, Dovidio dá dois exemplos para ilustrar a relação entre predisposições e o ambiente de um organismo: psicólogos do desenvolvimento conhecem, já há algum tempo, as diferenças individuais no temperamento de bebês (e.g. mais chorões ou calmos) desde o momento em que nasceram praticamente; também sabe-se hoje que determinados genes vinculados diretamente à atividade cerebral e à certos processos fisiológicos são ativados ou desativados por eventos ambientais.

Um outro exemplo é a linha de pesquisa sobre emoções humanas e suas expressões faciais desenvolvida pelo psicólogo Paul Ekman, que, inspirado nos estudos iniciais de Charles Darwin acerca da expressão de emoções em animais e em seres humanos, encontrou em seus estudos de povos primitivos que a expressão das emoções básicas (raiva, alegria, tristeza, desprezo, medo, surpresa e nojo) são praticamente as mesmas na espécie humana (Ekman, Sorenson e Friesen, 1969; Ekman, 2003), ainda que culturas diferentes possam dar nomes diferentes e acrescentar à sua expressão pequenas sutilezas; o que Ekman chama de emblemas e ilustradores. Todavia, ainda hoje muitos cientistas da área de humanas rejeitam essas pesquisas e chamam Ekman de preconceituoso e racista.

Apesar de esses esclarecimentos terem sido absorvidos por alguma parte da comunidade científica, a negação da natureza humana ainda é algo comum em muitas universidades no mundo, como o psicólogo Steven Pinker ilustra e explora em um de seus livros, Tábula Rasa: A Negação Contemporânea da Natureza Humana. Conforme Pinker (2004):

O tabu da natureza humana não só põe lentes nos pesquisadores, mas também faz de qualquer discussão sobre o tema uma heresia que precisa ser aniquilada. Muitos autores, de tão desesperados para desabonar toda insinuação de uma constituição humana inata, jogam a lógica e a civilidade pela janela. Distinções elementares – entre “alguns” e “todos”, “provável” e “sempre”, “é” e “tem de ser” – são sofregamente menosprezadas a fim de que a natureza humana seja pintada como uma doutrina extremista e, com isso, os leitores sejam conduzidos para longe dela.

A análise de ideias é comumente substituída por difamações políticas e pessoais. Esse envenenamento da atmosfera intelectual privou-nos dos instrumentos para analisar questões prementes sobre a natureza humana, justamente quando novas descobertas científicas as tornam críticas.

Antropólogos, sociólogos, cientistas políticos, psicólogos e psicanalistas se figuram como os mais ardentes negadores de explicações biológicas acerca do comportamento humano. Para muitos deles, o comportamento pode ter uma base inata, mas o processo de aprendizagem é muito mais importante na hora de explicar o comportamento das pessoas. Também existem concepções mais radicais do ser humano beirando um reducionismo cultural: tudo que o ser humano faz é determinado por sua aprendizagem cultural, as culturas variam de forma quase infinita, caótica e  de acordo com nenhum padrão, sendo que até mesmo urinar ou defecar são apenas práticas culturalmente aprendidas.


Antes mesmo da presença marcante das ciências naturais no debate, como a genética comportamental e a neurociência, esse aspecto já havia sido explorado de alguma forma pelo psicólogo e médico suíço Carl Jung, por exemplo. Ele percebeu que existem diversos símbolos e conceitos de mitologias de povos diferentes, mas que são muito semelhantes. De fato, vemos certas estruturas presentes largamente por aí, tal como o arquétipo do herói, por exemplo, que rege a jornada de heróis como Jesus, Buda, Hércules, Ulisses e outros heróis mitológicos, independente de haver fundo histórico em suas narrativas.

Hoje em dia compreende-se que a pergunta “é inato ou aprendido” é, além de mal formulada, inútil e retrógrada, pois se baseia numa suposta oposição excludente entre o que é inato ou aprendido, quando de fato os dois conceitos não são opostos, e muito menos excludentes.

