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sábado, 25 de janeiro de 2014

124 - Deus joga moedas.

 Um artifício que utilizo para decidir temas tão importantes quanto aos tratados nos últimos oito artigos, é usar a moeda. Nestas questões onde grandes massas se chocam, contra e a favor, enfrentando-se como ferozes inimigos, cada um defendendo as suas verdades elegidas, eu recorro à moeda que me falará, como um oráculo, quem está certo.
 
Não se assustem se estou confiando as minhas premissas, as minhas escolhas pessoais, à decisão de um lançamento de cara ou coroa. Qualquer uma das posições defendidas, seja a ideia inata de que nascemos com o destino traçado – em síntese –, ou aprendemos com a experiência, serão ideias parciais.

Jogar a moeda só determinará a qual grupo eu pertencerei e definirá as experiências desta vida. Mas se a moeda cair do avesso, todas as suas experiências serão diferentes. Sempre estamos decidindo os valores de nossas escolhas através da moeda. Não existem diferenças, senão aquelas que julgamos existir. A moeda é apenas uma distração para que acreditemos que estamos no controle da vida. A moeda brilha e ofusca para que não percebamos a nossa ignorância.

Qual ignorância?

De que a moeda tem os dois lados iguais. E decidir quais caminhos queremos percorrer só serve para nos iludir, pois qualquer escolha é uma escolha sensata. O problema está em supor que deveríamos seguir outro caminho porque “temos que ter o controle”, e sofremos enquanto não fizermos o que as escolhas querem.

É quase a mesma questão: Deus joga dados?

Quando vamos compreender que as escolhas, sejam antagônicas ou ligeiramente parecidas, são os dois lados de uma mesma moeda. Decidir por um lado é negligenciar o outro. E se quisermos ser felizes, precisaremos ser o todo, absorver os lados e entender que não existem diferenças, só opiniões, julgamentos e preconceitos que nascem parciais. De um dos lados.
Deus joga dados quando precisa nos ensinar que as partes, os lados, são meios. E também não arremessa os dados por uma questão bastante óbvia, Ele não joga dados. Isto é o ciclo da verdade, o ying e o yang e o carma. Enquanto precisarmos dos opostos para entender o todo, os dados cairão.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

DETONA RALPH

Em uma outra oportunidade eu comentei que as nossas vidas se pareciam com a de personagens de videogames [carma mario bros] porque somos controlados com o objetivo de executar determinada tarefa imposta pelo jogador/usuário, que no nosso caso poderíamos chamar de espírito.

E eu deixei bem claro – pelo menos tentei – que este destino não é tão inflexível assim. Temos um objetivo traçado pelo espírito, que somos nós aliás, e ele se encarrega de nos guiar, mas todo o resto para se alcançar este objetivo/destino dependerá do nosso livre-arbítrio. Quando este livre-arbítrio se funde ao ego, declarando veementemente que o espírito deve estar errado, então entramos em conflito e a máquina emperra.

Ralph sabe muito bem que para sair de seu papel de “detonador” malvado, para se tornar um herói não é fácil. Ele tem que preencher o espaço pelo qual foi criado. Conosco é assim, não suportamos fazer o que o destino quer e saímos em busca daquilo que possa promover felicidade.

Mas a felicidade não é um produto, não se pode ter felicidade ou compra-la eternamente, este estado é temporário e viciante. Estamos sempre aumentando as nossas expectativas para elevar o grau de satisfação do que chamamos de felicidade. Na verdade, Ralph percebe que a felicidade estava em cumprir o seu papel naquele jogo. E foi reconhecido por ser exatamente assim.

Isto me fez pensar em duas coisas: o bem e o mal são complementares, só podemos perceber o bem se o mal for assimilado. Não quer dizer que precisamos ser o “mal”, mas se não o reconhecermos, estaremos negligenciando todas os nossos aprendizados. Um pouco disto está explicito em 004MH5 – naruto. Segundo, a felicidade não é uma conquista, pertence a nós, porém nos comprazemos em criar ideias errôneas em relação a todas as coisas e assim se formaliza um estado de ausência que deprime. Será que, se não criássemos estes vínculos com o ter, não seríamos mais felizes?

