quinta-feira, 26 de setembro de 2013

dois conflitos




Certa vez, num workshop eu disse que acreditava que cada parte de cada pessoa é um recurso valioso. Uma mulher me disse: "Essa é a coisa mais burra que jamais escutei!”.
“Eu não disse que era verdade. Eu disse se você acreditava que, enquanto terapeuta, você iria conseguir muito mais”.
"Bom, isso é completamente ridículo".
"O que é que te faz crer que isso é ridículo?"
"Tenho partes em mim que não valem dez centavos. Simples­mente me atrapalham. É só o que fazem".
"Diga uma".
"Tenho uma parte que, independente do que eu fizer, toda vez que eu tento fazer alguma coisa, ela simplesmente me diz que não posso fazê-lo e que irei falhar. Faz com que tudo se torne duas vezes mais difícil do que o necessário".
Disse que havia sido uma aluna evadida da escola secundária e que, quando decidira retornar aos estudos, essa parte dissera: "Você nunca irá conseguir; você não é boa o suficiente para isso; você é burra demais. Será embaraçoso. Você não vai conse­guir". Mas ela conseguiu. E mesmo depois de ter feito isso, quando decidiu entrar na faculdade, essa parte disse: "Você não irá ser capaz de terminar".
Então eu disse: "Bem, gostaria de conversar diretamente com essa parte". Isso sempre pega o pessoal da AT, diga-se de passa­gem, porque isso não existe em seu modelo. Certas vezes fico falando e olhando por cima de seu ombro esquerdo e eles ficam todos doidos. Mas esse é um mecanismo de ancoragem verdadei­ramente eficiente porque a partir de então toda vez que se olha por cima de seu ombro esquerdo só aquela parte consegue escutar.
"Eu sei que essa parte de você está lhe prestando um serviço de grande importância e que é muito matreira na forma como o realiza. Mesmo que você não aprecie o trabalho por ela executado, eu o aprecio. Eu gostaria de dizer a essa parte que, se ela tivesse vontade de contar à sua mente consciente o que vem fazendo por ela, então talvez essa parte pudesse receber um pouco do apreço merecido”.
Então, fiz com que ela se voltasse para seu interior e pergun­tasse à parte o que de positivo era que vinha fazendo; a resposta: "Estava te motivando". Depois de ter-me revelado isso, ela comentou: "Bem, acho isso uma loucura".
Eu disse: "Mas sabe, não acho que você fosse capaz de vir aqui em cima e trabalhar na frente deste grupo todo". Ela levantou-se em atitude desafia­dora e atravessou a sala, depois se sentou. Aqueles que já estu­daram estratégias e que compreendem o fenômeno da resposta de polaridade irão reconhecer nesta parte apenas um Programador Neurolinguista que sabia da utilização. Essa parte sabia que se dissesse: "Ah, você consegue entrar na faculdade, você pode fazê-lo", ela teria dito: "Não, não posso mesmo". Contudo, se essa parte lhe dissesse: "Você não irá conseguir passar esse ano", ela diria então: "Ah, é?" e a seguir iria para a rua fazer aquilo mesmo.
E então, o que teria ocorrido com aquela mulher se de alguma forma tivéssemos conseguido com que aquela parte parasse de proceder daquela forma, contudo deixando de mudar todo o resto? Ela não teria mais forma alguma de se motivar!


Sapos em Príncipes, Richard Bandler.

Dando continuidade ao assunto, os conflitos são importantes para o desenvolvimento humano, infelizmente não sabemos como encarar tais obstáculos.
Quando eu disse que devemos enfrentar o problema com resignação ou gratidão, não estava querendo ser sádico ou mesmo insensível às complicações emocionais que tais conflitos geram. Nem dizer que devemos ser apáticos, mesmo porque fingir não se importar ou se importar será a mesmíssima coisa. E não ser afetado ou se importar diante dos conflitos parece um contrassenso.

A proposta é a seguinte: o que faz “isto” lhe parecer um conflito? Você já se perguntou se as suas prerrogativas, as suas ideias sobre o que parece ser conflito, não poderiam ser falhas?
Faça-se uma pergunta, sabemos exatamente quem somos? Explico, pensamos que temos uma personalidade que nos define. Aparentamos uma imagem que acreditamos ser a nossa expressão interior. Mas isso é uma ilusão. Somos constantemente moldados pelo meio, por nossas reações ao meio e, apresentamos múltiplas máscaras que nos intermediam. São mecanismos naturais de sobrevivência. Nós chamamos de ego, mas não percebemos o quanto ele é volátil e não confiável. O ego, ou melhor, as máscaras que usamos, são estruturas psicológicas que tentam nos proteger dos conflitos a partir de modelos que “supomos” eficientes. Ou você acredita que os pais amam os seus filhos igualmente?! Nem tem como, pois mostraremos um comportamento diferente para cada tipo de pessoa, ou situações.

