quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

030 - o que é ego segundo a ilusão


Uma parte de mim aceita que entender o ego possa gerar incongruências e divergências, mas aceitar que haja verdade em uma ou outra designação constitui erro. Para entendermos o ego devemos aceitar inexoravelmente todas as opiniões, mesmo que elas sejam opostas e até heterogêneas. Existe uma verdade por trás de cada expressão. 

Três cegos se aproximaram de um elefante. O primeiro, ao tocar seu rabo, passou a considerar o elefante como uma corda, o segundo, abraçado à perna, disse que o animal se parecia a uma árvore e, então, o último, pegando na orelha, pensou que era uma grande folha. Estudar o ego é assim, nos prendemos às particularidades, às partes, e deste modo passamos a considerar as partes o todo. Devemos pensar que o ego é constituido de todas as teorias, religiosas ou não, e mesmo assim não conheceríamos o todo do qual é constituido. É como definir Deus, que é a soma de tudo que já foi dito sobre Ele, e mesmo assim seriam incompletas. Mas nós sabemos que Deus é perfeição, e temos certeza que isto significa que o Seu alcance é justo, mesmo que, presos por ideias fragmentadas, acreditemos que Deus é rancoroso e injusto, que joga dados.


Como matar o ego... e viver em psicose!


Publicado em: 17 de setembro de 2007, 12:40:50  


É difícil adentrar em uma discussão temática indefinida e, ao mesmo tempo, desfazer-se do ego. Grande parte das discordâncias em espaços universalistas ocorrem desnecessariamente, por significados pessoais diferentes para as mesmas palavras. Convenção por convenção, a Voadores costuma valorizar a fundamentação acadêmica. Pelo menos aqui, chamemos as coisas pelo que são:


Viver "sem ego" é um mito, no mal sentido da palavra. Este conversa pseudoespiritual de "viver sem ego" é um convite à psicose, e não à iluminação. Podemos matar o egoísmo, não o ego. Os delírios, e não a mente. A neurose, não os neurônios. O individualismo, e não o indivíduo. A falta de sentimento, e não a existência de pensamento. A indisciplina excessiva, e não a saudável capacidade de questionar. O que nos afasta de Deus, não o que nos sustenta aqui.


Vejo religiosos usando o termo EGO ao seu bel prazer, quase como um coringa que pode valer como "vaidade", "egoísmo malévolo", "personalidade forte", "subversão às ordens de meu guru" e até mesmo "capacidade de pensar". Tudo é "ego" para eles, menos os vários conceitos sérios dele (que são vários, também, e nenhum parece com esses).


Há também pseudohinduistas, que sem perceber incorrem no maior ego de todos: o de se achar livre do ego. Dizem eles: "eu aniquilei o ego e estou unido ao Todo... e você, mundano, não". : Ora, que todo é esse que não inclui tudo? Podemos no máximo remover a ilusão de que SOMOS aquilo que ESTAMOS, mas sem criar a ilusão maior de achar que já ESTAMOS aquilo que SOMOS. Além do mais, é uma vingança irônica do ego: quem se afirma "sem ego" no fundo acredita ser maior que os demais. Ou não se definiu adequadamente o que seja ego, ou - com todo respeito - não se tem a menor ideia do que estão falando. Não ter ego equivale a psicotizar, inclui delírios e alucinações, e exige medicamentos sob pena de (constatados) danos à estrutura cerebral. Perda cognitiva não é iluminação.


O ego é quem ouve o acreditamos ser certo e errado, e toma seus julgamentos e decisões. Se um iogue sem ego preferiu ouvir seus conceitos espiritualistas aos seus desejos, quem fez isso foi seu ego. Se um vegetariano brahmacharia sem ego deixar de comer carne ou fazer sexo, quem optou por isso foi seu ego. E essas escolhas se dão na mente que o tal iogue disse que abandonou.


O Wagner Borges costuma contar em palestras que um iogue passou toda sua vida meditando para conseguir parar todos os pensamentos da mente. Com muita disciplina, um dia chegou lá, e feliz, PENSOU: "Consegui!".


Há quem pense que "matar o ego" é apenas viver sem máscaras, mas até isso é impossível: a persona tem sua função, sem ela não há socialização. Mais razoável seria conhecermos as máscaras que precisamos usar. 
  
Espíritas também usam a expressão, em seu crescente sincretismo hinduísta. Mas aí fica mais incoerente ainda, pois seus relatos mediúnicos sobre cidades astrais são baseados justamente na manutenção do ego do lado de lá, até bem mais definido, tanto nos que o usam para seguir as instruções do plano maior quanto nos malévolos ou patológicos desencarnados.


Há quem diga que o ego é sempre o dos outros. Em si, seu compromisso de "matar o ego" é sempre um objetivo (bem) futuro, uma meta suave, uma espécie de noivado com o divino. Nos outros, contudo, é um julgamento impiedoso daqueles que só o ego poderia fazer.


Numa repetição "espiritualista" da posição esquizoparanóide de vários julgamentos religiosos, o "ego" assume a função já ocupada pelo "diabo"... e o possuído é sempre o próximo, o que tira a atenção do observador, que assim se identifica com o "bem" não por trabalho interno, mas pelo rotular e afastar de seus próprios aspectos sombrios projetado nos outros. Se "o resto" aos meus olhos é "o mal", sobra para mim - sem esforço - ser o bem. Se "os outros" são "o mundo", só posso então ser "de Deus".