Num jogo de videogame, o personagem deve seguir o seu destino como determinado pelo programador, sem espaço para rebeldias. No nosso mundo, o destino é apenas, ou são apenas direcionamentos que estão alinhados com as necessárias aquisições do espírito. Não quer dizer que teremos uma vida controlada, sem desejos e vontades próprias. Neste caso, quando extremo, a vida se encarrega de nos chamar ao compromisso. O que causa muito sofrimento se não entendermos que, por pior que pareça, talvez seja a alternativa mais fácil. É só nadar a favor.

E quem disse que a escolha de papeis indignos devem ser esquecidos? Ralph aprendeu que a sua função destrutiva permitia o crescimento das funções construtivas de todos os personagens. Portanto, pense duas vezes antes de condenar alguém que te pareça infringir sofrimentos e medos, porque ele pode ser uma ferramenta para o seu crescimento.

Em um desses dias li um comentário feito a um praticante do budismo que queria crescer, mais algumas pessoas e situações o prejudicava. Tal comentário sugeria uma retirada de campo, se afastar dos problemas e exercitar a compaixão em meio à serenidade. Concordo, contudo, ao se fugir destes embates – que são fórmulas mágicas – estaremos perdendo a chance de aprender o que viemos aprender. Parece difícil, mas é pior do que parece. O melhor é observar, alguns diriam discernir, e colher informações, sem se afligir.

De todos os ensinamentos budistas, o que mais gosto – depois da parábola do Detona Ralph – é a da Cidade fantasma: um grupo de viajantes, tendo ouvido falar de uma cidade cheia de tesouros, parte para enfrentar uma difícil jornada. Para chegar à cidade, teriam de percorrer uma estrada extremamente longa que atravessava desertos, florestas e terras perigosas.

Nenhum trecho dessa estrada era seguro e os viajantes teriam de ter muita coragem e persistência para atingir sua meta.

Haviam completado mais da metade da jornada e acabado de sair de uma densa floresta quando o guia, que conhecia bem o caminho, avisa que logo iriam se aventurar por um deserto. O sol escaldante e as fortes tempestades de areia provaram ser demais para eles. Os viajantes estavam tão cansados que começaram a perder a coragem e a querer desistir dos tesouros em troca da segurança de seus lares que haviam deixado para trás.

O guia, contudo, estava determinado a levar todos, não importando como. Ele usa então seus poderes místicos para fazer aparecer uma cidade no meio do deserto. Num instante, os viajantes tiveram uma visão fantástica. Surge do nada um lindo oásis repleto de árvores, por entre as quais veem uma cidade. Imediatamente, por entre as quais veem uma cidade.

Imediatamente, correram até lá com grande alegria. Todo o cansaço, as dores e o desânimo desapareceram num instante para dar lugar ao otimismo e à esperança. Eles se banharam, saborearam comidas deliciosas e dormiram tranquilamente.

Em suas conversas, nem se cogitava a ideia de desistirem da jornada e de retornarem aos seus lares. Na manhã seguinte, logo que despertaram, ficaram estarrecidos ao ouvir o guia dizer-lhes que tinham de deixar aquele lugar maravilhoso e seguir viagem. Mas este é com certeza o paraíso que procuramos por tanto tempo! – exclama um deles.

Não – responde o guia – os senhores ainda estão na metade da jornada. Este é somente um ponto de descanso, uma lugar para refrescarem-se. Acreditem!

O destino final é muito mais belo que esta cidade e não está tão longe. Agora que tivemos tempo para descansar e relaxar, vamos continuar nossa viagem. Dito isso, a cidade desapareceu na areia.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

o sistema operacional









Os modelos são como um sistema operacional do computador. Simples e tem uma ação de dar suporte ou “fazer funcionar” o corpo, no caso o computador. Estes modelos estão tão arraigados na matriz do programa que se comportam quase como um sistema autônomo. Em nós, é responsável por controlar todas as funções que nem sequer percebemos, e mesmo assim elas ocorrem independentemente do controle consciente. Portanto, as ações do nosso subconsciente – mental – geram as ações autônomas, assim como aqueles modelos originais que gostaríamos de poder mexer.