Toda essa resistência em considerar as evidências não resultou de pesquisas sistematicamente conduzidas que chegaram à outras conclusões, mas principalmente de ideologias que pretendem fundar e modificar a história humana, selecionando as conclusões “politicamente corretas” às quais os cientistas podem chegar. Algo como “vocês cientistas não devem chegar à essas conclusões, olhem o que poderão estar estimulando”.
Existe nesse pensamento uma noção muito desinformada do que é a pesquisa científica: cientistas fazem pesquisas onde, através de um teste bem elaborado, podem obter mais de um resultado, que acabe corroborando ou não suas hipóteses. Porém, o resultado que será obtido no teste deve estar fora do seu controle de manipulação, portanto não faz parte da pesquisa científica escolher o resultado de algo.

[continua…]


Referências:
Dovidio et al. (2006). The social psychology of prosocial behavior. New York: Lawrence Earlbaum.
Ekman, P. (2003). Emotions revealed: Recognizing faces and feelings to improve communication and emotional life. New York: Times Books.
Ekman P, Sorenson ER, & Friesen WV (1969). Pan-cultural elements in facial displays of emotion. Science (New York, N.Y.), 164 (3875), 86-8 PMID: 5773719
Pinker, S. (2004). Tábula Rasa: A Negação Contemporânea da Natureza Humana. São Paulo: Companhia das Letras.

domingo, 19 de janeiro de 2014

121 - significados ou preconceitos

Todo preconceito surge da nossa incapacidade de lidar com o que acreditamos. Talvez as crenças tenham sido mais prejudiciais do que gostaríamos de admitir. E em algum momento começamos a estabelecer regras que nos definem, quase todas nos foram impostas pelo meio e pelas pessoas que se tornaram – bons ou maus – exemplos. 

Acolher tais escolhas não é o mesmo que sanar todas as deficiências de caráter, mesmo que seja uma catarse – em essência, purificação do espírito através da purgação de suas paixões –, tendemos a justificar o erros camuflando-os como lições. Acolhemos as justificativas e transformemo-las em máximas de nossa esperteza e evolução, quando o ato de admitir é somente o primeiro passo. As justificativas são pontes, mas é a reflexão dos atos que ditam a sua percepção e a correção das regras – ou crenças.

É indiscutível este debate, somos o quê nos informaram e ensinaram, não tinha como ser diferente. E são estas diferentes “crenças” que geram os preconceitos. A sua razão esbarra com a de outras pessoas e, indiscutivelmente, tem que se defender.

Um padrão de regras que chamamos de crenças dependerá do contexto em que elas foram criadas, mantidas e repassadas. As impressões tendem a sofrer mutações de acordo com as mudanças comportamentais. Um conceito cultural apresentado em outras décadas tende a ser menos – ou mais – tolerante nos dias de hoje. Esta mudança é uma tentativa de eliminar conflitos e depende, em grande parte, do modo como as “crenças” são incorporadas e compreendidas pelas novas gerações.

O preconceito é um modo de dizer que o quê você pensa e vive é diferente do que outros acreditam. Nem certo ou errado, diferenças conceituais que passam ao status de verdade absoluta até que sejam derrubadas...

O modo como a mente processa a informação, as diferenças culturais, sociais, econômicas, sexuais, etc. não deveriam ser incompreendidas. Este medo de recuar ou, pelo menos, de tentar aceitar as diferenças – que não são suas, mas das informações que foram passadas a você – impede que se estabeleça a razão.


Uma das importantes funções da mente consiste em dar significado a um objeto de reconhecimento e fazer avaliação. Na maioria das vezes, apreendemos esse significado através dos sentidos, pela forma que tem o objeto reconhecido, pelo sentimento que desperta em nós, ou pelo som, ou cheiro etc. [...] O exemplo muito usado relacionado a isso é o "copo com água pela metade". A avaliação que as pessoas fazem quando olham para esse copo difere de acordo com a situação de cada uma delas. Quem está sentindo muita sede o avaliará positivamente, ao passo que alguém que caiu no rio e bebeu muita água poderá olhar para o copo achando que ele contém muita água, e o reconhecer como algo negativo. E certamente uma pessoa que não bebeu muita água nem está com sede não irá avaliar positiva nem negativamente esse meio copo de água. Observando tal reação da nossa mente, podemos dizer que ela, em linhas gerais, vê as coisas de modo dual, com duas faces diferentes. Uma face segundo o significado; e a outra, conforme a sensibilidade. 