O sábio Ramakrishna resume bem este tipo de iogue, antecipando em décadas a psicanálise: "Quem julga o ego é sempre um ego maior". Ramakrishna também dizia que não podemos viver sem ego aqui, mas que podemos transformá-lo em um ego servidor. Em outra passagem, pergunta o objetivo de vida de seu maior discípulo, e ouve: "Ah, mestre, eu gostaria de atingir o samadhi, deixar meu ego, fundir-me ao todo, e dissolver-me em Deus"


Ao que o grande mestre ensina: "Não lhe parece um objetivo muito EGOista, sabendo que há tanta gente precisando de ajuda AQUI?"


Lázaro Freire




quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

EGO SEGUNDO ESPIRITISMO


1 – Eu ou ego

É a representação do espírito no mundo externo. Ele é, de um lado, a síntese momentânea da personalidade integral, do outro, uma função que permite a ligação da consciência com os conteúdos inconscientes. Através dele o espírito se realiza, transformando milhões de anos de evolução na efemeridade de um instante. A existência do ego é fundamental ao espírito, visto que sua manifestação direta no mundo sem esse intermédio tornar-se-ia impossível dada a natureza de sua essência.

Segundo Jung, o ego é o sujeito da consciência e surge constituído de disposições herdadas e de impressões adquiridas inconscientemente. Jung também considerava o ego um complexo. Creio também que o ego, por representar o self, também traz um modelo dele oriundo.

É a consciência emprestada ao mundo pelo espírito, dando-lhe a feição material. Torna-se sua manifestação de identidade ao se apresentar ao mundo. Mesmo durante o sono, nos estados de coma, na idade infantil, ele está presente, ainda que temporariamente inibido. No sono, face ao entorpecimento do corpo, ele se encontra mais livre dos condicionamentos da matéria carnal. Nos estados de coma, bem como no período de preparação reencarnatória permanece vigilante em face da possibilidade de deixar ou entrar no corpo. Na criança, logo após o nascimento, inicia-se nova fase de agregação de valores, emoções, conhecimentos e experiências para a estruturação de um novo ego.

Sem essa estrutura funcional é impossível a percepção da singularidade do espírito. É com o ego que o espírito se realiza e apreende as leis de Deus.

A cada nova experiência reencarnatória, quando ainda criança, por força da convivência social, a psique vai formando uma identidade pessoal que permite o aparecimento do ego. As fases estabelecidas por Piaget para o desenvolvimento cognitivo, sinalizam para a maturação de estruturas psíquicas, portanto perispirituais, no processo de aprendizagem. Essas fases descrevem de forma lógica como as capacidades latentes do espírito, já estruturadas no perispírito, alcançam a vida consciente, porém se referem necessariamente à formação do eu. Elas não se referem às capacidades do espírito. Sua estruturação se inicia a cada nova encarnação e desencarnação, visto que, sempre que a realidade externa muda radicalmente, ele se apresenta como recurso do espírito para o necessário aprendizado.

O corpo faz parte do eu ou ego enquanto este se sentir identificado com aquele. Por conseguinte o ego se autoestrutura contraindo-se ou se expandindo. Pode-se afirmar que o corpo é uma extensão da consciência.

Devemos pensar em conhecer o ego, estruturá-lo, redefini-lo. É equívoco pensar em renúncias e desapego para quem ainda não conseguiu, por motivos diversos, da atual ou de outras encarnações, estruturar adequadamente seu ego. O ego estabelece o domínio do tempo e do espaço. Por causa dele existe passado, presente e futuro. Da mesma forma delimita um espaço.

A entrada no corpo físico ou perispiritual, desloca a consciência do espírito para o ego. A matéria atrai o espírito à semelhança de um imã sobre um metal. O ego é um portal de acesso à zona consciente e elo de ligação psíquica da matéria com o perispírito. Por ele transitam experiências do campo da consciência, desde aquelas que são captadas diretamente pelos sentidos até as que são devolvidas do inconsciente.

O acesso do ego aos conteúdos do inconsciente gravados no perispírito, bem como às leis de Deus já conquistadas pelo espírito é automático e não depende da suspensão da consciência, porém nunca é direto, visto que eles são guardados no formato de símbolos conectados emocionalmente. O ego trabalha de forma linear e sequencial, portanto numa frequência incompatível à existente no perispírito. O que ocorre é que o acesso nem sempre é desejado, porém a influência dos conteúdos é constante. [PSICOLOGIA DO ESPÍRITO, Adenáuer Novaes]


2 – Dificuldades do ego

A transitoriedade da vida física responde pela morte rápida da ilusão e pela destruição dos seus castelos, produzindo lamentáveis estados emocionais naqueles que se lhes agarram com todas as veras. Logo percebem-se de mãos vazias, sem qualquer base em que apoiem e firmem as aspirações que acalentam.

As diversas enfermidades e as variadas frustrações, que se radicam no ego, têm, porém, uma historiografia muito larga, transcendendo a existência atual, remontando ao passado espiritual do ser. Não conhecendo a gênese das mesmas, o indivíduo centraliza, nas necessidades de afirmação da personalidade, os seus anseios, derrapando nas valas da projeção indébita do ego. Quando não se consegue aparecer através das realizações edificantes, mascara-se, e promove situações que vitaliza no íntimo, desde que chame a atenção, faça-se notar.