A ação consciente da mente é um programa de gerar pensamentos, podemos imaginar este programa como os programas de extensão de um computador que criam ou expandem a capacidade de imaginação do usuário. Programas para armazenamento e compactação de informação, para se exprimir – desenhar, escrever, ouvir, ver –, para se conectar, e por aí vai. Em nós, o usuário é a mente, ou o espírito, que se apropria do corpo e do cérebro para pensar e recriar o pensamento, adquirindo informações e interconectando-as entre si com o objetivo de gerar novas experiências. Como vimos na nova biologia, as células do corpo são como chips individuais que trabalham em simbiose/cooperativismo para gerar o processador. O cérebro não passa de um órgão de intermediação da mente com esta realidade. Assim como no computador, o harddisk – disco rígido – não tem outra função senão a de permitir que os programas funcionem e permitindo que haja interação com o meio, ou seja, o teclado, o monitor, o mouse, a impressora, a webcam e demais periféricos externam o que se processa no computador e recebem os estímulos através do usuário e do meio. Em nós, este mecanismo são os sentidos – não só os cinco – e dependem da junção do processo de pensar com os modelos pré-definidos. Se os dois valores forem antagônicos, ou simplesmente distintos, o computador não executa a ação. Duas linhas de comando que se anulam criam um erro. Em nós, o conflito.







Não admita que o computador humano trave. Existem sistemas de salvaguarda que, além de redundantes, passam por uma autoanálise para corrigir as falhas, mas não impede o conflito. Se num computador duas ações acabam em um shutdown, o homem possui a capacidade de “rodar” as duas ações que se rivalizam, o conflito. O conflito é o mecanismo que nos proporciona a percepção dos modelos, propondo-nos a escolher o melhor. Infelizmente fazemos esta escolha de forma consciente, o que causa uma certa incompatibilidade de intenções. Pois os modelos existentes não concordam com novos modelos. Quando eles são complementares, a mente admite uma adição ao programa. Os dois modelos se tornam um, sob o aspecto se ser mais hábil.













Deepak Chopra diz [sete leis espirituais do sucesso] que as escolhas estão intrinsecamente ligadas à Lei do Karma. Então:

Não há nada de novo na Lei do Karma. Todos já ouvimos a expressão “Colherás aquilo que semeares”. Como é óbvio, se queremos criar felicidade nas nossas vidas, temos de aprender a semear as sementes da felicidade. Portanto, o karma implica a ação da escolha consciente. Nós somos acima de tudo sujeitos dotados da possibilidade infinita de escolher. Em todos os momentos da nossa existência, encontramo-nos naquele campo de todas as possibilidades que nos dá acesso a uma infinidade de escolhas. Algumas dessas escolhas são feitas conscientemente, outras se fazem inconscientemente. Mas a melhor forma de compreender e aproveitar ao máximo a aplicação da Lei do Karma é adquirir o conhecimento consciente das escolhas que se fazem em cada momento. Quer isto lhe agrade ou não, todas as coisas que lhe acontecem no momento presente resultam das escolhas que fez no passado.

Infelizmente, muitos de nós fazemos escolhas das quais não temos consciência, por isso não as vemos como escolhas. No entanto, Se eu o insultasse, o mais provável seria você fazer a escolha de ficar ofendido. Se eu lhe fizesse um cumprimento, o mais provável seria você sentir-se satisfeito ou lisonjeado. Mas pense bem nisto: Não deixa de ser uma escolha. Eu poderia ofendê-lo e insultá-lo e você poderia escolher não ficar ofendido. Eu poderia fazer-lhe o cumprimento e você também poderia escolher não se lisonjear por isso. Por outras palavras, a maioria de nós apesar de sermos sujeitos dotados de uma infinita possibilidade de escolha tornamo-nos feixes de reflexos condicionados nos quais as pessoas e as circunstâncias desencadeiam efeitos de comportamento previsíveis.

