
Certa vez,
num workshop eu disse que acreditava que cada parte de cada pessoa
é um recurso valioso. Uma mulher me disse: "Essa
é a coisa mais burra que jamais escutei!”.
“Eu não disse que era verdade. Eu
disse se você acreditava que, enquanto terapeuta, você iria conseguir muito
mais”.
"Bom, isso é completamente
ridículo".
"O que é que te faz crer que isso
é ridículo?"
"Tenho partes em mim que não
valem dez centavos. Simplesmente me atrapalham. É só o que fazem".
"Diga uma".
"Tenho uma parte que,
independente do que eu fizer, toda vez que eu tento fazer alguma coisa, ela
simplesmente me diz que não posso fazê-lo e que irei falhar. Faz com que tudo se
torne duas vezes mais difícil do que o necessário".
Disse que
havia sido uma aluna evadida da escola secundária e que, quando decidira
retornar aos estudos, essa parte dissera: "Você
nunca irá conseguir; você não é boa o suficiente para isso; você é burra
demais. Será embaraçoso. Você não vai conseguir". Mas ela conseguiu. E
mesmo depois de ter feito isso, quando decidiu entrar na faculdade, essa parte
disse: "Você não irá ser capaz de terminar".
Então eu
disse: "Bem, gostaria de conversar
diretamente com essa parte". Isso sempre pega o pessoal da AT, diga-se
de passagem, porque isso não existe em seu modelo. Certas vezes fico falando e
olhando por cima de seu ombro esquerdo e eles ficam todos doidos. Mas esse é um
mecanismo de ancoragem verdadeiramente eficiente porque a partir de então toda
vez que se olha por cima de seu ombro esquerdo só aquela parte consegue
escutar.
"Eu sei que essa
parte de você está lhe prestando um serviço de grande importância e que é muito
matreira na forma como o realiza. Mesmo que você não aprecie o trabalho por ela
executado, eu o aprecio. Eu gostaria de dizer a essa parte que, se ela tivesse
vontade de contar à sua mente
consciente o que vem fazendo por ela, então talvez essa parte pudesse receber um pouco do apreço
merecido”.
Então, fiz com
que ela se voltasse para seu interior e perguntasse à parte o que de positivo
era que vinha fazendo; a resposta: "Estava
te motivando". Depois de ter-me revelado isso, ela comentou: "Bem, acho isso uma loucura".
Eu disse: "Mas sabe, não acho que você fosse
capaz de vir aqui em cima e trabalhar na frente deste grupo todo". Ela
levantou-se em atitude desafiadora e atravessou a sala, depois se sentou.
Aqueles que já estudaram estratégias e que compreendem o fenômeno da resposta
de polaridade irão reconhecer nesta parte apenas um Programador Neurolinguista
que sabia da utilização. Essa parte sabia que se dissesse: "Ah, você
consegue entrar na faculdade, você pode fazê-lo", ela teria dito:
"Não, não posso mesmo". Contudo, se essa parte lhe dissesse:
"Você não irá conseguir passar esse ano", ela diria então: "Ah,
é?" e a seguir iria para a rua fazer aquilo mesmo.
E então, o
que teria ocorrido com aquela mulher se de alguma forma tivéssemos conseguido
com que aquela parte parasse de proceder daquela forma, contudo deixando de
mudar todo o resto? Ela não teria mais forma alguma de se motivar!
Sapos em
Príncipes, Richard Bandler.
Dando continuidade
ao assunto, os conflitos são importantes para o desenvolvimento humano,
infelizmente não sabemos como encarar tais obstáculos.
Quando eu
disse que devemos enfrentar o problema com resignação ou gratidão, não estava
querendo ser sádico ou mesmo insensível às complicações emocionais que tais
conflitos geram. Nem dizer que devemos ser apáticos, mesmo porque fingir não se
importar ou se importar será a mesmíssima coisa. E não ser afetado ou se
importar diante dos conflitos parece um contrassenso.
A proposta é
a seguinte: o que faz “isto” lhe parecer um conflito? Você já se perguntou se
as suas prerrogativas, as suas ideias sobre o que parece ser conflito, não
poderiam ser falhas?
Faça-se uma pergunta, sabemos
exatamente quem somos?
Explico, pensamos que temos uma personalidade que nos define. Aparentamos uma
imagem que acreditamos ser a nossa expressão interior. Mas isso é uma ilusão.