Em alguns casos, vitimado por conflitos rudes, elabora estados narcisistas e afoga-se na contemplação da própria imagem, em permanente estado de alienação do mundo real e das pessoas que o cercam. Patologicamente sente-se inferiorizado, e oculta o drama interior partindo para o exibicionismo, como mecanismo de fuga, sustentando-se em falsos pedestais que desmoronam e produzem danos psicológicos irreparáveis.

A criatura que não se conhece, atende ao ego, buscando tornar-se o centro das atenções mediante tricas e malquerenças, que estabelece com rara habilidade, ou envolvendo-se nos mantos que a tornam vítima, para, desse modo, inspirar simpatia, colimando o objetivo de ser admirada, tida em alta conta.

Toda preocupação que se fixa, conduzindo a autopromoção, constitui sinal de alarme, denunciando manifestação dominadora do ego em desequilíbrio, que logo gerará problemas. A conscientização da transitoriedade da existência física conduz o ser ao cooperativismo e à natural humildade, tendo em vista as realizações que devem permanecer após o seu desaparecimento orgânico.

Por outro lado, o autodescobrimento amadurece o ser, facultando-lhe compreender a necessidade da discrição que induz ao crescimento interior, à plenitude. Toda vez que alguém se promove, chama a atenção, mas não se realiza. Pelo contrário, agrada o ego e fica inquieto observando os competidores eventuais, pois que, em todas as pessoas que se destacam vê inimigos, face ao próprio desequilíbrio, assim engendrando novas técnicas para não ficar em segundo plano, não passar ao esquecimento.

O tormento se lhe faz tão pungente e perturbador que, em determinadas áreas das artes, criou-se o brocardo: Que se fale mal de mim; mas que se fale, numa asseveração de que a evidência lhes preenche o ego, mesmo quando é negativa. A Psicologia Transpessoal, diante de tal estado, propõe uma revisão dos conteúdos da personalidade, do ego, estabelecendo, como fator essencial no processo da busca da saúde, a conquista do ser pleno, realizador, identificando-se preexistente ao corpo e a ele sobrevivente, sem o que a vida se lhe torna, realmente, um sofrimento inevitável.

Nas faixas da evolução mais densa, em que estagia a grande mole humana, o sofrimento campeia, por ser uma forma de malho e de bigorna que trabalham o indivíduo, nele insculpindo o anjo e arrancando-lhe o demônio do primitivismo aí predominante. Ciúme, ressentimento, inveja, ódio, maledicência e um largo cortejo de emoções perturbadoras são os filhos diletos do ego, que deseja dominação e, na ânsia de promover-se, nada mais logra do que projetar a própria sombra, profundamente prejudicial, iníqua.

A superação dessa debilidade moral, dessa imaturidade psicológica ocorrerá, quando o paciente, de início, vigiar as nascentes do coração, conforme propôs Jesus, o Psicoterapeuta Excelente, realizando um trabalho de crescimento emocional e uma realização pessoal plenificadores. Qualquer escamoteamento da situação mórbida constitui risco para o comportamento, face aos perigos que são produzidos pelos problemas do ego do­minador.[O SER CONSCIENTE - Divaldo Pereira Franco/Joanna de Ângelis]


3 – As máscaras do ego

No processo de estruturação da psique humana, o indivíduo realiza, consciente ou inconsciente, um movimento de repressão, bloqueando as negatividades do ego, devido ao fato desses sentimentos gerarem uma aversão muito grande, tanto por parte dele próprio, quanto de outras pessoas.

Essa é uma atitude pouco inteligente emocionalmente, pois o indivíduo mascara os seus sentimentos, originando as máscaras do ego, caracterizadas pela tentativa do ego parecer aquilo que não é. Há um movimento criado pelo ego para se defender, gerando a energia do pseudoamor, portanto, para parecer que é amor, característica própria do Ser Essencial. Esse fato retarda o processo do autoencontro, isto é, do encontro do indivíduo consigo mesmo, em Essência.

Na maioria das vezes, o indivíduo utiliza os mecanismos de defesa de forma inconsciente ou involuntária, numa tentativa de se proteger, tentativa que redunda numa falsa proteção. Outras vezes, utiliza-os de forma bastante consciente, sabendo que está fugindo de alguma coisa. Podemos encontrar várias modalidades de mecanismos de defesa do ego, nos quais as negatividades egóicas são mascaradas. Vamos analisar os mecanismos mais comuns, buscando perceber as negatividades do ego por trás delas.

a] Compensação
Mecanismo de defesa pelo qual se procura compensar um comportamento negativo, substituindo-o por um comportamento aparentemente positivo. O indivíduo busca, consciente ou inconscientemente, camuflar, reprimir os seus defeitos e fraquezas pessoais, que podem ser reais ou imaginários. Caracteriza-se pelo exagero pelo excesso das manifestações aparentemente positivas.