Por exemplo, olhando agora pela janela do meu gabinete de trabalho, vejo elevando-se imponente, no terreno contíguo, em obra, uma máquina longa, de cor dourada, própria para escavações. Olhando para ela, pode haver pessoas que imprimam no cérebro o significado "É uma máquina de construção que enfeia a paisagem", e outras que, achando que sua cor e forma se parecem com um atirador de borracha criado pelas próprias mãos na infância, pensem "É um atirador gigante de borracha levantado para o céu". Podemos dizer que o primeiro caso é o modo de ver que prioriza o significado; e o segundo, o modo de ver que prioriza a sensibilidade. É licito supor que vemos dos dois modos, dependendo da situação ou do nosso estado de espirito no momento. No caso do modo de viver que prioriza o significado, temos a tendência para considerar o que se apresenta à nossa frente, relacionando-o com o objetivo de nosso interesse no momento.

[...] Ainda que existam aqui dezenas de milhares de cores, é possível que estejamos vendo um mundo em que nossa mente as reduziu a apenas três: branco (bem), preto (mal) e cinza (não me diz respeito). Quem vive numa metrópole inevitavelmente tende a ter visão que prioriza o significado. Por isso, ao mudar o nosso modo de ver para aquele que prioriza a sensibilidade, abre-se a possibilidade de surgir repentinamente, das fendas do significado monótono e sem colorido, algo maravilhoso que normalmente não enxergávamos ou não ouvíamos.

O princípio do Relógio de Sol, Masanobu Taniguchi.


Assim sendo, os sentidos e significados ainda encontram diferenças na forma de se expressar: a linguagem. Que imprime uma imagem que dependerá do ponto de vista do observador. Uma palavra que seja compreendida de modo diferente entre duas pessoas se deve ao significado que cada um tenha construído sobre ela. Pode ser um processo “local”, mas tem influencia direta das regras de uma sociedade ou nação, da religião, cultura e outras.


Palavras podem nos colocar em estados positivos ou negativos; são âncoras para uma série complexa de experiências. Portanto, a única resposta à pergunta "O que significa realmente uma palavra?" é "Para quem?" A linguagem é um instrumento de comunicação, e, portanto as palavras significam aquilo que as pessoas convencionam que elas signifiquem.

[...] As palavras não têm um sentido inerente, como fica claro quando ouvimos uma língua estrangeira que não compreendemos. Damos sentido às palavras por meio de associações ancoradas a objetos e experiências no decorrer da nossa existência. Nem todas as pessoas veem os mesmos objetos ou têm as mesmas experiências. O fato de outras pessoas terem mapas e significados diferentes é que dá riqueza e variedade à vida. Todos concordamos com o significado da palavra "pudim" porque todos já compartilhamos a visão, o cheiro e o paladar do pudim. Mas discutiremos bastante a respeito do significado de algumas palavras abstratas, tais como "respeito", "amor" e "política". As possibilidades de confusão são imensas. 

Como sabemos que compreendemos outra pessoa? Quando damos significado às palavras que ela usa — nosso significado, não o significado dela. E não há garantia de que esses dois significados sejam iguais. Como damos sentido às palavras que ouvimos? Como escolhemos palavras para nos expressar? E como as palavras estruturam nossas experiências?

Introdução à programação Neurolinguística, Joseph O’Connor.


BONDADE

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.

A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta.

Nelson Mandela

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

120 - FAZ UM ANO...

Faz um ano que eu comecei este blog, com qual objetivo? De escrever o que eu estava começando a entender. Sobre o quê? A princípio, sobre todas as coisas.

Não pensem que eu esteja me vangloriando de uma condição superior – que eu acredito que não existe em mim, nem nos outros. Calma, não estou subestimando os seus conhecimentos, na verdade, eu estou profundamente grato por repartirem comigo as suas experiências. Os seus problemas e suas soluções, sejam doenças, conflitos ou simplesmente um momento de desabafo, são sinais de que existem pessoas de carne e osso atrás destes números que crescem.

Eu os observo, aqueles que curtem, aqueles que compartilham, os seus grupos e as suas afinidades, aqueles que reclamam porque sofrem e daqueles que simplesmente agradecem.
Somos como elos de uma corrente de pensamentos afins que se conectam sem percebermos o seu alcance. Se eu me propus a partilhar estes meios – hábeis – para que possamos eleger o melhor recurso, não é porque alguns esbarram em nossas ideias e crenças que não podemos admitir que eles existem por um único desígnio: oferecer nos uma alternativa para findar com o sofrimento.

