segunda-feira, 17 de março de 2014

O QUE ESTÁ ESCONDIDO ATRÁS DOS OLHOS.

Era uma vez seis cegos à beira de uma estrada. Um dia, lá do fundo de sua escuridão, eles ouviram um alvoroço e perguntaram o que era. Era um elefante passando e a multidão tumultuada atrás dele Os cegos não sabiam o que era um elefante e quiseram conhecê-lo.

Então o guia parou o animal e os cegos começaram a examiná-lo:

Apalparam, apalparam...Terminado o exame, os cegos começaram a conversar: — Puxa! Que animal esquisito! Parece uma coluna coberta de pelos!

— Você está doido? Coluna que nada! Elefante é um enorme abano, isto sim!

— Qual abano, colega! Você parece cego! Elefante é uma espada que quase me feriu!

— Nada de espada e nem de abano, nem de coluna. Elefante é uma corda, eu até puxei.

— De jeito nenhum! Elefante é uma enorme serpente que se enrola.

— Mas quanta invencionice! Então eu não vi bem? Elefante é uma grande montanha que se mexe.

E lá ficaram os seis cegos, à beira da estrada, discutindo partes do elefante. O tom da discussão foi crescendo, até que começaram a brigar, com tanta eficiência quanto quem não enxerga pode brigar, cada um querendo convencer os outros que sua percepção era a correta. Bem, um não participou da briga, porque estava imaginando se podia registrar os direitos da descoberta e calculando quanto podia ganhar com aquilo.

A certa altura, um dos cegos levou uma pancada na cabeça, a lente dos seus óculos escuros se quebrou ferindo seu olho esquerdo e, por algum desses mistérios da vida, ele recuperou a visão daquele olho. E vendo, olhou, e olhando, viu o elefante, compreendendo imediatamente tudo.

Dirigiu-se então aos outros para explicar que estavam errados, ele estava vendo e sabia como era o elefante. Buscou as melhores palavras que pudessem descrever o que vira, mas eles não acreditaram, e acabaram unidos para debochar e rir dele.


Por enquanto falamos das coisas que podemos ver, mas e aquelas que se escondem além dos sentidos da visão, olfato, audição, tato e paladar? Se você estiver pensando em algo imponderável do campo divino e mediúnico, pois saiba que não. Mesmo porque, quando morremos – escolha uma opção post-mortem e não fará diferença alguma – não deixamos de ser quem somos e, portanto, iremos perscrutar o céu usando todas as nossas capacidades sensoriais.

Deste modo, os anjos também compartilham das mesmas características sensoriais que os encarnados, vivos. Os que me faz pensar, será que também os mortos vivem em ilusão? Será que quaisquer imagens que façamos de uma vida após a morte condiz com as nossas crenças? Múltiplas opções... O que torna as religiões não só uma ideia do caminho, mas também um molde para os “céus” criados. Um ser é constituído de suas percepções, o mundo está ao alcance dos cinco sentidos – devemos até considerar um sexto. No sutra do coração Buda diz:

“Oh Shariputra, todos os dharmas [doutrinas] são vazios, nem surgem, nem findam; nem são impuros nem puros, destituídos de acréscimos ou perdas; assim, no vazio não há forma, nem sensação, conceituação, discriminação ou consciência; nem olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo, mente; nem cor, nem som, nem cheiro, nem sabor, nem tato, nem fenômeno; nem campo da visão, nem campo da audição, nem campo do olfato, nem campo gustativo, nem campo táctil, nem campo da consciência...”.

Este espaço vazio está mais além das ideias que modelamos de um mundo espiritual. Conforme a crença, podemos ter um inferno, purgatório ou céu; umbral e cidades espirituais de várias graduações; os reinos das transmigrações; etc. Elas servem de suporte para aquilo que realmente importa. No budismo tem uma história que explica bem esta ideia de duas mortes. [290313] Quando chegamos, depois de executar um infindável número de práticas espirituais, às portas da iluminação, estaremos prontos para entender que aquilo que chamamos de iluminação não passava de um chamariz. Porque sem estas práticas, não é possível compreender o que os mestres querem dizer sobre a iluminação, ou extinção do ego, ou a manifestação do não-eu, estado búdico. Buda se refere a dois nirvanas nesta parábola da cidade fantasma, sendo a própria cidade um recanto para o descanso dos peregrinos, portanto uma iluminação parcial?! Entendeu?

