quarta-feira, 28 de agosto de 2013

BIOMEMBRANA


Meu momento de "eureca" foi parecido com a dinâmica de algumas soluções hipersaturadas da química. São soluções que parecem apenas água, mas que estão tão saturadas de substâncias dissolvidas que uma simples gota a mais pode causar uma reação enérgica e transformar a mistura em um grande cristal. 


Este momento “eureca”, nas religiões, é descrito como um momento de iluminação, o samadhi. Não é nada diferente, no entanto nos aparenta certa estranheza que uma descoberta cientifica possa ter o mesmo valor de uma iluminação espiritual. Ambas não passam de momentos de quebra de barreiras, de paradigmas, que ocasionam um despertar ou um esclarecimento. Mas este relato do Dr. Bruce Lipton se enquadra em percepções do real funcionamento do homem, enquanto os santos, nas reais percepções de Deus, o que para mim não passa de semântica, já que Deus e homem são uma única expressão.


Em 1985, eu estava morando em uma casa alugada em uma ilha no Caribe lecionando numa escola de medicina. Eram duas horas da manhã e eu estava revendo todas as anotações sobre biologia, química e física a respeito da membrana celular que tinha feito nos últimos anos, em uma tentativa de encontrar uma ligação entre elas que me revelasse seu funcionamento. Foi então que um momento de vislumbre me transformou por completo, não em um cristal resultante de misturas hipersaturadas de laboratório, mas em um biólogo consciente do funcionamento da membrana que não tinha mais desculpas para não assumir o controle da própria vida. 

Naquele instante, redefini toda a minha compreensão do funcionamento da organização estrutural da membrana. Comecei a visualizar todo o processo desde as moléculas fosfolipídicas em formato de pirulito, organizadas como soldados enfileirados em um desfile. Por definição, estruturas cujas moléculas se organizam em padrões regulares e repetidos são cristais. Há dois tipos básicos de cristal: o primeiro é o mineral, como os diamantes, rubis e até mesmo o sal; o segundo tem estrutura mais fluida embora suas moléculas tenham o mesmo padrão organizado. Um exemplo bem conhecido é o do cristal líquido dos relógios digitais e das telas de laptops. 

Para explicar melhor o conceito de cristal líquido, vamos usar novamente o exemplo dos soldados em uma parada militar. Ao virar em uma esquina, os soldados mantêm a estrutura e o ritmo do regimento mesmo que tenham de passar enfileirados, um a um. Movimentam-se como as moléculas do cristal líquido, sem perder a organização. As moléculas fosfolipídicas da membrana seguem o mesmo padrão. Sua organização fluida e cristalina permite flexibilidade de movimentos e de formato, porém sem perder a integração da estrutura, qualidade essencial para que a barreira interna se mantenha intacta. Portanto, para definir claramente a membrana, fiz a seguinte anotação: "A membrana é um cristal líquido". 

Comecei então a associar o fato de que uma membrana que contivesse apenas fosfolipídios seria como o sanduíche de pão com manteiga sem as azeitonas [as azeitonas furadas são como canais entre o meio externo e interno da célula e a manteiga a própria membrana impermeável]. O corante não conseguiria atravessar a barreira de manteiga. Um sanduíche desse tipo não seria um condutor. No entanto, se adicionássemos as "azeitonas" de PIMs, poderíamos observar que a membrana é condutora de determinadas substâncias, mas impede a passagem de outras. Adicionei então outro comentário: "A membrana é um semicondutor". 

Por fim, adicionei uma descrição dos dois tipos mais comuns de PIM [azeitonas], as receptoras e as executoras, chamadas de canais porque permitem às células receber nutrientes importantes e expelir dejetos. E já estava para fazer a anotação de que as membranas contêm "receptores e canais" quando outra imagem me veio à mente: a de uma porta. Então, completei a descrição com a frase "as membranas contêm portas e canais".

Reli então a frase inteira: "A membrana é um semicondutor de cristal líquido com portas e canais". 

O que me surpreendeu foi o fato de saber que tinha lido ou ouvido aquela mesma frase em algum lugar, mas não me lembrava onde. Só tinha certeza de que a frase que tinha ouvido não estava ligada à biologia. 

Quando me reclinei na cadeira, a primeira coisa que me chamou a atenção foi meu novo Macintosh que estava sobre a mesa, meu primeiro computador. Ao lado dele estava um exemplar de capa vermelha do livro Understanding your microprocessor [Entenda seu microprocessador] que eu havia comprado em uma loja. Peguei o livro, comecei a folhear e encontrei, na introdução, a definição de um chip de computador: "Um chip é um semicondutor de cristal com portas e canais".

Fiquei ali parado, impressionado com a ideia de que um chip e a membrana de uma célula podem ter a mesma definição técnica. Passei mais alguns minutos, mergulhado no livro, lendo e comparando biomembranas e semicondutores de silício. Fiquei ainda mais impressionado ao perceber que não se tratava de mera coincidência. A membrana celular tem realmente estrutura e funções equivalentes (homólogas) às de um chip de silício.
Biologia da Crença. Bruce H. Lipton.

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