segunda-feira, 19 de agosto de 2013

067 - inevitável luta pela sobrevivência


Há 150 anos Darwin chegou à conclusão de que os organismos vivem em uma perpétua "luta pela sobrevivência". Para ele, luta e violência são partes naturais da natureza animal (humana) e também a "força básica" do desenvolvimento evolucionário. No capítulo final de A origem das espécies por meio da seleção natural ou a preservação das raças favorecidas na luta pela vida, Darwin descreve aquilo que chama de "inevitável luta pela sobrevivência" e enfatiza que a evolução se dá pela "guerra da natureza, da escassez à morte". Portanto, a partir dessa teoria, a evolução se dá de maneira aleatória e temos um mundo cheio de pequenas batalhas sangrentas e sem sentido em nome da sobrevivência ou, segundo a descrição poética de Tennyson, "nas mandíbulas da morte".

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Lamarck não apenas apresentou sua teoria 50 anos antes de Darwin, como ofereceu uma explicação menos drástica para os mecanismos da evolução. Sua teoria diz que a evolução está baseada em uma interação cooperativa entre os organismos e seu meio ambiente, que lhes permite sobreviver e evoluir em um mundo dinâmico. Afirmava que os organismos passam por adaptações necessárias à sua sobrevivência em um ambiente que se modifica constantemente. O mais interessante é que a hipótese de Lamarck sobre os mecanismos da evolução se ajusta muito bem à explicação dos biólogos modernos sobre como o sistema imunológico se adapta ao meio ambiente da mesma maneira que descrevi antes.
A teoria de Lamarck foi duramente criticada pela Igreja. O conceito de que os seres humanos evoluíram a partir de formas de vida mais primitivas foi considerado heresia. Lamarck também não recebeu o apoio de seus colegas cientistas. Como eram todos criacionistas, ridicularizaram suas ideias.
Um motivo para os cientistas reverem a teoria de Lamarck é que os evolucionistas levam em consideração a grande importância da cooperação na manutenção da vida na biosfera. Inúmeras experiências científicas já mostraram as relações simbióticas da natureza.

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"Os biólogos estão descobrindo cada vez mais associações entre animais que evoluíram paralelamente e continuam a coexistir, desenvolvendo em seu interior microorganismos que são necessários para a sua saúde e desenvolvimento". Isso é descrito em um artigo recente da Science, chamado "Sobrevivemos com a ajuda de nossos (pequenos) amigos" (Ruby et al., 2004). O estudo desses relacionamentos é um ramo da ciência que hoje está se expandindo rapidamente, chamado "Biologia de sistemas".

O mais engraçado é que nas últimas décadas aprendemos a combater os microorganismos usando os mais diferentes produtos químicos, de sabão antibacteriano a antibióticos. Mas essa prática simplista ignora o fato de que diversas bactérias são essenciais para a nossa saúde. Um exemplo clássico de como os seres humanos se beneficiam dos microorganismos é o das bactérias presentes em nosso sistema digestivo, essenciais para a nossa sobrevivência. Agindo em nosso estômago e trato intestinal, elas ajudam a digerir os alimentos e permitem a absorção das vitaminas que mantêm nossa saúde. Esta cooperação entre micróbios e humanos é o motivo pelo qual o uso desenfreado de antibióticos pode comprometer a sobrevivência de nossa espécie. Esses medicamentos eliminam microorganismos nocivos ao nosso organismo, mas também matam indiscriminadamente aqueles que são essenciais para a nossa saúde.
Estudos recentes da ciência do genoma revelam mais um tipo de mecanismo de cooperação entre as espécies. Alguns organismos parecem integrar suas comunidades celulares partilhando seus genes.

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Henry Ford analisou as vantagens técnicas do esforço conjunto e as utilizou para criar o conceito de linha de montagem para a fabricação de carros. Antes de Ford, uma equipe de funcionários levava de uma a duas semanas para produzir um único automóvel. Ele organizou sua fábrica de modo que cada funcionário fosse responsável por uma tarefa específica. Posicionou todos em fila na esteira de produção e foi passando as peças de um especialista para o outro. O conceito de especialização de tarefas se mostrou tão eficaz que a indústria de Ford conseguia produzir um automóvel em apenas 90 minutos.
Mas, infelizmente, "nos esquecemos" desse conceito de cooperação, tão necessário para a evolução, quando Charles Darwin propôs uma teoria radicalmente diferente sobre o surgimento da vida.


Biologia da Crença. Bruce H. Lipton


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