O processo diz que: Todas as coisas nos servem de caminho para se alcançar a iluminação. A sua vida é perfeita como é, o que você se nega a aceitar é que alcançar a iluminação não é um destino, não é uma finalidade de suas meditações e orações, é um estado permanente que extingue o sofrimento que materializamos em nossas vidas através da arrogância de nos intitularmos como a voz da razão, de que tudo que tinha que existir já existe e o quê ainda não existe deve ser inventado e controlado pelo raciocínio humano.

Não teria problema se o homem não acreditasse que é um ser cheio de pecado e culpado e iludido e sem estima tanto para si quanto para aqueles que ele tenta segurar o progresso. O medo impõe regras, e as regras se baseiam nos medos para defender a sua autonomia. Cria e defende grupos que aprendem a se confrontarem, porque as regras determinam contrariedades justas. As regras, as leis, se baseiam no conhecimento de que somos os únicos a controlarem o destino.

Deus está escondido atrás dos nossos olhos, num vazio pleno de infinitas oportunidades.

sexta-feira, 14 de março de 2014

TUDO O QUÊ JÁ TINHA QUE EXISTIR...

Quantas vezes nestes dois últimos anos eu me deparei com a verdade de que nada sei, pior, de que nada sei do que jamais supus existir? Não posso dizer que era uma pessoa que selecionava os temas, sempre tive profunda curiosidade por quaisquer assuntos de categorias bastante abrangentes – mesmo aqueles considerados de veracidade questionável. Por que tais assuntos – ignorados por mim – jamais foram percebidos?

Porque toda ignorância é uma bênção – esperando o momento certo.

Não estou falando de palavras ocultas ou de conhecimentos místicos que poderiam se enquadrar em assuntos desconhecidos, porém já ouvidos. Eles estão lá, esperando um movimento nesta direção quando eu quiser, em estantes de livrarias ou obscuros sebos. Falo de assuntos que, por mais que eu procure nos links mais excêntricos da rede, jamais ouvi um comentário sequer. Na verdade foram temas que escorregaram de meus dedos e se transformaram em lendas de uma imaginação instintiva: o momento certo.

Precisava rever alguns conceitos – crenças limitadoras e incoerentes – se quisesse abrir os olhos para estes tópicos. No meu caso estamos falando de uma doença incurável. Todas as perspectivas mudam de contexto, e assim as ações precisam ser repensadas. Com base em que? Na perspectiva de que eu venha a sofrer? Ou morrer? E todos, mesmo sem tais problemas insolúveis, não correm os mesmos riscos? O bom é que estes obstáculos sempre tem um caráter de transformação interior que poucas pessoas – que não passaram por problemas insolúveis ou medos excruciantes – compreendem, porque precisam experimentá-las na totalidade de suas consequências.

A explicação mais clara que eu encontrei foi dita por Wayne Dyer: “...você não compreenderá estas coisas, mas quando chegar lá, descobrirá que fazem sentido”.

Isto quer dizer que em algum momento de sua vida – e este tempo chegará hoje ou daqui mil anos, pouco importa o tempo, que não existe –, você estará pronto para lutar por suas verdades. A palavra lutar não corresponde ao sentido que eu gostaria de descrever, porque não se trata de uma contenda entre forças antagônicas, mas das percepções que constroem o ego e se rivalizam e se chocam porque começam a se reconhecer – a princípio – contrárias e sobrepostas. No fim, esta luta não exclui. Todas as percepções, mesmos as divergentes, se completam e assumem que o conhecimento não deve ser considerado parcial, por causa das experiências que, ao mesmo tempo em que confirma ou invalida o conhecimento, insinua que existe algo além deste que nós traduzimos por intuição.

Mas e quanto aos assuntos que comentei e eram para mim obscuros e inimagináveis! Na verdade eu possuía algum “conhecimento” apesar de não saber como este agia. Em algum momento eu percebi que podemos nos conectar com uma energia, e aqui podemos chamá-la de Deus. Eu a conhecia por Fluido Cósmico Universal e a descrição contida no Livro dos Espíritos é:


27. Há então dois elementos gerais no Universo: a matéria e o espírito?

Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas, ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o espírito não o fosse. Está colocado entre o espírito e a matéria; é fluido, como a matéria é matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que não apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.

Poderíamos chamar de hálito de Deus, ou como estamos acostumados a ler, o Verbo como João escreve: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam”.

São descrições válidas, porém incompletas. Não que a informação completa pudesse ampliar o conhecimento, o erro está em buscar entender o texto com base nas explicações dadas e difundidas por intérpretes. Henry Ford chamava este fluido de corpúsculos espirituais e percebia que a ação do pensamento [espírito] podia produzir uma infinita variedade de ações.