Pessoas poderão se beneficiar de alguns meios, mas nem todos servirão aos seus propósitos. O objetivo é perceber quais lições nos são proporcionadas. Só comecei a compreender estas palavras quando ouvi esta frase:

“É tolice e desnecessário a uma pessoa continuar sofrendo simplesmente porque não alcançou a iluminação, quando esperava alcançá-la. Não há insucesso na iluminação, portanto a falha reside nas pessoas que, durante muito tempo, procuraram a iluminação em suas mentes discriminadoras, não compreendendo que estas não são as verdadeiras mentes, e sim, falsas e corrompidas, causadas pelo acúmulo de avidez e ilusões toldando e ocultando as suas verdadeiras mentes. Se este acúmulo de falsas divagações for eliminado, a iluminação aparecerá. Mas, fato estranho, quando os homens atingirem a iluminação, verificarão que, sem as falsas divagações, não poderá haver iluminação”.

E Buda também me presenteou com:Um Buda é aquele que compreendeu a Lei insondável e nunca antes revelada, pregando-a de acordo com a capacidade das pessoas, ainda que seja difícil compreender a sua intenção. Sharihotsu, desde que atingi a iluminação tenho exposto meus ensinos utilizando várias histórias sobre relações causais, parábolas e inúmeros meios hábeis para conduzir as pessoas e fazer com que renunciem aos seus apegos a desejos mundanos. Qual a razão disso? A razão está no fato de o Buda ser plenamente dotado dos meios e das perfeições de certas práticas da sabedoria”.


Observo de onde todos são, do que gostam, as suas famílias, enfim, do que realmente somos feitos. Somos além de religiões, ou pelo menos das crenças, de limitações que não conseguimos romper e procuramos por respostas.

Se eu atendi às suas, foi porque também são as minhas.

No início eu desejava ensinar e descobri que mais aprendi. Escutei conselhos que nasceram de meus dedos ou de “oráculos” que permeiam todos os acontecimentos da minha vida. Aprendi a valorizar o inesperado e a desprezar as expectativas e seus medos. Aprendi, também, que mais pessoas compartilham de minhas ideias. Bem, nem sempre são somente minhas.

Obrigado por existirem, Mateus Göettees

sábado, 11 de janeiro de 2014

119 - tabula sapiens

Quanto mais cedo você compreender que ninguém, além de você próprio, pode lhe oferecer o que deseja, mais depressa a sua vida irá melhorar. Mesmo que você mude de lugar, se não mudar a atitude mental não conseguirá substituir os aborrecimentos por satisfações. Livro: Comande Sua Vida Com o Poder da Mente 15ª edição Vol. 10, pág. 186 - Masaharu Taniguchi

Parece inconsistente que eu diga que o melhor jeito de se extinguir o rancor, a raiva ou o ódio, seja através de uma força de vontade em se colocar na vida do outro. O outro que admitimos – veladamente – odiar, apesar de ser uma impressão mal resolvida em nós. Ou seja, o ego.

Pôr-se nesta situação desagradável não é simplesmente encenar tais jogos emocionais com o intuito de extinguir a animosidade, ou pelo menos, compreender as ações que tanto nos incomodam. Nem identificar aqueles defeitos “nossos” refletidos no outro, que devem ser quase impossíveis de admitir.

Na realidade, pôr-se no personagem não é mimicar – fazer mímicas – os atos burlescos que observamos na sociedade, mas sim de compreender, de uma vez por todas, que se tivéssemos passado por todas as situações e vivências, expressaríamos nossas ações e respostas conforme o outro nos mostra. O real objetivo de se vestir o personagem que transgredimos com o nosso julgamento é de entender que estas experiências – mesmo que criem sofrimento ou se choque com as nossas crenças – são ações válidas. Que obedecem às necessidades do espírito que depende e conta com tais conflitos para encontrar felicidade e harmonia.

Ao aceitarmos que o outro sofre por encontrar sua felicidade, conforme as suas crenças, e desta forma burilando o seu caráter, a raiva cessa e uma sensação de gratidão nos absorve como se estivesse nos falando: Agora eu te compreendo. Obrigado por me ensinar a viver.