Então poderemos criar máscaras que possam até se contradizer, tornando o ego cada vez mais instável. É esta imagem distorcida que não nos permite raciocinar. Não por pura lógica, porém por um raciocínio baseado no amor que não escolhe. Não toma partido. Não julga saber.

Como eu disse antes, a premissa errada cria os modelos que geram conflitos. Os modelos foram e são criados pela sociedade, ou seja, nossos antepassados. Mas os maiores culpados por perpetuar tais modelos – baseados no medo – somos nós. Admitimos que desejamos ser oprimidos por modelos que já não correspondem aos fatos já desvendados. Mas vamos falar disso depois. O que nos importa agora é como rever os modelos e apresentar novas diretrizes.

Deveríamos começar por: há um destino a nos governar, porém somos nós que criamos o nosso destino. Você vai perceber que as novas ideias já não se baseiam mais em escolhas, mas sim em abranger o todo. Isto é, adotar todos os pontos de vistas como certos a partir de uma aceitação das ausências que construíram o ponto de vista que tanto pode nos parecer contraditórias, para não dizer mau ou bom. Este é o princípio da compaixão, aceitar as diferenças. E ainda não é o suficiente, não é uma questão de resignar-se e permitir que a opressão continue existindo.

Tiago saltou para a areia e desenhou um circulo perfeito. ― Este é o símbolo Yin e Yang, de equilíbrio e é um ciclo eterno. Somente isto pode explicar o seu paradoxo. Como não há tempo, não existem paradoxos, simplesmente é.
Não precisamos de um começo e um fim?
Tudo já foi determinado, as nossas vidas são como personagens definidos...
Eu chamo isto de destino implacável. ― como não ser.
Se fosse destino, o espírito não teria esperanças e nem pretextos para experimentar. Tudo é determinado antecipadamente, no entanto o espírito escolhe como usufruir desta liberdade, pois os grilhões e os obstáculos são criados por nós mesmos. Somente nós acreditamos que o tempo é linear, quando seria mais eficiente que ele se comportasse como neurônios ou redes virtuais com links de interesse e não pela correnteza irreprimível de eventos. Como poderá aceitar que as influências, cuja origem é imperceptível, provêm de todos os tempos e todos os lugares? O que te impede de ir aonde quiser, passado ou mundos da fantasia...
Quer dizer que as mesmas impressões sentidas por existências anteriores, podem vir do futuro? ― não ia me estender, estava ficando apreensivo.
Sim e não. As coincidências – que não são bem coincidências – estão te encaminhando para um futuro, reunindo as ferramentas que serão úteis para melhor se adequar. Tem consciência deste processo porque não está mais preso ao passado e o presente te constitui um mecanismo de transição. Os novos objetivos te alavancaram para outros desígnios que estão sendo apresentados como informações para vencer os excessos e disciplinar a mente!


O livro de Mateus.

A opressão é criada pelo medo.

Aceitamos inverdades que nos moldam o ego. Por exemplo, nos sujeitamos a artimanhas para sobreviver em um mundo violento e hostil. Preferimos duvidar e nos proteger de algo que não existe efetivamente. Temos medo de morrer ao sair todos os dias, vemos constantemente assassinatos, que devemos nos proteger. Em uma grande cidade, o número de assassinatos representam 0,003%, mas o nosso medo se amplia e gera uma reação incontrolável e ilógica.
Todos já devem ter ouvido, não cai uma folha da árvore sem que Deus o saiba. Então você vai continuar se preocupando com coisas que realmente não podem ser controladas por você? Todo o nosso ser acredita que se não interferirmos, se nós tentarmos controlar o meio e nos proteger, Deus não será capaz.

Sem o medo, sem a nossa presunção por tentar controlar, o fluxo da vida se encaminhará para o destino. Sem obstáculos, sem conflitos, pois estes surgem com o objetivo de nos redirecionar para o nosso destino. Eu disse que há um destino a nos governar, porém somos nós que criamos o nosso destino. Parece contraditório, contudo somos nós que teimamos em catalogar e escolher lados, para Deus, todos os lados são uma excepcional escolha.




Nenhum comentário:

Postar um comentário