Ford: Como já disse antes, quando pensamos em alguém ou em algo, uma parte da nossa energia vai até esse alguém ou algo, utilizando os corpúsculos espirituais como veiculo. Os corpúsculos espirituais existem não só dentro de nós, como também fora de nós, envolvendo-nos, formando o ambiente ao nosso redor e influindo no nosso temperamento, no estado psicológico e na saúde.
Mais precisamente no âmbito do pensamento que atrai, há 85 anos uma religião, uma filosofia, ensinava que o pensamento se concretizava quando era impresso neste fluido, denominado aqui como o mundo da imagem verdadeira. No budismo, este fluido é o estado búdico que é simplesmente o nosso estado original e de capacidades infinitas que estão camufladas por ilusões e medos. Parece-nos certo criar medos e viver de acordo com esta regra de autodefesa, reconhecendo no medo a ação do mal. Mas toda a ação do mal passa pelo crivo da bondade de Deus. Ou seja, estamos sendo incoerentes quando afirmamos ter fé em um Deus perfeito, onisciente, onipotente e onipresente e, ao mesmo tempo, apoiar todas as nossas resoluções na ideia de que o homem é imperfeito, pecaminoso e precisa aprender a compaixão se quiser sobreviver. Então onde fica o fato de que somos como Deus, filhos de Deus que são bons perante Seus olhos:

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento. E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento; e assim foi.

E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto”. Gênesis 1:26-31

sábado, 8 de março de 2014

131 - estar certo é estar errado.

As ferramentas que nos permitem o autoconhecimento também são sistemas, e como todo sistema de crença, são parciais e limitantes. Mas se quiser extrapolar estas informações usando o conceito que dá escopo a todos os sistemas, terá uma diretriz a guiar suas observações.

Dentro das constelações familiares, a adoção é uma brutalidade, e aqui eu não me refiro aos órfãos, se bem que é impossível haver um sem qualquer parentesco. Esta informação diverge daquilo que eu acolhi ser o correto e usava esta informação para criar estruturas de pensamento condizentes com este conceito de que a adoção é um ato de amor. Como a adoção poderia ser um ato de transgressão às leis de amor, mas quais leis de amor?

O erro está na ideia de que agir com compaixão é minimizar os danos gerados por ações negativas que advém de ações aceitáveis. Escolhemos adotar uma criança porque é mais fácil lidar com as consequências do que com a fonte. O correto seria atuar na causa do abandono e não reparar estas ações. Promover o bem-estar da família é garantir a coesão familiar. Não queremos realmente ajudar estas famílias que foram corrompidas por sistemas de crenças segregacionistas e injustos, porém interferimos onde achamos tolerável agir. Esta é uma ideia válida, no entanto estamos tão acostumados a agir conforme estas regras – sejam humanas ou religiosas – que provavelmente alguém deve estar pensando que eu sou contra. Por eu estar dentro deste sistema de crenças, também concordo com a adoção nos termos que hoje são regulados. Mas isto não tira a oportunidade de pensar no que realmente a adoção se propõe. É óbvio que em casos de perigo ainda precisamos intervir porque não fomos capazes de criar meios de se evitar as causas primordiais do abandono, da crueldade e do cárcere.

Pensamos que os problemas familiares são problemas do Estado e quando adotamos estamos fazendo um favor, mesmo aqueles que admitem que a adoção é um presente precisam arcar com as consequências que esta ação provoca no sistema familiar de origem. Não estou querendo fazê-los desistir da ideia, nem que os seus ideais de amor e compaixão se esmoreçam, mas quero fazê-los pensar o quanto aceitamos calados a destruição das famílias. Essencialmente estamos minimizando os danos e não solucionando-os.

Nas constelações familiares, a pessoa que se encontra fora do sistema, tende a criar mais desarmonia, ocasionado ações reparadoras desta exclusão que podem ser tão negativas quanto à ação original. Porque este sistema afirma que existe 1 - a necessidade de pertencer ao grupo, 2 - a necessidade de equilíbrio entre o dar e o receber nos relacionamentos e 3 - a necessidade de hierarquia dentro do grupo. Se nos parece um sistema rígido, diferente do que afirmamos ao considerar, por exemplo, a adoção uma ação imprescindível e magnânima, também é bastante plausível.

E os sistemas de crenças cármicas, onde nascemos exatamente onde deveríamos nascer? O erro está em aceitar que um sistema está em desacordo com o outro. Um se refere às causas que geram as escolhas, o outro, às ações que podem nos adequar às escolhas. Um outro, aos porquês destas escolhas e assim se segue infinitamente. Uma doença tem origem na culpa que carregamos por ações passadas, as suas causas e porquês geram as escolhas. Estas escolhas obedecem às necessidades requeridas por nós, sejam para redenção ou aprimoramento. Elas parecem destino, mas não passam de caminhos para se chegar lá, são livres-arbítrios e precisam de um meio onde criar, usufruir e destruir as ilusões que queremos extinguir. Este meio é regido por muitos sistemas que se integram para criar o melhor cenário possível para as escolhas, no caso, a doença.