Porque também destruímos as nossas ilusões de que poderíamos interceder com conselhos que criamos pelo nosso julgamento, como se fossemos capazes de solucionar um problema baseando-se tão somente nas nossas experiências. Se sofrermos por saber as respostas, acalmem-se, não sabemos. Se neste conflito a nossa participação é desnecessária até que seja solicitada. Mas que pode escolher está além da nossa compreensão.

Uma porta se fecha e Deus nos abre uma janela? Impossível, as portas e janelas jamais se fecham, nós é que nos iludimos com ideias de autopunição, por uma culpa que talvez jamais tenha existido. E ao aceitar que o outro aprenda com os seus erros estaremos garantindo que ele permaneça no caminho da felicidade, indiferente de se as nossas ideias forem contrárias ou não.

 Para que o ser humano possa compreender o significado da sua existência neste mundo e sentir a alegria de viver, é imprescindível conscientizar a presença de Deus em seu interior e compreender que Ele é a fonte de todas as glórias.  Livro: Abrindo o Canal da Provisão Infinita Vol. 8, p. 116 – Masaharu Taniguchi



A Arte de Entender o OUTRO.


Apesar do dicionário nos fornecer a teoria, reconhecemos que a prática é difícil. Julgamos as pessoas sob a nossa ótica e assim, fica difícil entender exatamente o que se passa pela cabeça dela.

É difícil as vezes entender que as pessoas tem um ponto de vista diferente porque enxergam a vida por outro ângulo. É como ir ao teatro: quem senta no camarote tem uma visão diferente de quem sentou na plateia, ou no canto. Mas todos estão vendo o mesmo espetáculo. Naturalmente, quem senta perto da aparelhagem de som, tem uma audição melhor do que quem sentou distante.


Assim é tudo na vida. Muitas vezes queremos que as pessoas entendam nossos pontos de vistas, mas pra que formem uma opinião sobre algo é necessário que consultem seus arquivos internos, onde estão armazenadas suas experiências e suas conclusões, que são em alguns casos, bem diferentes das nossas.

Porém, quando um amigo não nos entende, não quer dizer que nos quer mal; as vezes ele quer, erroneamente, nos conduzir pela trilha que acha certa, sob a ótica dele. E discute conosco, porque teme que nossas decisões.

Em outros casos somos nós que não entendemos o que a pessoa quis dizer com determinado posicionamento; ficamos esperando que ajam da forma que estamos acostumados a agir, esquecemos que elas tem outra história de vida e outra forma de pensar, e que ela vai reagir diferente de nós em várias situações.

Entender é uma arte.

Entender é deixar a pessoa livre para agir da forma que quiser, sem imposições absurdas da nossa parte.

Naturalmente, ENTENDER não quer dizer CONCORDAR. Podemos perfeitamente entender a atitude de uma pessoa que se embebeda até cair pra esquecer suas mágoas, mas nem sempre podemos concordar com isso.

Para entender as pessoas, basta que tenhamos em mente que ela é um ser único que vai agir de acordo com os impulsos dela, por mais que isso contrarie nossa maneira de enxergar as circunstâncias.

Devemos estar sempre abertos ao entendimento mútuo, para que a jornada da vida se torne mais leve para todos, especialmente PARA NÓS.

Pense nisso.

Texto por Maris. http://semeadordeluz.blogspot.com.br/2012/02/arte-de-entender-o-outro.html

118 - tabula não tão rasa assim

tabula rasa é um conceito criado por John Locke, que afirma que o ser humano nasce como uma folha de papel em branco a ser preenchida pelas experiências. Este papel nunca é inteiramente em branco, mas também não é o que supomos ser destino.

Quer dizer que uma alma escolhe antecipadamente o tipo de vida que terá?


Não, isso iria contra o objetivo do encontro, que é criar a sua experiência – e, portanto, o seu eu – no glorioso momento atual. Por esse motivo você não escolhe antecipadamente a vida que terá.

Imagina que a alma humana enfrenta os desafios da vida por acaso? – Quer dizer que a alma escolhe que tipo de vida terá? – Não. Mas pode escolher as pessoas, os lugares e os eventos, as condições e circunstâncias, os desafios e os obstáculos, as oportunidades e opções para criar a sua experiência. 