Como enfrentar os modelos divergentes? A consciência percebe o problema com o velho modelo e propõe novo. Mas como a consciência se baseia nas impressões e informações parciais que o cérebro armazena e as células processam, o subconsciente tende a não acatar as suas justificativas ou mesmo aceitar as razões para que o modelo vigente seja substituído.

Temos que lembrar que a maioria dos seres humanos não tem acesso à mente ilimitada que é o usuário do nosso corpo, a mente. E o subconsciente, apesar de ter mais familiaridade com a mente, é implacável em manter os modelos. Por quê?

Porque os modelos criados e armazenados no nosso sistema operacional são “os melhores cenários possíveis” definidos por nós. Por nosso espírito que sabe das nossas necessidades. Este é o verdadeiro livre-arbítrio, a de que o espírito sabe o que faz. Faça uma comparação do nosso ego – ser físico – com um personagem de videogame e o espírito com o jogador e terá uma ideia do que quero dizer.





domingo, 29 de setembro de 2013

três conflitos


“Neste mundo há três errôneos pontos de vista: Diz-se que toda a experiência humana baseia-se no DESTINO; afirma-se que tudo é criado por DEUS e controlado por sua vontade e; que tudo acontece ao ACASO, sem ter uma causa ou condição.” A Doutrina de Buda.

O ego cria o medo que gera opressão que amplia o medo que sustenta o ego. É um círculo vicioso, assim como o carma. [22/03/13] O que justifica o carma é a ilusão. Metade do mundo tenta escapar da ilusão e a outra em não cometer pecados, mas isto é uma outra estória. Neste ciclo de nascimento, velhice, morte e renascimento, o carma é reflexo das nossas ilusões, de acreditar que a evolução espiritual depende dos obstáculos. Portanto, desfeito o apego – a ilusão de querer ou não querer, que gera o sofrimento – é desfeito o carma e a reencarnação finda. A este estado Buda se refere como iluminação ou nirvana. Quebrado o ciclo passamos a outra realidade, volto a frisar...

“É tolice e desnecessário a uma pessoa continuar sofrendo simplesmente porque não alcançou a iluminação, quando esperava alcançá-la. Não há insucesso na iluminação, portanto a falha reside nas pessoas que, durante muito tempo, procuraram a iluminação em suas mentes discriminadoras, não compreendendo que estas não são as verdadeiras mentes, e sim, falsas e corrompidas, causadas pelo acúmulo de avidez e ilusões toldando e ocultando as suas verdadeiras mentes. Se este acúmulo de falsas divagações for eliminado, a iluminação aparecerá. Mas, fato estranho, quando os homens atingirem a iluminação, verificarão que, sem as falsas divagações, não poderá haver iluminação”.

É como correr atrás do próprio rabo. Buda era o suprassumo em questão de redundância elevada à enésima potência. Nem assim os discípulos entendem – sou o primeiro a assumir minha ignorância. Como não fazer algo que precisa ser feito para se descobrir que não deveria fazê-lo! Isto me soa mais estranho do que falar sobre viagens no tempo, os tais paradoxos no qual voltar ao passado e matar o seu avô jamais permitiria a viagem.

 Será que precisamos agir assim? A resposta de Deus talvez fosse: Sim e não. Preparem-se, pois as respostas de Deus sempre serão sim e não. Existem duas intenções e elas estão certas, mas mesmo assim erradas. Esta é uma das nossas deficiências, não entender que não existem escolhas. Deus é o certo e também o errado. Ele pode não ter criado o mal, mas nos criou a sua imagem e semelhança, o que pode soar como blasfêmia – é o que eu acho, talvez seja uma destas anormalidades psicológicas que definem o nosso ego. Temos todas as qualidades dEle. Não creio que os filhos de Deus, as suas criações, possam ser falhas – de modo geral.