A compensação tenta desviar a atenção dos outros desses defeitos, sejam físicos ou morais, através da exacerbação de uma característica socialmente aceita e, muitas vezes, até exigida pelas pessoas como um comportamento verdadeiramente adequado. Mas, como esse comportamento é baseado na repressão das negatividades do ego não-trabalhadas, o que surge é apenas uma máscara que parece, mas não é, o valor essencial que se deseja.

b] Puritanismo
O indivíduo puritano exige de si mesmo e dos demais, uma pureza que está distante de internalizar. Tende a dar ênfase muito grande às questões sexuais. Coloca essas manifestações naturais do ser humano como algo pecaminoso, impuro. Por isso exige de si e dos outros uma conduta impoluta. Está sempre pronto a acusar os outros. Analisando a questão com profundidade, percebe-se que esse fenômeno é pura compensação por desejos sexuais reprimidos e vontade de levar uma vida promíscua, originados nas profundezas do ego, que a própria pessoa, consciente ou inconscientemente, se recusa a aceitar.

c] Fanatismo
O indivíduo fanático caracteriza-se pelo excesso de devotamento a uma causa ou idéia. Quem observa apenas o exterior, acha que é uma pessoa muito devotada à sua causa ou ideal. Mas é apenas aparência, pois se percebe, em uma análise profunda, que esse devotamento é apenas uma compensação inconsciente, resultado da insegurança interior sobre a veracidade daquilo em que se pensa acreditar.

d] Martírio
É aquele que faz o papel do bom moço. Está sempre disposto a “sacrificar-se para ajudar” os outros, mesmo que para isso tenha que passar por cima de suas necessidades. Não é capaz de dizer não. Por isso, todo mártir está, quase sempre, envolvido com uma ou mais “vítimas” para serem socorridas, atendidas por ele. Quem observa apenas a aparência, acha que ele é uma pessoa carismática, muito boa, sempre disposta a ajudar os outros. Mas, analisando a situação sem máscaras, percebe-se que o mártir bonzinho é apenas um indivíduo buscando compensar os sentimentos negativos que detêm e, por se sentir inferior aos demais devido a esses sentimentos, procura disfarçá-los fazendo tudo para os outros, para com isso ser aceito e querido por eles. Para sermos realmente bons, é necessário aceitar e transmutar as negatividades do ego, e não simplesmente escondê-las atrás de uma máscara.

e] Vitimização
Apresenta um sentimentos de autopiedade muito grande. Coloca-se como coitada, necessitando do auxílio dos outros. Quase sempre está associada com os mártires. A autopiedade surge como um movimento de compensação ao profundo sentimento de culpa e autopunição que a caracteriza.

Analisando-se profundamente, percebe-se que a pessoa que assim age, acha-se indigna do amor, devendo ser punida pelos seus erros e, ao mesmo tempo, coloca-se como coitadinha para conseguir migalhas de atenção para si.

f] Perfeccionismo
Procura fazer tudo perfeito. Exige essa perfeição de si mesmo e das outras pessoas também. Quando algo sai errado, como é comum acontecer, pois ainda estamos muito distantes da perfeição, o perfeccionista não aceita o erro. Culpa-se e pune-se por isso, quando é ele mesmo a errar, ou culpa e pune a outrem, quando outra pessoa praticou um ato errado.

Observando-se as aparências, poderemos achar que ter perfeccionismo é algo bom, pois a pessoa está sempre procurando fazer as coisas perfeitas. Mas isso é muito diferente da virtude da busca do aperfeiçoamento constante que provém do Ser Essencial, pois quem está nesse caminho, aceita que ainda não é perfeito e, portanto, admite o erro, analisando-o como um processo de aprendizado e crescimento. A pessoa que está em busca de aperfeiçoamento constante, torna-se alguém flexível, aceitando os erros, seus e dos outros, como experiências geradoras de aprendizado.

g] Euforia
É utilizada para compensar sentimentos de tristeza ou depressão. Para mascarar esses sentimentos, as pessoas utilizam recursos como álcool, drogas, festas, compras, sexo, etc. para fugir da tristeza ou depressão que sentem. Dizem que esses recursos lhes dão alegria, tirando-as do estado de depressão. Mas, se observarmos atentamente, perceberemos que essa alegria é falsa; é apenas euforia, pois uma vez cessado o efeito do álcool e das drogas ou terminada a festa, feitas as compras, voltam a sentir uma depressão ainda maior que a anterior, até que novamente fazem uso do mesmo expediente.

Todas as vezes que o indivíduo atuar através de atitudes exageradas, em qualquer área, estará camuflando desejos inconscientes opostos. A compensação leva o ego a mascarar esses desejos, ignorando o desequilíbrio que fica bloqueando e reprimindo no inconsciente.

O grande problema é que todo conflito recalcado não fica mascarado por muito tempo. Termina por aflorar com força, gerando distúrbios muito graves, dos quais a pessoa não poderá fugir. É necessário que cada indivíduo aceite as suas negatividades do ego, trabalhado pelo seu crescimento interior através de ações que, ao invés de mascará-las, venham a transmutá-las com a energia do amor. [PSICOTERAPIA À LUZ DO EVANGELHO DE JESUS, Alírio de Cerqueira Filho]


4 - Autoencontro

Possuímos duas estruturas em nosso psiquismo: o ego e o Ser Essencial (self). O Ser Essencial é a essência Divina amorosa que todo ser humano é, imagem e semelhança do Criador, e o ego é fruto da imperfeição e ignorância que ainda existem em nós formada pelo desamor e pelo pseudoamor.