A adoção é uma condicionante permitida por alguns sistemas, e as ações – sejam cármicas ou sociais – permitem e se adequam às escolhas dos envolvidos, portanto não existem falhas no que concerne às ações unificadas de Deus. O conhecimento destas informações explicam e oportunizam a reparação de outros danos – psicológicos, por exemplo –, e ampliam a experiência de que o problema está na nossa percepção do que é certo ou errado, se devemos ampliar nossas atuações ao âmbito da família.


“Quando os filhos não podem ser criados por seus próprios pais, a melhor alternativa serão provavelmente os avós. Estes, em geral, se aproximam mais das crianças. Se conseguem atraí-las, quase sempre cuidam muito bem delas – e a devolução aos pais é bem mais fácil. Não havendo avós vivos, ou caso eles não possam assumir o encargo, a próxima escolha é usualmente uma tia ou um tio. A adoção é o último recurso, e só deve ser cogitada quando ninguém da família está disponível.

Segundo minha experiência com famílias, o fator crucial são as intenções dos pais adotivos. Se realmente agirem no melhor interesse da criança, a adoção terá boa possibilidade de sucesso. Contudo, pais adotivos raramente consideram o interesse da criança, e sim o seu próprio: não podem ter filhos e se rebelam contra as limitações que a natureza lhes impôs. Implicitamente, pedem à criança que os proteja de seu desapontamento. Quando é esse o caso, o fluxo básico do dar e receber, bem como a ordem dos relacionamentos, desarranja-se logo de começo; os pais sofrerão as consequências de seus atos ou sofrerão os filhos.

Quando os parceiros adotam uma criança movidos por suas próprias necessidades e não pelo bem-estar dessa criança, efetivamente a tomam dos pais naturais para beneficiar-se. É o equivalente sistêmico do roubo de crianças; por isso traz consequências muito negativas ao sistema familiar. Na verdade, não importam os motivos que levam os pais naturais a enjeitar um bebê; os pais adotivos costumam pagar o mesmo preço. Sucede com frequência que casais se divorciem depois de adotar uma criança por motivos impróprios. Sacrificar o parceiro é a compensação por privar os pais naturais de seu filho. Em famílias com quem trabalhei, as consequências de adotar filhos por razões impróprias incluíam divórcio, doença, aborto e morte. Em sua forma mais destrutiva, essa dinâmica exprimiu-se pela enfermidade ou suicídio de um filho natural do casal.

Também não é incomum que filhos adotivos detestem seus novos pais e desprezem o que recebem deles. Nessas famílias, sucede muitas vezes que os pais adotivos se sintam secretamente superiores aos pais biológicos; o filho, talvez inconscientemente, demonstra solidariedade para com os pais naturais.

Às vezes, os pais naturais entregam os filhos para adoção sem necessidade. Então os filhos sentem um legítimo ressentimento contra eles, mas os pais adotivos é que passam a ser o alvo desse ressentimento. E as coisas pioram quando os pais adotivos assumem o lugar dos pais naturais. Se os pais adotivos têm consciência de que agem em substituição aos pais verdadeiros, os sentimentos negativos se concentram nestes e os adotivos ganham o reconhecimento que merecem. Trata-se de um grande alívio tanto para os pais quanto para os filhos adotivos.

Quando os pais adotivos ou de criação agem no interesse da criança, eles têm consciência de que são meros substitutos ou representantes dos pais biológicos, a quem ajudam a realizar o que não estava a seu alcance. Eles desempenham um papel importante, mas na qualidade de pais adotivos vêm depois dos pais biológicos, não importa o que estes sejam ou tenham feito. Se essa ordem for respeitada, os filhos podem aceitar e respeitar os pais adotivos.”

Bert Hellinger, A Simetria Oculta do Amor, Ed. Cultrix, pg. 121

terça-feira, 4 de março de 2014

130 - forças antagônicas e complementares

Forças antagônicas e complementares parecem uma anomalia da natureza que define dois aspectos da natureza humana, que tudo quer saber ou tudo quer se opor. Mas sem os opostos não existiria a compreensão, como você saberia se algo é bom se não tivesse noção do que é ruim? O problema é que queremos destruir o oposto negativo que gera sofrimentos e conflitos.