O que acontece é que Ele nos deu livre-arbítrio. Esta liberdade se dividiu entre culpa e êxito, o que chamamos de causa e efeito. Criamos a dualidade e começamos a experimentá-la como fazemos ao analisar as partes. Esta modalidade intrometida que chamamos de ciência e não é menos ridícula do que vemos os cientistas malévolos do cinema fazerem – modificando genes, criando máquinas temporais, baseando-se em premissas bem duvidosas. Fragmentamos e observamos as partes, o funcionamento destas frações determinam modelos. Modelos astronômicos, modelos biológicos, teorias físicas, receitas nutricionais, etc., entretanto, não percebemos que as partes respondem por uma unidade. E esta unidade cria interações, digamos, inusitadas. Como se um universo paralelo tivesse mais coerência do que o nosso. Um universo mais real.

Todos os conflitos são baseados em ideias parciais, cheias de vazios. Reagimos ao outro porque sentimos uma contrarreação que emana de nós. Parece incoerente, mas estamos em conflito com nós mesmos. O outro reage às nossas vibrações e reage contra-atacando-nos com a nossa imagem interior. Esta ideia se fortalece quando não admitimos que sejam nossas deficiências morais, nossos monstros interiores, que estão se materializando. Como aquele Espelho de Ojesed em que Harry Potter vê seus desejos, e acaba aprisionado por estas ilusões que não o levam para lugar algum, nem o passado e nem o futuro. Uma reação inconsciente daquilo que não gostamos em nós e se apresenta como um inimigo é uma outra imagem refletida no nosso espelho. Pelo menos, ao admitir tais fraquezas – e eu digo por experiência – o inimigo desaparece. E a simbiose autodestrutiva entre você e seu inimigo yourself se transforma. E se isto não acontece, o inimigo se afasta e o conflito não existirá. Por isso devemos agradecer todas as pessoas e coisas, pois são ferramentas que nos incitam a nos conhecer e a nos melhorar. 

Como disse Gandhi: Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. E os budistas dizem: Quem se vence a si mesmo é um herói maior do que quem enfrenta mil batalhas contra muitos milhares de inimigos. Mas não é muito diferente. Pois o seu pior inimigo pode se parecer com um filho, marido ou esposa, mas esta manifestação caótica não passa de uma reação exteriorizada por você, por nós. Por isso, ao aceitarmos que o outro não está errado, aceitamos que estamos errados e encontraremos meios hábeis – como se existisse outro – para sanar o erro. E este erro não alimentará o conflito. O outro muda porque cessa a animosidade que certamente se baseava em uma impressão criada por nós e projetada como um desagradável reflexo chamado de “próximo” – muito mais próximo do que gostaríamos. 

Ou seja, continuaremos odiando os outros enquanto nos odiarmos. O mestre Ananda Rinpoche disse ao discípulo que queria alcançar a iluminação ao se oferecer à meditação em uma gruta: Não há precisão de ir, pois você encontrará na caverna somente o que levar consigo.


