“Neste mundo há três errôneos pontos de vista: Diz-se que toda a experiência humana baseia-se no DESTINO; afirma-se que tudo é criado por DEUS e controlado por sua vontade e; que tudo acontece ao ACASO, sem ter uma causa ou condição.” A Doutrina de Buda.
O ego cria o
medo que gera opressão que amplia o medo que sustenta o ego. É um círculo
vicioso, assim como o carma. [22/03/13] O que justifica o carma é a ilusão.
Metade do mundo tenta escapar da ilusão e a outra em não cometer pecados, mas
isto é uma outra estória. Neste ciclo de nascimento, velhice, morte e renascimento,
o carma é reflexo das nossas ilusões, de acreditar que a evolução espiritual
depende dos obstáculos. Portanto, desfeito o apego – a ilusão de querer ou não
querer, que gera o sofrimento – é desfeito o carma e a reencarnação finda. A
este estado Buda se refere como iluminação ou nirvana. Quebrado o ciclo
passamos a outra realidade, volto a frisar...
“É tolice e desnecessário a uma pessoa continuar sofrendo simplesmente porque não alcançou a iluminação, quando esperava alcançá-la. Não há insucesso na iluminação, portanto a falha reside nas pessoas que, durante muito tempo, procuraram a iluminação em suas mentes discriminadoras, não compreendendo que estas não são as verdadeiras mentes, e sim, falsas e corrompidas, causadas pelo acúmulo de avidez e ilusões toldando e ocultando as suas verdadeiras mentes. Se este acúmulo de falsas divagações for eliminado, a iluminação aparecerá. Mas, fato estranho, quando os homens atingirem a iluminação, verificarão que, sem as falsas divagações, não poderá haver iluminação”.
É como correr
atrás do próprio rabo. Buda era o suprassumo em questão de redundância elevada
à enésima potência. Nem assim os discípulos entendem – sou o primeiro a assumir
minha ignorância. Como não fazer algo que precisa ser feito para se descobrir que
não deveria fazê-lo! Isto me soa mais estranho do que falar sobre viagens no
tempo, os tais paradoxos no qual voltar ao passado e matar o seu avô jamais
permitiria a viagem.
Será que precisamos agir assim? A resposta de Deus talvez fosse: Sim e não. Preparem-se, pois as respostas de Deus sempre serão sim e não. Existem duas intenções e elas estão certas, mas mesmo assim erradas. Esta é uma das nossas deficiências, não entender que não existem escolhas. Deus é o certo e também o errado. Ele pode não ter criado o mal, mas nos criou a sua imagem e semelhança, o que pode soar como blasfêmia – é o que eu acho, talvez seja uma destas anormalidades psicológicas que definem o nosso ego. Temos todas as qualidades dEle. Não creio que os filhos de Deus, as suas criações, possam ser falhas – de modo geral.
O que
acontece é que Ele nos deu livre-arbítrio. Esta liberdade se dividiu entre
culpa e êxito, o que chamamos de causa e
efeito. Criamos a dualidade e começamos a experimentá-la como fazemos ao
analisar as partes. Esta modalidade intrometida que chamamos de ciência e não é
menos ridícula do que vemos os cientistas malévolos do cinema fazerem –
modificando genes, criando máquinas temporais, baseando-se em premissas bem
duvidosas. Fragmentamos e observamos as partes, o funcionamento destas frações
determinam modelos. Modelos astronômicos, modelos biológicos, teorias físicas, receitas
nutricionais, etc., entretanto, não percebemos que as partes respondem por uma
unidade. E esta unidade cria interações, digamos, inusitadas. Como se um
universo paralelo tivesse mais coerência do que o nosso. Um universo mais real.
Todos os
conflitos são baseados em ideias parciais, cheias de vazios. Reagimos ao outro
porque sentimos uma contrarreação que emana de nós. Parece incoerente, mas
estamos em conflito com nós mesmos. O outro reage às nossas vibrações e reage
contra-atacando-nos com a nossa imagem interior. Esta ideia se fortalece quando
não admitimos que sejam nossas deficiências morais, nossos monstros interiores,
que estão se materializando. Como aquele Espelho
de Ojesed em que Harry Potter vê seus desejos, e acaba aprisionado por
estas ilusões que não o levam para lugar algum, nem o passado e nem o futuro. Uma
reação inconsciente daquilo que não gostamos em nós e se apresenta como um
inimigo é uma outra imagem refletida no nosso espelho. Pelo menos, ao admitir
tais fraquezas – e eu digo por experiência – o inimigo desaparece. E a simbiose
autodestrutiva entre você e seu inimigo yourself
se transforma. E se isto não acontece, o inimigo se afasta e o conflito não
existirá. Por isso devemos agradecer todas as pessoas e coisas, pois são
ferramentas que nos incitam a nos conhecer e a nos melhorar.
Como disse Gandhi:
Nas grandes batalhas da vida, o primeiro
passo para a vitória é o desejo de vencer. E os budistas dizem: Quem se vence a si mesmo é um herói maior
do que quem enfrenta mil batalhas contra muitos milhares de inimigos. Mas
não é muito diferente. Pois o seu pior inimigo pode se parecer com um filho,
marido ou esposa, mas esta manifestação caótica não passa de uma reação
exteriorizada por você, por nós. Por isso, ao aceitarmos que o outro não está
errado, aceitamos que estamos errados e encontraremos meios hábeis – como se
existisse outro – para sanar o erro. E este erro não alimentará o conflito. O
outro muda porque cessa a animosidade que certamente se baseava em uma
impressão criada por nós e projetada como um desagradável reflexo chamado de
“próximo” – muito mais próximo do que gostaríamos.
Ou seja,
continuaremos odiando os outros enquanto nos odiarmos. O mestre Ananda Rinpoche
disse ao discípulo que queria alcançar a iluminação ao se oferecer à meditação
em uma gruta: Não há precisão de ir,
pois você encontrará na caverna somente o que levar consigo.