Se Deus joga dados? Claro e evidente que sim, porém é certo que não. Ficou confuso. Decerto foi lhe dito que as respostas só podem ser sim e não. Um ou outro. E se fossem ambas? Não somos preparados para perceber que as ideias divergentes servem para nos possibilitar visões amplas e não criar sistemas separados de julgamentos baseados em percepções e crenças limitadas e preconceituosas. Pois quaisquer divergências de opiniões geram preconceitos. Preconceito é a ideia, opinião ou sentimento desfavorável formado sem conhecimento abalizado, ponderação ou razão; mas  precisamos perceber que nem sempre esta opinião desfavorável é sem crítica ou razão. 

 Existem sistemas de crenças que se confrontam simplesmente por estarem em oposição aos conceitos defendidos por outro sistema: capitalismo e comunismo, cristianismo e islamismo, católicos e ortodoxos,  xiitas e sunitas, europeus e africanos, eugenia e miscigenação, homossexuais e heterossexuais, ricos e pobres, alopatia e homeopatia, democracia e ditadura, chá e café...

Sempre estaremos defendendo o nosso sistema, ou sistemas de crenças, em detrimento do que combinamos ser felicidade. Todos os sistemas partilham de um “O SISTEMA”, pois a base de todos os sistemas são simples e se aplicam a todos os sistemas. Conhecer, ou ter conhecimento, de todos os sistemas pode se perigoso para aqueles que defendem alguns sistemas e se opõem a outros. Entretanto, se perceberem o fator de união entre os sistemas, fica evidente que a diversidade de sistemas servem para ampliar o conhecimento e a experiência, sem julgamentos, mesmo que este se torne quase impossível, já que somos criados por um sistema que nos modela.

Deus possui várias imagens conforme o sistema de crença em que Ele é compreendido, por vezes se apresenta como deuses ou é amorfo. Mas na base destas expressões, Deus continua a ser onipotente, onipresente e onisciente; é amor. E nos sistemas de crenças Ele assume formas e se contraria porque precisamos temê-lo ou simplesmente aceitar que homens falem por Ele e deturpem algumas ideias. Contudo é esperado em um sistema de crença que quer se opor ou destruir outro sistema.

O que não percebemos é que os sistemas de crenças se sobrepõem e suas ações aparentemente divergentes se baseiam nas obrigações do indivíduo em. Em um sistema religioso que prioriza a extinção do ego, diz-nos que existem pessoas ou grupos que querem experimentar estas ações e não obstruir as demais crenças religiosas porque elas não priorizam estas Verdades. Em outros sistemas temos pessoas que querem sofrer voluntariamente para se alcançar  o aperfeiçoamento espiritual. E existem tantos sistemas quantos forem as necessidades de cada ser.

No budismo: “É tolice e desnecessário a uma pessoa continuar sofrendo simplesmente porque não alcançou a iluminação, quando esperava alcançá-la. Não há insucesso na iluminação, portanto a falha reside nas pessoas que, durante muito tempo, procuraram a iluminação em suas mentes discriminadoras, não compreendendo que estas não são as verdadeiras mentes, e sim, falsas e corrompidas, causadas pelo acúmulo de avidez e ilusões toldando e ocultando as suas verdadeiras mentes. Se este acúmulo de falsas divagações for eliminado, a iluminação aparecerá. Mas, fato estranho, quando os homens atingirem a iluminação, verificarão que, sem as falsas divagações, não poderá haver iluminação”.

Conhecendo a base dos sistemas, poderemos apreciar as suas consequências sem as aflições do que consideramos sofrimento. Quero dizer, será realmente sofrimento o que nos aflige? 

Eu particularmente começo a integrar vários sistemas de crenças e percebo que quaisquer considerações que fizermos será baseado em sistemas que são intrínsecos a nós. É  muito difícil não julgar já que temos certos protocolos instalados em nosso subconsciente. Um dos meus sistemas é o espiritismo e ideias como ação e reação, causa e efeito, carma sempre dirigiram os meus pensamentos, adequando outros sistemas aos meus [pre]conceitos.

Quando apareceram outros sistemas que pareciam reescrever estas ideias eu quase cogitei, conscientemente, em rever ou eliminar o sistema de crença que me animava os pensamentos originais. As diferenças eram aparentes porque as explicações foram criadas e mantidas por pessoas que jamais poderiam conceber a ideia de unificação ou simplificação. Eles estavam errados? Não, simplesmente não imaginaram que suas palavras pudessem ser expressas de outras formas, dando margem a interpretações desconexas. Na Bíblia temos o dente por dente e o amai-vos uns aos outros que se adequam àqueles que preferem agir conforme as opções contraditórias.