Ser Essencial – é o centro da consciência, onde estão fixadas as características positivas e os valores reais do indivíduo. É o self, o nosso lado luz, amoroso, bom e belo, é a Essência Divina que somos. É o estado no qual encontramos todas as potencialidades de forma latente que vão emergir e se desenvolver, a partir do momento em que o indivíduo se identifica consigo mesmo, cujo ponto culminante é o estado de iluminação. Nele originam-se todos os sentimentos nobres que nos caracterizam, derivados da energia de amor que o compõe. É um campo de energia eletromagnética que pode estar expandido ou inibido, dependendo das camadas exteriores que compõem o ego. É o espírito propriamente dito.

Ego – camada de ignorância que envolve o Ser Essencial, onde ficam registradas todas as experiências equivocadas, nas quais não colocamos em prática o amor essencial. É composto de duas partes: 1] Negatividades do Ego – onde ficam registrados todos os sentimentos que representam a ausência do valor essencial. Esses sentimentos negativos apenas representam o movimento egóico de não-valor e por isso transitórios. Existem enquanto não nos dispomos a cultivar os sentimentos reais. 2] Máscaras do ego – é a parte disfarçada, onde o ego lança mão dos seus instrumentos de defesa e fuga. As máscaras originam-se na energia de pseudoamor, onde o indivíduo mascara as negatividades do ego com sentimentos aparentemente positivos.

Observando superficialmente os sentimentos mascarados, tem-se a impressão de que eles são reais, mas se os analisarmos profundamente perceberemos que eles são falsos, pois continuam sendo um não-valor que se origina na energia do pseudoamor para encobrir sentimentos oriundos na ausência do amor. As máscaras podem impedir o contato mais profundo com o Ser Essencial, pois, ao parecer que cultiva os valores essenciais, o indivíduo cristaliza esses sentimentos falsos. [PSICOTERAPIA À LUZ DO EVANGELHO DE JESUS, Alírio de Cerqueira Filho]

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

028 - o que é ego segundo cabala


O número 13 é muito positivo, de acordo com a Cabala. Para começar, é um acima de 12, que está ligado aos 12 meses do ano e aos 12 signos do zodíaco, e eles representam a fragmentação do mundo físico, onde a Luz do Criador está oculta. O 13 vai acima dessas forças materiais, e nos leva à unidade do mundo espiritual. A própria palavra um , em hebraico, tem o valor numérico 13.


A morte inevitável do ego

O amor à liberdade é o amor aos outros; o amor ao poder é o amor a nós mesmos.- William Hazlitt (1778 – 1830)

A única coisa que o Criador criou foi nosso desejo de receber, nosso egoísmo. Esta é nossa essência. Se aprendermos a “desativar” nosso egoísmo, restauraremos nossa conexão com o Criador, porque sem o nosso egoísmo, obteremos a equivalência de forma com Ele, assim como ela existe nos mundos espirituais. A desativação de nosso egoísmo é o começo de nossa ascensão pela escada espiritual, o começo do processo de correção.

É como que por humor irônico da Natureza, que as pessoas que se deleitam em prazeres egoístas não podem ser felizes. Há duas razões para isso: 1) O egoísmo é um beco sem saída: se você obtém aquilo que você quer, você já não o quer mais. e, 2) Um desejo egoísta tem prazer não apenas na satisfação de seus próprios caprichos, mas também na infelicidade dos outros.

Para entendermos melhor a segunda razão, precisamos lembrar os fundamentos. A Fase Um nas Quatro Fases Básicas deseja apenas receber prazer. A Fase Dois já é mais sofisticada, e quer receber prazer de doar porque o doar é o estado de existência do Criador. Se nosso desenvolvimento tivesse parado na Fase Um, nós seríamos satisfeitos no momento em que nossos desejos fossem preenchidos e não iríamos nos importar com que os outros têm.

No entanto, a Fase Dois – o desejo de doar – nos compele a notarmos os outros para que possamos doar a eles. Mas porque nosso desejo fundamental é por receber, tudo que vemos quando olhamos para as outras pessoas é “que elas têm diversas coisas que eu não tenho.” Graças à Fase Dois, iremos sempre nos comparar aos outros, e graças ao desejo de receber da Fase Um, nós sempre queremos estar acima delas. É por isso que obtemos prazer em suas carências. A propósito, é também por isso que a linha de pobreza muda de país para país. De acordo com o Dicionário Webster, a linha de pobreza é “um nível de renda pessoal ou familiar abaixo do qual alguém é classificado como pobre de acordo com padrões governamentais.”

Se todos a minha volta fossem tão pobres como eu sou, eu não me sentiria pobre. Mas se todos a minha volta são ricos, e eu apenas tenho uma renda mediana, eu me sinto como a pessoa mais pobre sobre a Terra. Em outras palavras, nossas normas são ditadas pela combinação da Fase Um (o que desejamos ter) com a Fase Dois (que é determinada pelo que os outros têm).

De fato, nosso desejo de doar, que deveria ter sido a garantia de que nosso mundo seria um bom lugar para se viver, é na realidade o motivo de todo mal neste mundo. Esta é a essência de nossa corrupção, e por esta razão, a substituição da intenção de receber por uma intenção de doar é tudo que precisamos corrigir.