Conversando com Deus. Neale D. Walsch.



Por outro lado criamos personalidades peculiares para tratarmos de todos os acontecimentos da vida e os chamamos de ego. As construções do ego surgem para nos auxiliar no processo de interação com o meio ao qual estamos inseridos e é predominantemente intuitivo, pois estas construções costumam se agregar com as experiências passadas – que percebemos subjetivamente – e com os exemplos “compreendidos” no presente. 

Estes raciocínios geram respostas automáticas e ficam armazenadas no subconsciente. Porém são imperfeitas, pois consideram respostas que na maioria das vezes adquirimos em situações anormais ou destituídas de lógica. Impressões que acabam ditando o nosso comportamento. Uma percepção apreendida na meninice pode se transformar em um mandamento interior que se fixa no subconsciente e dita suas respostas enquanto não reescrevermos esta lei. Se ela for falha, todas as respostas que se baseiam nesta lei entrarão em conflito com quaisquer novas percepções conscientes.

Devemos constantemente rever nossas leis para que o presente e o futuro se concretizem sem tais obstáculos. Esta é a proposta da meditação, rever e reescrever as leis que ficam armazenadas no subconsciente e que nos impedem de virar o jogo. Este é o objetivo primordial do jogo, tomar as rédeas de sua vida, removendo leis retrógradas e seculares que ferem e fazem sofrer, pensar com discernimento e por em prática novas ações. Consequentemente existem ferramentas hábeis que podem nos ajudar dependendo de como precisamos nos comportar diante dos “problemas ou obstáculos”

Penso que deparei com a resposta para a questão tratada no post [117MH1 – tabula rasa], sobre como enfrentar aquilo que nos incomoda, provocando tamanha aversão que nossa primeira reação é evitar, fugir ou fingir. Ver nossas deficiências espelhadas é só um gatilho para a mudança, mas como eu posso reverter este quadro? Como deixar de odiar?

A questão não é tentar “consertar” o problema dirigindo os nossos esforços no outro, mas sim em nós mesmos. Quando mudamos, todos ao nosso redor se transformam, em sintonia com a nova vibração mental. Aqueles que não mudam acabam se afastando e naturalmente outras pessoas que se sintonizem com esta vibração se aproximarão. Lei do semelhante atrai semelhante. Até mesmo as situações divergentes a esta vibração desaparecerão e, se novos pensamentos forem condizentes com seus anseios, novas situações surgirão.

Contudo esta atitude em si não aplaca o ódio, o rancor e a mágoa que endereçamos. Esta catarse só terá efeito se conseguirmos compreender e nos colocar no lugar do outro. Se você estivesse na mesma posição que o outro está, reagiria diferente? A maioria tende a responder sim, mas a verdade é que se estivéssemos na mesma situação, seríamos a mesma pessoa que criticamos e responderíamos ao problema da mesma forma, independentemente de qualquer justificativa. A pessoa que esta passando por aquele problema está ciente de suas escolhas e reconhece o seu potencial – mesmo limitando-o – de que a “circunstância” é absolutamente propícia e criada para um propósito.

Não é ela quem está errada, mas é você que não percebe os intrincados mecanismos da providência divina. Que chamamos de Deus e está dentro de cada um de nós como um farol a direcionar os nossos sonhos. Que não percebemos claramente e por isso declaramos guerra contra os acontecimentos e criamos o sofrimento que nada mais é que nadar contra a corrente.

Observe o querelante – apesar de que nós deveríamos ser chamados assim – e compreenda o meio como ele foi criado, a história familiar que tem grande influencia na determinação de seus costumes e crenças. Suas reações são ditadas por quais leis mentais? Não faça de suas crenças o modelo de perfeição que deveria ser estendido a todos, não controle nem se julgue capaz de interferir. Simplesmente observe. [MH5 – Eu te compreendo]

Joanna de Angelis comenta o caráter do ego que nos controla o julgamento e nos obriga a reagir egoisticamente contra: A sombra que resultas dos fenômenos egoicos, havendo acumulado interesses inferiores que procura escamotear, ocultando-os no inconsciente, é a grande adversária do sentimento de gratulação. Na sua ânsia de aparentar aquilo que não conquistou, impedida pelos hábitos enfermiços, projeta os conflitos nas demais pessoas, sem a lucidez necessária para confiar e servir. Servindo-se dos outros, assim fazem todos os demais, competindo-lhe fruir o melhor quinhão, ante a impossibilidade de alargar a generosidade, que lhe facultaria o amadurecimento psicológico para a saudável convivência social, para o desenvolvimento interior dos valores nobres do amor e da solidariedade.

