domingo, 17 de abril de 2016

O QUE É PRECISO PARA SE TER A TAL 'FÉ LOUCA' [1]



PASSO 01.

Quando nós nos tornamos reféns das opiniões alheias? Quero dizer, em quais ocasiões podemos afirmar nossas verdades sem parecer que somos intransigentes, inflexíveis e intolerantes? Realmente quero dizer, quando eu posso afirmar que as minhas convicções são as melhores? Ou aceitar que posso estar errado? É indigesto porque existe um choque, um conflito, entre aqueles que acham saber o que é melhor para você e aqueles que teimam em manter suas decisões baseadas em suas experiências.

A diferença é que, mesmo havendo boas experiências, elas podem estar pautadas em suposições ‘inflexíveis’ sobre o que você entender por...

No meu caso, por mais que eu tente explicar o que é ser um ‘doente incurável’, a verdade recairá na ‘autoridade’ que estuda e ‘diz’ conhecer profundamente a enfermidade. Assim sendo, as minhas impressões parecem nada valer quando a maioria ‘saudável’ tenta imprimir suas convicções sem sequer analisar o que está sendo dito pelo ‘doente’. Admito que posso estar reagindo com insurreição às tentativas de me ajudarem, mas e se eu estiver certo das minhas próprias convicções, das minhas verdades e experiências.

Decerto estamos nos intrometendo onde não devíamos. Eu sei que, na maioria dos casos, as pessoas podem estar tão abatidas e fracas que precisam de um ombro amigo. Porém e quando aceitamos nos ‘curar’ e procuramos ‘entender’ novos paradigmas, quase sempre paradoxais, ou seja, pensamento, proposição ou argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar o pensamento humano, ou desafia a opinião consabida, a crença ordinária e compartilhada pela maioria. Então todos começam a agir como ‘obstáculos’, influindo e dificultando o que pode ser o ‘caminho’.

Um deles é agir com ‘fé em Deus’, confiando em ‘devaneios’ que são ditados por aqueles que superaram e suplantaram os medos decorrentes das dificuldades, como os casos de pessoas curadas de doenças incuráveis. Por outro lado é ter que agir com ‘fé em Deus’, confiando em hábitos e verdades pautadas nas fontes mais seguras afirmadas pela ciência.

Eu gosto da ciência, mas em algum momento ela restringe. Ela dita regras que estão sendo analisadas por métodos falhos. A premissa não é isenta de erros porque o homem comete erros de julgamento. Podem não ser propositais, contudo é de nossa natureza destrinchar e analisar coisas que só são compreensíveis no todo.

E se eu me submeto a ‘alguém ou algo’ superior a mim, ou seja, a Deus – ou o nome que você queira dar –, parece que estou cometendo blasfêmia, um insulto, contra todos aqueles que dizem acreditar em Deus e esperam que você se submeta à ciência inconclusiva dos homens.

Fico confuso quando não acho hilário. Passei anos tentando entender o que significa ‘ter fé em Deus’ porque para isso eu precisaria abrir mão das ‘verdades humanas’ e confiar em ações tão pouco expressas que soam como mágica ou tempo morto. Gosto de uma história que o Dalai Lama contou no livro A Arte da Felicidade e assim podemos entender melhor o que quero dizer:

— No esforço de determinar a origem dos problemas de cada um, parece que a abordagem ocidental difere sob muitos aspectos do enfoque budista. Subjacente a todas as variedades de análise ocidental, há suma tendência racionalista muito forte, um pressuposto de que tudo pode ser explicado. E ainda por cima existem restrições decorrentes de certas premissas tidas como líquidas e certas. Por exemplo, eu recentemente me reuni com alguns médicos numa faculdade de medicina. Estavam falando sobre o cérebro e afirmaram que os pensamentos e os sentimentos resultam de diferentes reações e alterações químicas no cérebro. Por isso, propus uma pergunta. É possível conceber a sequência inversa, na qual o pensamento de ensejo a sequência de ocorrências químicas no cérebro? Mas a parte que considerei mais interessante foi a resposta dada pelo cientista. “Partimos da premissa de que todos os pensamentos são produtos ou funções de reações químicas no cérebro.” Quer dizer que se trata simplesmente de uma espécie de rigidez, uma decisão de não questionar o próprio modo de pensar.

Gosto de ver que as minhas premissas ou prerrogativas jamais serão plenamente partilhadas pelos outros, por quê? Porque não existe a possibilidade de que as minhas experiências e o modo como eu as compreendo sejam idênticos ao dos outros e é exatamente isto que torna as nossas vidas mais interessantes, os conflitos.

Ademais, as dificuldades também podem fazer parte do processo. E foi assim que eu conheci outras peças do jogo.

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