segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

CONSTELAÇÃO FAMILIAR

Eu estava devendo algumas explicações sobre terapias, daquelas que experimentei e, sobretudo, das que somente conheci um breve testemunho.

De todas as terapias, a que mais me impressionou – mesmo que quase tudo que vi nestes dois últimos anos tenha me impressionado – foi a constelação familiar. Por quê?

Principalmente porque não sabia que estava “dentro” da terapia, participando ativamente desta experiência. E quando a gente desconhece o processo, não tem como controlar o resultado, nem mesmo de criar justificativas que pudessem explicar os eventos, digamos, sobre-humanos. Quais eventos? Vou começar do meu ponto de vista, mesmo porque as constelações familiares forjadas por Bert Hellinger parecem quase inacreditáveis – bom demais para ser verdade.

Passo duas vezes por ano por uma terapia em grupo com pacientes – em sua maioria – de câncer com o propósito de esclarecer a origem das doenças, as origens psicossomáticas e as causas emocionais. Comumente definem-se dois ou três modelos de estudo. Em um destes modelos estávamos discutindo o quanto a raiva pode se ocultar como vergonha.

Um paciente tinha tido um tumor no testículo, esquerdo, e não aceitava o processo de cura por causa da vergonha que o procedimento provocava, enfim, dizia-se envergonhado, mas na verdade não queria admitir a raiva. Aliás, quase tudo é consequência da raiva.

O terapeuta, então, quis definir a origem do tumor. Colocou-o – o paciente do tumor – à frente do grupo e solicitou a outro paciente que fizesse o papel de irmão mais velho. Não havia que mantivesse o “irmão mais velho” perto do outro. Para simplificar vou usar os termos usados nas constelações. Tenho que lembrar a você que eu não tinha a menor ideia do que estava acontecendo. Enquanto o paciente com tumor, o “cliente”, tentava se aproximar do paciente que representava o seu irmão mais velho, este “representante” continuava se afastando.

O cliente precisava do irmão, amava-o. No entanto o representante dizia que se sentia incomodado, quase indiferente. Então eu me perguntei: Como ele pode dizer que sente algo, se não é realmente o irmão mais velho? Até então eu não percebi que as respostas do representante não eram propriamente dele.

O terapeuta incluiu mais dois representantes “desconhecidos” que faziam os papéis de pai e mãe. E assim começou o diálogo entre eles, sobretudo em relação a sentimentos e emoções. Parecia tudo tão bem orquestrado, o que estava acontecendo? Então eu fui chamado como “representante”. Quem seria eu?

O tumor do testículo esquerdo.

Eles formavam duas fileiras, à direita o representante do irmão mais velho. Atrás, pai e mãe. Fui colocado à esquerda. E me perguntaram o que eu estava sentindo.

Por um tempo fiquei perdido como se não conhecesse a “brincadeira”. Lembre-se, eu não sabia que estava acontecendo algo, muito menos o objetivo por trás da terapia. Senti-me um pouco frustrado porque não senti nada.

Quando fui reposicionado entre o cliente e seu irmão mais velho eu fiquei completamente chocado. Não tenho o hábito de ficar exposto em público, porém a timidez – minha – se transformou em alívio. Tão forte e estranho que qualquer tentativa de racionalizar foi destruída pela intensidade da emoção. Mudei de posição algumas vezes, mas só sentia alívio quando colocado entre o dois, às minhas costas ficava a representante da mãe. E ela começou a chorar e sentia muito amor por mim, segurava minhas mãos com força.

Um dos processos das constelações é identificar o desequilíbrio dentro do sistema e promover o reequilíbrio através, por exemplo, do perdão e da aceitação. Então o pai me reconhecia e agradecia, assim como a mãe e os filhos, eu precisava encará-los e dizer o mesmo. Nesta altura já não me importava se representava para o cliente, o único que era peça verdadeira na terapia. Os sentimentos e as emoções não eram nossos.

E quem era o tumor? O irmão gêmeo que foi absorvido pelo organismo do cliente. Isto parecia ter sentido, já que os sentimentos descritos pelos representantes pareciam direcionados a alguém que amavam. O terapeuta se concentrou no cliente e fomos nos sentar.

Que vínculo foi aquele? Havia algo que me incomodava, pois mesmo não sendo o “cliente” daquela constelação, pressentia que as pessoas poderiam ter um elo circunstancial. Você já ouviu falar de sincronismo?

Depois de uma semana eu li um artigo sobre constelações familiares e descobri o que havia acontecido, em termos, naquela terapia de grupo. Não foi uma constelação “completa”, entretanto se descobriu as origens do tumor para que o paciente começasse a desvendar as causas.

E eu? Não era o cliente, deveria ser somente uma espécie de representação virtual para a elucidação do problema, mas eu sentia que as “conversas” poderiam ser mais do que sugeria o procedimento. Será que os sentimentos e as palavras ditas pelos “representantes” e “cliente” poderiam ser aquelas que me diriam os meus pais e irmãos?

Pelo conteúdo, tenho que dizer que sim.

Mas como isto aconteceu? Na verdade não importa o como, mas sim o resultado. Bert Hellinger deixa que o “cliente” forme a sua família, escolha os representantes e os posiciona como deseja. A interação entre os representantes modificam o posicionamento, até que se instaure um equilíbrio. Para tentar entender, leia os livros dele, porque é um daqueles casos em que a dinâmica não é perceptível, mas os resultados sim.

Uma característica que encontrei em comum com outras terapias e técnicas foi que existe uma conexão da mente subconsciente a dirigir o processo e uma conexão mais ampla entre todos. Esta conexão ampla é responsável por inspirações e instintos, em outras ocasiões chamamos de coincidências.

A parcela relacionada ao subconsciente é aquela que tenta se comunicar com a mente consciente. Na radiestesia esta comunicação atua provocando micro vibrações que agem em pêndulos e varetas. Na cinesioterapia, as vibrações se mostram no movimento “independente” de músculos que respondem aos sim e não. Na programação neurolinguística, as vibrações são mentais e o acesso ao subconsciente é mais direto. Quase a mesma relação entre um médium e a brincadeira do copo.

Decerto, a experiência provocou-me certas reflexões que jamais teria ocasião de averiguar por mim mesmo. Por isso considero as constelações familiares um grande passo rumo ao autoconhecimento, e ou maior ainda na solução dos processos doentios que se estabelecem pelo desequilíbrio do sistema.

#amorexiste



Nenhum comentário:

Postar um comentário