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

dois conflitos




Certa vez, num workshop eu disse que acreditava que cada parte de cada pessoa é um recurso valioso. Uma mulher me disse: "Essa é a coisa mais burra que jamais escutei!”.
“Eu não disse que era verdade. Eu disse se você acreditava que, enquanto terapeuta, você iria conseguir muito mais”.
"Bom, isso é completamente ridículo".
"O que é que te faz crer que isso é ridículo?"
"Tenho partes em mim que não valem dez centavos. Simples­mente me atrapalham. É só o que fazem".
"Diga uma".
"Tenho uma parte que, independente do que eu fizer, toda vez que eu tento fazer alguma coisa, ela simplesmente me diz que não posso fazê-lo e que irei falhar. Faz com que tudo se torne duas vezes mais difícil do que o necessário".
Disse que havia sido uma aluna evadida da escola secundária e que, quando decidira retornar aos estudos, essa parte dissera: "Você nunca irá conseguir; você não é boa o suficiente para isso; você é burra demais. Será embaraçoso. Você não vai conse­guir". Mas ela conseguiu. E mesmo depois de ter feito isso, quando decidiu entrar na faculdade, essa parte disse: "Você não irá ser capaz de terminar".
Então eu disse: "Bem, gostaria de conversar diretamente com essa parte". Isso sempre pega o pessoal da AT, diga-se de passa­gem, porque isso não existe em seu modelo. Certas vezes fico falando e olhando por cima de seu ombro esquerdo e eles ficam todos doidos. Mas esse é um mecanismo de ancoragem verdadei­ramente eficiente porque a partir de então toda vez que se olha por cima de seu ombro esquerdo só aquela parte consegue escutar.
"Eu sei que essa parte de você está lhe prestando um serviço de grande importância e que é muito matreira na forma como o realiza. Mesmo que você não aprecie o trabalho por ela executado, eu o aprecio. Eu gostaria de dizer a essa parte que, se ela tivesse vontade de contar à sua mente consciente o que vem fazendo por ela, então talvez essa parte pudesse receber um pouco do apreço merecido”.
Então, fiz com que ela se voltasse para seu interior e pergun­tasse à parte o que de positivo era que vinha fazendo; a resposta: "Estava te motivando". Depois de ter-me revelado isso, ela comentou: "Bem, acho isso uma loucura".
Eu disse: "Mas sabe, não acho que você fosse capaz de vir aqui em cima e trabalhar na frente deste grupo todo". Ela levantou-se em atitude desafia­dora e atravessou a sala, depois se sentou. Aqueles que já estu­daram estratégias e que compreendem o fenômeno da resposta de polaridade irão reconhecer nesta parte apenas um Programador Neurolinguista que sabia da utilização. Essa parte sabia que se dissesse: "Ah, você consegue entrar na faculdade, você pode fazê-lo", ela teria dito: "Não, não posso mesmo". Contudo, se essa parte lhe dissesse: "Você não irá conseguir passar esse ano", ela diria então: "Ah, é?" e a seguir iria para a rua fazer aquilo mesmo.
E então, o que teria ocorrido com aquela mulher se de alguma forma tivéssemos conseguido com que aquela parte parasse de proceder daquela forma, contudo deixando de mudar todo o resto? Ela não teria mais forma alguma de se motivar!


Sapos em Príncipes, Richard Bandler.

Dando continuidade ao assunto, os conflitos são importantes para o desenvolvimento humano, infelizmente não sabemos como encarar tais obstáculos.
Quando eu disse que devemos enfrentar o problema com resignação ou gratidão, não estava querendo ser sádico ou mesmo insensível às complicações emocionais que tais conflitos geram. Nem dizer que devemos ser apáticos, mesmo porque fingir não se importar ou se importar será a mesmíssima coisa. E não ser afetado ou se importar diante dos conflitos parece um contrassenso.

A proposta é a seguinte: o que faz “isto” lhe parecer um conflito? Você já se perguntou se as suas prerrogativas, as suas ideias sobre o que parece ser conflito, não poderiam ser falhas?
Faça-se uma pergunta, sabemos exatamente quem somos? Explico, pensamos que temos uma personalidade que nos define. Aparentamos uma imagem que acreditamos ser a nossa expressão interior. Mas isso é uma ilusão. Somos constantemente moldados pelo meio, por nossas reações ao meio e, apresentamos múltiplas máscaras que nos intermediam. São mecanismos naturais de sobrevivência. Nós chamamos de ego, mas não percebemos o quanto ele é volátil e não confiável. O ego, ou melhor, as máscaras que usamos, são estruturas psicológicas que tentam nos proteger dos conflitos a partir de modelos que “supomos” eficientes. Ou você acredita que os pais amam os seus filhos igualmente?! Nem tem como, pois mostraremos um comportamento diferente para cada tipo de pessoa, ou situações.