A CURA

Nenhum desejo ou qualidade é naturalmente mau; é a maneira como os usamos que os fazem ficarem assim. Os antigos Cabalistas já diziam: “A inveja, a cobiça, e a (busca pela) honra tiram o homem deste mundo,” ou seja, deste mundo para o mundo espiritual.  Como assim? Nós já vimos que a inveja leva a competitividade, e a competitividade gera progresso. Mas a inveja nos leva a obter resultados bem maiores do que os benefícios tecnológicos ou os outros benefícios deste mundo. Na Introdução ao Livro do Zohar, Ashlag escreve que os humanos podem sentir os outros, e portanto podem carecer do que os outros têm. Como resultado, eles são preenchidos de inveja e querem tudo que os outros têm, e quanto mais eles têm, mais vazios eles se sentem. No final, eles querem devorar o mundo inteiro.

Finalmente, a inveja nos leva a buscarmos nada menos que o Próprio Criador. Mas é aqui que o senso de humor da Natureza nos prega uma peça novamente: O Criador é um desejo de doar, altruísmo. Por mais que inicialmente não estejamos cientes disso, ao querermos sentar no banco do motorista e sermos Criadores, nós estamos na verdade almejando por sermos altruístas. Assim, através da inveja – o traço mais nocivo e traiçoeiro do ego – nosso egoísmo se conduz à morte, assim como o câncer destrói seu organismo hospedeiro até que ele, também, morra com o corpo que ele arruinou. Novamente podemos ver a importância de formarmos o ambiente social adequado, porque se somos obrigados a sermos invejosos, devemos no mínimo ser construtivamente invejosos, ou seja, invejosos de algo que nos conduzirá à correção.

Os Cabalistas descrevem o egoísmo desse jeito: O egoísmo é como um homem com uma espada que tem uma dose de doçura sedutora, mas uma poção letal em sua ponta. O homem sabe que a poção é um veneno maligno, mas não pode se ajudar. Ele abre a sua boca, leva a ponta da espada à sua língua, e engole.

Uma sociedade justa e feliz não pode se apoiar no egoísmo monitorado ou “canalizado”. Nós podemos tentar restringir o egoísmo através do domínio da lei, mas isto funcionará somente até as circunstâncias se agravarem, assim como vimos na Alemanha – que foi uma democracia até eleger Adolf Hitler democraticamente. Nós também podemos tentar canalizar o egoísmo para beneficiar a sociedade, mas isto já foi experimentado no comunismo da Rússia, e falhou miseravelmente.  Até a América, a terra da liberdade, da oportunidade e do capitalismo, está falhando em fazer seus cidadãos felizes. De acordo com o New England Journal of Medicine.

“Anualmente, mais de 46 milhões de americanos, com idades entre 15 e 54 anos, sofrem de episódios depressivos.” E o Archives of General Psichiatry anunciou: “O uso de drogas antipsicóticas para tratar crianças e adolescentes... aumentou mais do que o quíntuplo entre 1993 e 2002,” como publicado na edição de 6 de Junho de 2006 do The New York Times.

Concluindo, enquanto o egoísmo tiver a supremacia, a sociedade será sempre injusta e desapontará seus próprios membros de uma maneira ou de outra. Finalmente, todas as sociedades fundamentadas no egoísmo irão se exaurir, juntas com o egoísmo que as criou. Nós apenas temos de fazer isso acontecer da forma mais rápida e fácil que pudermos, para o bem de todos.
A Cabalá Revelada - O Guia da Pessoa Comum para uma Vida Mais Tranqüila, Rav Michael Laitman, PhD, Cap. 6, págs 146 e 147 -   http://www.kabbalah.info/brazilkab/bibliotecaFrameset.htm


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

027 - o que é ego segundo cabala


O uso correto do ego.

http://www.kabbalah.info/brazilkab/ego_uso.htm

Ao longo da história, a humanidade tem tentado inúmeras maneiras de anular o ego ou reduzi-lo artificialmente, a fim de alcançar a igualdade, o amor e a justiça social. As revoluções e mudanças sociais vieram e se foram, mas todas falharam, porque o equilíbrio só pode ser adquirido combinando-se corretamente o pleno poder de recepção com o pleno poder de doação.
A lei comum para todos os organismos vivos é a conexão altruísta entre os elementos egoístas. Estes dois elementos contraditórios (altruísmo e egoísmo, dar e receber), existem em cada matéria, criatura, fenômeno ou processo.

No nível material, emocional, ou em qualquer outro nível, você sempre encontrará duas forças, não apenas uma. Elas se complementam e se equilibram, manifestando-se de diversas maneiras: como elétrons e prótons, cargas negativa e positiva, rejeição e atração, ácido e base, ódio e amor. Cada elemento na Natureza mantém uma relação de reciprocidade com o sistema que o apoia, e estas relações são compostas de um harmonioso dar e receber. 


A Natureza aspira nos levar à perfeição, à felicidade ilimitada. Assim, ela infundiu em nós o desejo de desfrutar. Não há necessidade de anular o ego; nós só precisamos corrigi-lo, ou, mais exatamente, mudar a maneira como usamos os nossos desejos de desfrutar, passando de uma abordagem egoísta para uma altruísta. 