[...]

A sombra sempre trabalha para o ego, com raras exceções, quando se vincula ao self, evitando toda e qualquer possibilidade de comunhão fora do seu círculo estreito de caráter autopunitivo, porque se compraz em manter a sua vitima em culpa contínua, que busca ocultar, mantendo, no seu recesso, uma necessidade autodestrutiva, porque incapaz de enfrentar-se e solucionar os seus mascarados enigmas.

Psicologia da Gratidão, Divaldo Franco.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

117 - tabula rasa

Sempre pensei que estava no controle – parcial e limitado – da minha vida. Talvez um bom observador, daqueles que poderiam ser orgulhar de admirar as pequenas idiossincrasias humanas tão comuns que não nos preocupamos mais com o quê os sentimentos deveriam ser. Mesmo porque os sentimentos se transformaram em moeda de troca de um jogo emocional.

Não estou preparado para jogar este jogo absurdo, também acredito que você não esteja “querendo” participar, porém acabamos nos inscrevendo e, para não parecermos deslocado em meio a este caos, recriamos as mesmas respostas. Respostas de inconformismo, de ódio, de resignação forçada, de arrogância ou soberba, de antipatia ou falsa simpatia, de rancor ou frustração, de infinitos sentimentos controversos e doentios. Deste modo ferimos para não sermos feridos, como se agir com desconfiança e esperteza fossem qualidades morais. Ou ferimos na esperança de manter nossas expectativas em segurança. Criamos uma atmosfera de indignação e irritação que faz ferver quem entra nesta zona negra de nossos pensamentos.

Estou me imiscuindo de minhas desvantagens morais. Todos nos precipitamos em reagir conforme o que a maioria defende ser o certo. Mas e quando sentimos que as nossas reações são personagens já criados e eternizados, que não emitem os reais sentimentos e sim os padrões esperados? Entramos no jogo da infelicidade.

O que eu estou querendo dizer é que, por mais que eu perceba quais ações acertadas devem ser declaradas, continuo respondendo com amargura e desconfiança. Ou seja, estou julgando pelas minhas próprias ideias do que eu gostaria que acontecesse, de como eu gostaria que se comportassem. Então eu experimentei usar a Lei da Atração para observar porque semelhantes se atraem, mesmo que eu tente minimizar ou justificar as minhas ações refletidas no outro, só estarei negligenciando a verdade de que eu sou exatamente assim.

Assim sendo, por que eu não consigo ver em mim as deficiências que tão facilmente critico no outro? Porque não quero admitir que também sou assim? Talvez as diferenças – que não são diferenças, nem justificativas atenuantes – estejam no fato de que não falamos em voz alta o que o outro expressa e nos ofende. Odiar abertamente uma pessoa é a mesmíssima coisa do que só pensar e dissimuladamente sorrir. Mesmo que seja uma tentativa de não se declarar abertamente o conflito. É ao mesmo tempo covardia, um medo de não saber lidar com os conflitos, e uma admoestação amarga e indigerível.

Deve estar pensando que devemos ir à luta e enfrentar tais inconformismos como se a alternativa fosse uma espécie de holocausto moral, onde só se consolidaria os sentimentos mais fortes. Não se engane, neste jogo não há perdedores, as experiências servem a um propósito quase indistinguível. Observar as suas falhas refletidas no outro significa, mesmo que seja exacerbada aos seus olhos, que é uma oportunidade de refletir sobre os seus sentimentos camuflados e ocultos, ou mesmo abertamente percebidos.

Não estamos aqui para cobrarmos justiça conforme consideramos justo, mas de perceber que perdemos tempo em resolver tudo com as nossas próprias mãos. Então como fica Deus perfeito, se teimamos em resolver tudo por nós mesmos? Por isso devemos agradecer a estas pessoas a oportunidade de entendermos como somos.