Então poderemos criar máscaras que possam até se contradizer, tornando o ego cada vez mais instável. É esta imagem distorcida que não nos permite raciocinar. Não por pura lógica, porém por um raciocínio baseado no amor que não escolhe. Não toma partido. Não julga saber.

Como eu disse antes, a premissa errada cria os modelos que geram conflitos. Os modelos foram e são criados pela sociedade, ou seja, nossos antepassados. Mas os maiores culpados por perpetuar tais modelos – baseados no medo – somos nós. Admitimos que desejamos ser oprimidos por modelos que já não correspondem aos fatos já desvendados. Mas vamos falar disso depois. O que nos importa agora é como rever os modelos e apresentar novas diretrizes.

Deveríamos começar por: há um destino a nos governar, porém somos nós que criamos o nosso destino. Você vai perceber que as novas ideias já não se baseiam mais em escolhas, mas sim em abranger o todo. Isto é, adotar todos os pontos de vistas como certos a partir de uma aceitação das ausências que construíram o ponto de vista que tanto pode nos parecer contraditórias, para não dizer mau ou bom. Este é o princípio da compaixão, aceitar as diferenças. E ainda não é o suficiente, não é uma questão de resignar-se e permitir que a opressão continue existindo.

Tiago saltou para a areia e desenhou um circulo perfeito. ― Este é o símbolo Yin e Yang, de equilíbrio e é um ciclo eterno. Somente isto pode explicar o seu paradoxo. Como não há tempo, não existem paradoxos, simplesmente é.
Não precisamos de um começo e um fim?
Tudo já foi determinado, as nossas vidas são como personagens definidos...
Eu chamo isto de destino implacável. ― como não ser.
Se fosse destino, o espírito não teria esperanças e nem pretextos para experimentar. Tudo é determinado antecipadamente, no entanto o espírito escolhe como usufruir desta liberdade, pois os grilhões e os obstáculos são criados por nós mesmos. Somente nós acreditamos que o tempo é linear, quando seria mais eficiente que ele se comportasse como neurônios ou redes virtuais com links de interesse e não pela correnteza irreprimível de eventos. Como poderá aceitar que as influências, cuja origem é imperceptível, provêm de todos os tempos e todos os lugares? O que te impede de ir aonde quiser, passado ou mundos da fantasia...
Quer dizer que as mesmas impressões sentidas por existências anteriores, podem vir do futuro? ― não ia me estender, estava ficando apreensivo.
Sim e não. As coincidências – que não são bem coincidências – estão te encaminhando para um futuro, reunindo as ferramentas que serão úteis para melhor se adequar. Tem consciência deste processo porque não está mais preso ao passado e o presente te constitui um mecanismo de transição. Os novos objetivos te alavancaram para outros desígnios que estão sendo apresentados como informações para vencer os excessos e disciplinar a mente!


O livro de Mateus.

A opressão é criada pelo medo.

Aceitamos inverdades que nos moldam o ego. Por exemplo, nos sujeitamos a artimanhas para sobreviver em um mundo violento e hostil. Preferimos duvidar e nos proteger de algo que não existe efetivamente. Temos medo de morrer ao sair todos os dias, vemos constantemente assassinatos, que devemos nos proteger. Em uma grande cidade, o número de assassinatos representam 0,003%, mas o nosso medo se amplia e gera uma reação incontrolável e ilógica.
Todos já devem ter ouvido, não cai uma folha da árvore sem que Deus o saiba. Então você vai continuar se preocupando com coisas que realmente não podem ser controladas por você? Todo o nosso ser acredita que se não interferirmos, se nós tentarmos controlar o meio e nos proteger, Deus não será capaz.

Sem o medo, sem a nossa presunção por tentar controlar, o fluxo da vida se encaminhará para o destino. Sem obstáculos, sem conflitos, pois estes surgem com o objetivo de nos redirecionar para o nosso destino. Eu disse que há um destino a nos governar, porém somos nós que criamos o nosso destino. Parece contraditório, contudo somos nós que teimamos em catalogar e escolher lados, para Deus, todos os lados são uma excepcional escolha.