A evolução correta usa todo o poder do desejo de desfrutar dentro de nós, porém na sua forma corrigida. Além disso, visto que o ego é a nossa Natureza, é simplesmente impossível combatê-lo ou restringi-lo indefinidamente, porque isso seria ir contra a Natureza. Se tentarmos fazer isso, descobriremos que somos incapazes de fazê-lo.



Embora o nosso estado atual não indique que a Natureza deseja que desfrutemos, é porque, ao contrário de todos os outros níveis na Natureza, os nossos egos não completaram o seu desenvolvimento.



É assim que o Baal HaSulam [Rabbi Yehuda Leib HaLevi Ashlag dedicou sua vida às interpretações e inovações da sabedoria da Cabala, disseminando-a por Israel e por todo o mundo. Desenvolveu um método especial para o estudo da Cabala, pelo qual, qualquer pessoa pode se aprofundar na amplitude da realidade e conhecer suas raízes e o propósito de sua existência] explica em seu ensaio, A Essência da Religião e Seu Propósito:
De todos os sistemas da Natureza dispostos diante de nós, entendemos que em qualquer um dos quatro tipos de seres – inanimado, vegetal, animado, e falante -, tanto de modo geral como em particular, encontramos uma orientação intencional, ou seja, um crescimento lento e gradual por meio de causa e efeito. Isso é como a fruta de uma árvore, guiada para um objetivo favorável de se tornar finalmente uma fruta doce e de boa aparência. Vá e pergunte a um botânico quantas fases a fruta sofre desde o momento em que se torna visível, até que esteja completamente madura. Não apenas as suas fases precedentes não mostram nenhuma evidência de sua doce e bela aparência final, mas como que para irritar, mostram o oposto da forma final: quanto mais doce a fruta está em seu final, mais amarga está nas fases iniciais do seu desenvolvimento. 



Para falar a verdade, a perfeição da Natureza não é aparente em nenhuma criatura antes que esta atinja sua forma definitiva. No caso dos seres humanos, o nosso estado atual não é o estado final e completo. É por isso que o nosso estado parece negativo. Entretanto, assim como o fruto da árvore, não há nada dentro de nós que precisemos arruinar, ou ele não teria sido colocado dentro de nós, para começar.


A força do ego é uma coisa maravilhosa. Ela nos trouxe até aqui, e graças a ela, nós também vamos atingir a nossa perfeição. É o ego que nos empurra para a frente e facilita o progresso ilimitado. Sem ele, não teríamos evoluído como uma sociedade humana, e não seríamos fundamentalmente diferentes dos animais. Finalmente, graças ao nosso ego, estamos agora chegando a uma situação em que não estamos mais dispostos a nos contentarmos com prazeres familiares e efêmeros, mas queremos ter o que está além deles.



O truque é encontrar a melhor e mais sábia maneira de usar o nosso ego para progredir em direção à união altruísta com os demais. E o método que nos permite fazer isso é a sabedoria Cabalística. Essa também é a origem do seu nome. "Cabala" significa "receber". Portanto, a sabedoria Cabalística é a sabedoria que ensina como receber o prazer perfeito, de forma perfeita.



A Cabala não exige que suprimamos nossos impulsos egoístas naturais. Pelo contrário, reconhece a existência deles, e explica como podemos usá-los de forma melhor e mais efetiva, para alcançar a perfeição.

Durante a nossa evolução, somos obrigados a reunir todas as tendências e elementos dentro de nós de forma harmoniosa, e aproveitá-los no processo. Por exemplo, nós normalmente pensamos sobre a inveja, a luxúria, e a honra, em termos negativos. Existe até um ditado bem conhecido que diz: "A inveja, a luxúria, e a honra tiram o homem do mundo" (Avot, 4:21). Para a espiritualidade, um nível mais elevado da Natureza. No entanto, há uma condição: ele só acontece se canalizarmos essas inclinações naturais para uma direção positiva e benéfica, permitindo que atinjamos equilíbrio com a força altruísta da Natureza.


domingo, 24 de fevereiro de 2013

026 - o que é ego segundo tiago


Antiego.


Bom, já está na hora de falarmos de um novo aprendizado no que diz respeito ao ego e sua extinção. Já me referi, anteriormente, que o ego é indispensável enquanto o usarmos. Mas quando é que ele deve ser erradicado? – Foi o que Tiago disse. Eu tentei me lembrar das designações que estão descritas nos dez artigos anteriores.


isto é um enigma? Deixe-me pensar. Baseado no fato de que as religiões pregam o fim do ego como o fim primordial para se alcançar a iluminação espiritual, ele só será erradicado quando for desnecessário para o espírito. Se bem me lembro, existe uma citação de Buda de que o ego só seria completamente extinto ao fim da vida...


Então ele me interrompeu. – No entanto, sabendo que o ego é uma ferramenta de relacionamento entre todos os homens, a chance de que ele venha a ser erradicado é quase zero.


A psicanálise considera o ego um mecanismo de controle, de equilíbrio. Um mediador entre a consciência e o inconsciente. Dando ao ego uma aparência de imprescindibilidade. Enquanto estivermos vivos, estaremos tentando controlá-lo. Digo, tentando evitar que ele se anarquize e, agindo através dos excessos emocionais, comande as nossas ações, as nossa atitudes e pensamentos. – Parei por um instante, esperava que Tiago completasse alguma falha, mas ele não se manifestou. – Contudo parece existir uma brecha, como acabar com o ego quando ainda o necessitamos?


