segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

PERDÃO E GRATIDÃO

Eventualmente sentimos ódio e este rancor se materializa. Eu não achava ser possível perdoar certas mágoas, pelo menos àquelas que estamos acostumados, pela força de nossas crenças, a não perdoar.

Não é uma questão de não fazer o que as religiões, principalmente as cristãs, nos dizem quanto a perdoar o mal que nos tenham feito. Existe uma contradição tão forte que o perdão se constitui de duas formas de perdoar: Jesus deixou claro que se deve perdoar tudo, sem justificativas, sem subterfúgios e a sua explicação se perde entre as recomendações da Lei de Talião: dente por dente, olho por olho. Jesus não era cristão, mas sim judeu e a lei judaica se confundia com a religião.

Tempos em que os homens estabeleceram leis que permitissem a ordem, Portanto o perdoar somente seria possível onde existia a concórdia e a vontade. E o cristianismo nasceu das lições do judaísmo ensinadas por Jesus. Assim como o budismo, de suas fontes hinduístas através dos ensinamentos e experiências de Buda.

Passamos tanto tempo reinterpretando certos ensinamentos que não percebemos as suas semelhanças. As religiões anseiam pelas reinterpretações, assim como a ciência por novas descobertas e raciocínios. A ciência existe para dar suporte à religião e esta para direcionar a ciência, contudo existem certas turbulências nesta relação.

Uma delas é o perdão. Qual seria a vantagem de perdoar?

Tirando-se as óbvias conclusões, aquelas que estamos cansados de ouvir, tais como: perdoar lhe fará bem, vai tirar o peso da vingança, da raiva, da frustração. Perdoar engrandece a alma, perdoar é a expressão daquele que supera a dor [resigna-se]. Ou seja, é uma característica daqueles que querem se esquecer do “imperdoável” e seguir em frente ou demonstrar a sua magnificência perante aqueles que causaram o mal.

Então não é perdão, porém pode nos aproximar do perdão. No texto 003MH3 sobre o livro Voo Noturno de Saint-Exupéry, ele nos fala da coragem e em como ela pode ser interpretada conforme o observador. Que a coragem não se compõe de sentimentos especialmente belos: um pouco de raiva, um pouco de vaidade, muita teimosia e um prazer desportivo trivial. Sobretudo a exaltação da nossa força física, que...

O perdão também se amoldou às necessidades das proezas humanas em perdoar sem perdoar, dando-nos a impressão de que o perdão não passa de uma justificativa para parecermos melhores diante da sociedade.

http://www.youtube.com/watch?v=D_LFg_wC6kE

Como transformar este perdão conceitual em sincero perdão. O que deveria causar o perdão em nós? Repito, em nós, porque a maior vantagem do perdão não é perdoar qualquer mal que nos tenham feito, mas aprender que somos diretamente responsáveis pelo sofrimento. O sofrimento, assim como a infelicidade, se baseia em uma relação de comparação, se não atingirmos certas metas, não seremos felizes.

Então perdoar não se refere ao mal que tenham nos feito, mas sim ao mal que aceitamos – ao mal que percebemos em relação a. Se aquela ação não nos atinge, não nos afeta, não concluiremos que ela nos faça mal e assim não existiria a necessidade de perdão. O perdão não é algo que deva ser concedido a alguém, mas para si que assimilou a ideia do sofrimento e projetou-a em algo ou alguém.

Perdoar é, enfim, aceitar que as suas ideias e conclusões – que sempre serão parciais – criaram o sofrimento. Por isso a coragem de admitir que o sofrimento, mesmo que pareça surgir fora, está dentro, de nossas percepções que tendem a criar monstros. Perdoar é sentir gratidão.

Gratidão pela oportunidade de quitar as suas dívidas. Infelizmente não aceitamos que o mal seja uma oportunidade de exercitar o bem. Não queremos ser controlados pelas circunstâncias, pensamos que os problemas causados por outros em nós deveriam ser ajustados através de nossos julgamentos. Que o mal tem que ser enfrentado com todas as nossas forças, se esquecendo de que ela foi atraída até nós com o objetivo de nos fazer acreditar em Deus. Aceita as turbulências é nadar a favor da correnteza.

Uma doença obriga a tomar novos rumos, se ela for inflexível, as nossas atitudes terão que ser mais flexíveis se quisermos modificar o pensamento que causa sofrimento. Alguns se resignarão e encontrarão paz, mas uma grande parte se revolta e sofre, mesmo que ambos morram. Como você gostaria de morrer?

O mal tem este objetivo, e ele só é chamado de mal porque se interpôe aos nossos desejos. Não queremos perder o que supomos ter, nem sermos obrigados a rever os nossos planos simplesmente porque eles nos parecem impossíveis. Ao perdoar, as suas ideias errôneas e ilusórias, sentirá gratidão.

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