Somos constantemente moldados pelo meio, por nossas reações ao meio e,
apresentamos múltiplas máscaras que nos intermediam. São mecanismos naturais de
sobrevivência. Nós chamamos de ego, mas não percebemos o quanto ele é volátil e
não confiável. O ego, ou melhor, as máscaras que usamos, são estruturas
psicológicas que tentam nos proteger dos conflitos a partir de modelos que
“supomos” eficientes. Ou você acredita que os pais amam os seus filhos
igualmente?! Nem tem como, pois mostraremos um comportamento diferente para
cada tipo de pessoa, ou situações.
Então
poderemos criar máscaras que possam até se contradizer, tornando o ego cada vez
mais instável. É esta imagem distorcida que não nos permite raciocinar. Não por
pura lógica, porém por um raciocínio baseado no amor que não escolhe. Não toma
partido. Não julga saber.
Como eu disse
antes, a premissa errada cria os modelos que geram conflitos. Os modelos foram
e são criados pela sociedade, ou seja, nossos antepassados. Mas os maiores culpados
por perpetuar tais modelos – baseados no medo – somos nós. Admitimos que
desejamos ser oprimidos por modelos que já não correspondem aos fatos já
desvendados. Mas vamos falar disso depois. O que nos importa agora é como rever
os modelos e apresentar novas diretrizes.
Deveríamos
começar por: há um destino a nos
governar, porém somos nós que criamos o nosso destino. Você vai perceber
que as novas ideias já não se baseiam mais em escolhas, mas sim em abranger o
todo. Isto é, adotar todos os pontos de vistas como certos a partir de uma
aceitação das ausências que
construíram o ponto de vista que tanto pode nos parecer contraditórias, para
não dizer mau ou bom. Este é o princípio da compaixão, aceitar as diferenças. E
ainda não é o suficiente, não é uma questão de resignar-se e permitir que a
opressão continue existindo.
Tiago saltou
para a areia e desenhou um circulo perfeito. ― Este é o símbolo Yin e Yang,
de equilíbrio e é um ciclo eterno. Somente isto pode explicar o seu paradoxo.
Como não há tempo, não existem paradoxos, simplesmente é.
Não
precisamos de um começo e um fim?
Tudo já
foi determinado, as nossas vidas são como personagens definidos...
Eu chamo
isto de destino implacável. ― como
não ser.
Se fosse
destino, o espírito não teria esperanças e nem pretextos para experimentar.
Tudo é determinado antecipadamente, no entanto o espírito escolhe como usufruir
desta liberdade, pois os grilhões e os obstáculos são criados por nós mesmos.
Somente nós acreditamos que o tempo é linear, quando seria mais eficiente que
ele se comportasse como neurônios ou redes virtuais com links de
interesse e não pela correnteza irreprimível de eventos. Como poderá aceitar
que as influências, cuja origem é imperceptível, provêm de todos os tempos e
todos os lugares? O que te impede de ir aonde quiser, passado ou mundos da
fantasia...
Quer dizer
que as mesmas impressões sentidas por existências anteriores, podem vir do
futuro? ― não ia me
estender, estava ficando apreensivo.
Sim e não.
As coincidências – que não são bem coincidências – estão te encaminhando para
um futuro, reunindo as ferramentas que serão úteis para melhor se adequar. Tem
consciência deste processo porque não está mais preso ao passado e o presente
te constitui um mecanismo de transição. Os novos objetivos te alavancaram para
outros desígnios que estão sendo apresentados como informações para vencer os
excessos e disciplinar a mente!
O livro de
Mateus.
A opressão é
criada pelo medo.
Aceitamos
inverdades que nos moldam o ego. Por exemplo, nos sujeitamos a artimanhas para
sobreviver em um mundo violento e hostil. Preferimos duvidar e nos proteger de
algo que não existe efetivamente. Temos medo de morrer ao sair todos os dias,
vemos constantemente assassinatos, que devemos nos proteger. Em uma grande
cidade, o número de assassinatos representam 0,003%, mas o nosso medo se amplia
e gera uma reação incontrolável e ilógica.
Todos já
devem ter ouvido, não cai uma folha da árvore sem que Deus o saiba. Então você
vai continuar se preocupando com coisas que realmente não podem ser controladas
por você? Todo o nosso ser acredita que se não interferirmos, se nós tentarmos
controlar o meio e nos proteger, Deus não será capaz.
Sem o medo,
sem a nossa presunção por tentar controlar, o fluxo da vida se encaminhará para
o destino. Sem obstáculos, sem conflitos, pois estes surgem com o objetivo de
nos redirecionar para o nosso destino. Eu disse que há um destino a nos governar, porém somos nós que criamos o nosso
destino. Parece contraditório, contudo somos nós que teimamos em catalogar
e escolher lados, para Deus, todos os lados são uma excepcional escolha.