A esta brecha, existem duas situações, mas nenhuma delas dá conta de uma extinção do ego. O ego é indestrutível! Alcançar o fim do ego é como correr para uma meta e descobrir que, ao fim da jornada, ela era outra. Uma isca. Não pense nisto agora pois é como descrever algo que nunca tenha experimentado.


Fiquei um pouco surpreso, depois de tudo o que li, eu percebi o erro. – Todos descrevem métodos e práticas para findar o apego ao ego, mas ninguém realmente diz como é ser assim, sem ego. Os poucos que se arriscam em explicar um ser sem-ego, não-eu, fazem-no por analogias com as sensações e palavras disponíveis. Por isso usam tantas parábolas e exemplos relativos?!

Exatamente. Descrever o mel pode gerar uma infinidade de descrições, os valores adquiridos pelos cinco sentidos, inclusive as percepções captadas por um sexto sentido, valores modificados e criados pela consciência, mas, basta experimentar o mel e todas as descrições se tornarão insuficientes. Assim como a descrição de Deus, se poucos se preocupam em experimentar...


Mesmo em uma condição onde o ego pareça não existir, ele existirá?


Tiago sorriu em concordância. – Lembra-se da parábola da cidade fantasma? Buda descreve que todo os ensinamentos são apenas uma isca para que, quando estivermos prontos, realmente percebamos o caminho para a iluminação. A cidade fantasma é apenas uma analogia para que não desistamos de atingir a iluminação porque, à primeira vista, nos parece impossível ou incompreensível. Libertar-se do ego é um engodo.


Então é impossível extinguir o ego?


Em termos, sim. – Tiago se pôs na defensiva. – Quando chegamos, depois de executar um infindável número de práticas espirituais, às portas da iluminação, estaremos prontos para entender que aquilo que chamamos de iluminação não passava de um chamariz. Porque sem estas práticas, não é possível compreender o que os mestres querem dizer sobre a iluminação, ou extinção do ego, ou a manifestação do não-eu, estado búdico. Buda se refere a dois nirvanas nesta parábola da cidade fantasma, sendo a própria cidade um recanto para o descanso dos peregrinos, portanto uma iluminação parcial?! Entendeu?


O conceito sim, Depois que eu experimentar o que é iluminação, te direi o que é. – confesso o meu sarcasmo. – Mas se não podemos eliminar o ego, agora eu te pergunto: Porque todos teimam em pregar a anulação do ego?


Usou o verbo correto, anular. Tornar-se nulo ou sem efeito; provocar total destruição de; perder a identidade e; aquela de que mais gosto, obter vitória sobre. Nunca foi uma questão de extirpar, mas sim se converter o ego em algo novo, mudar a sua essência. A intenção de Buda, por exemplo, ao nos falar sobre o não-eu com o objetivo de eliminarmos o sofrimento e a impermanência já nos diz que o ego resiste, o que morre é a essência conflituosa que torna o ego como ele é, quero dizer, anular o ego é simplesmente tomar controle sobre ele. – se ele não encontrava palavras, por sua vez eu estava entendendo assim mesmo. – A fórmula padrão afirma que aquilo que é impermanente é dor ou sofrimento, e aquilo que é impermanente, sofrimento e sujeito à mudança não pode ser considerado como meu ou eu. Este é o princípio do não-eu.


Se o ego não é extinto, por que se fala em extinção?


Não há razões para se tentar extinguir uma inextinguível atividade do espírito. Assim como não se pode remover quaisquer dos atributos que determinam o que Deus é, ou que nós somos. Toda esta explicação sobre não-eu e anulação do ego só esta nos confundindo. Pense que, ao mudar o ego, de suas ações instintivas para conscientes, estaremos criando um ego invertido, um antiego.


Tive que me calar. – Um antiego seria?!


Um ego com atributos superiores, um não-eu, cuja função é eliminar sistematicamente o que torna o ego desprezível. Inclusive aquelas personalidades aparentemente saudáveis que, infelizmente, se baseiam em esquemas de submissão ao medo. Um antiego é um ego destituído de personalidades controladoras, tem uma visão de compaixão por saber que não há necessidade de julgamentos...


Porque somos todos um. Um antiego pode exercer plenamente o discernimento, mesmo sabendo que ele não fará uso dele. – não vejo razão para que alguém que se considerasse o todo, precisasse fazer distinção. – Então, porque o ego não é extinto?


Porque é o meio pelo qual interagimos e criamos este mundo. O ego constrói uma imagem deturpada porque ele interpreta o mundo conforme a sua reação aos estímulos externos, e temos que considerar a ideia coletiva perpetuada pelos homens. O antiego, um não-eu, desapegado das impressões oferecidas pelas ideias coletivas, se baseia na certeza máxima de que Deus é perfeição, todas as coisas levam a esta perfeição. Tudo aquilo que chamamos de mal passa inexoravelmente pelo crivo da bondade dEle. Não pense que o alvo final da jornada humana é a extinção do ego, mas sim a evolução do ego para parâmetros de autodomínio das atividades emocionais. Até podemos chamar de extinção do ego, mas sem algum resquício do que chamamos de ego, deixaremos de possuir individualidade.


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