Kanzeon Bosatsu significa Amor de Deus, Lei da Mente que permeia o universo. É o ato de salvar o outro, manifestando-se numa forma adequada às vibrações mentais de cada pessoa. Portanto cada pessoa pode ser a manifestação de Deus que nos aparece com o objetivo nos fortalecer. Kanzeon Bosatsu é chamada abreviadamente de Kannon, mas ela não é um ser humano. É um ser búdico que, captando o “som da mente das pessoas”, ou seja, a vibração mental, faz manifestar aquilo que as pessoas desejam. Bem ou mal, conforme a vibração mental.

sábado, 4 de janeiro de 2014

116 - todas as coisas são reais?

Todas as ações são reais.

Mentira. Existem coisas que não são bem a verdade, mas podemos chamá-las de verdade. Esqueçam isto, não quero explicar quais destas ações podem ser reais ou não. O importante é saber que existem ações que não “parecem reais”. Quando um médico afirma, ele se baseia em certezas médicas que encontraríamos em teses e pesquisas científicas, mais as evidências do sucesso destas, aplicados e comprovados pela experiência. Usam diagnósticos avançados e tecnologia que atestem os procedimentos que são sempre reescritos conforme as observações se mostrem mais apuradas.

Então surgem as “anomalias”. E para que as ações – sobretudo médicas – não percam credibilidade ou criem dúvidas, estabeleceu-se que o não-normal seria negligenciado. Não se podem concentrar as ações reais no que é anormal. O problema é que também negligenciamos a essência humana que é sempre evoluir, encontrar novas verdades. Digo, expandir o conceitos e encontrar a verdade. Esta busca será sempre inalcançável, mas prioritária.

Por que a gravidez imaginária acontece? Ou que algumas amputações traumáticas não causam dor? Certos remédios não curam, apesar de sua eficácia comprovada? E certos placebos curam? E que doenças incuráveis podem ser curadas e pessoas iludidas pelo medo morrem. O conceito de poder da mente é uma ciência que engatinha, contudo existe a milhares de anos. Não cabe aqui julgar quem esconde ou mente.

Parece inacreditável que o pensamento crie os modelos e as normas que regem este mundo e, ao mesmo tempo, cria modelos e normas deturpadas e incoerentes. Estamos sempre recriando as ações de nossos antepassados e desta forma não percebemos que poderíamos moldar novas percepções. Parece difícil aceitar que a mudança de pensamento poderia curar. Mas é muito mais incrível que possamos nos iludir com crenças limitadoras que afirmam ser Deus menos do que perfeito. Que destrói, que controla e faz sofrer, que ama somente quem faz o bem e opta. Que por vezes não interfere, porém parece ter preferências.
É um jogo de interesses, tanto daqueles que controlam, quanto de nós. Nós, que aproveitamos esta situação caótica para encontrar o caminho da evolução. Toda a ação do mal passa pelo crivo da bondade de Deus.

Pensar é domar o pensamento e usá-lo a nosso favor. Acreditar que as anormalidades são sinais que dizem: experimente novas verdades e descubra a verdade real. Assim como Buda, quando nos ensina que ao alcançar a iluminação, estaremos apenas aprendendo o caminho para a verdadeira iluminação. Que todas as ações – meios hábeis – são meios para se atingir a iluminação. 

“É tolice e desnecessário a uma pessoa continuar sofrendo simplesmente porque não alcançou a iluminação, quando esperava alcançá-la. Não há insucesso na iluminação, portanto a falha reside nas pessoas que, durante muito tempo, procuraram a iluminação em suas mentes discriminadoras, não compreendendo que estas não são as verdadeiras mentes, e sim, falsas e corrompidas, causadas pelo acúmulo de avidez e ilusões toldando e ocultando as suas verdadeiras mentes. Se este acúmulo de falsas divagações for eliminado, a iluminação aparecerá. Mas, fato estranho, quando os homens atingirem a iluminação, verificarão que, sem as falsas divagações, não poderá haver iluminação”.


Acreditando ou não nas capacidades humanas, se acreditar nas capacidades de Deus que está em cada um de nós, acreditará que todas as coisas são possíveis. Acho que precisarei fazer um podcast para tentar mostrar o quanto podemos nos boicotar ao determinar que tudo que nos dizem é imutável e permanente.