terça-feira, 15 de outubro de 2013

as reais ações


Não vim falar dos conflitos, mas do que os geram. O conflito é apenas a última instância de uma “doença” não física. É uma autorregulação que tenta reequilibrar as nossas convicções. E estas convicções são reconhecidamente falhas. Por quê?

 Porque todas as nossas convicções se baseiam em modelos. E temos que admitir que nem todos os modelos são bons. Como eu disse, demos a nós alguém que chamamos de ego, que não passa de um ator representando “o melhor cenário possível” diante daquilo que não compreendemos. Este ego supõe que os medos sejam uma boa réplica, como se nos precavêssemos do medo através de outros medos. E este ator acha que entende o que está acontecendo e cria ideias e insinuações que tendem a fortalecer, talvez, convicções nada convincentes.

Por outro lado, os modelos têm por princípio determinar os nossos comportamentos sociais, culturais, morais, etc., criando diretrizes ou leis internas que vivem se digladiando com as tentativas conscientes de ignorá-las. Modelos armazenados no subconsciente impedem que novos exemplos sejam armazenados como modelos substitutos. O pior é que os primeiros modelos foram assimilados e armazenados na infância quando ainda éramos frágeis. Tanto quanto as nossas ideias eram ainda insustentáveis, digo, sem as experiências que poderiam nos proteger de “impressões desfocadas”. Não tínhamos como julgar se a informação era apropriada, se o modelo servia, então o assimilamos porque, como crianças, prevalecia o exemplo.

Se tivermos exemplos instáveis, seremos pessoas instáveis. Mesmo que consigamos identifica-los para reagir contrariamente, se não admitirmos que tais modelos existam em nós, não conseguiremos reescreve-los. Se nossos pais, ou aqueles que nos serviram de exemplo, apresentam determinados comportamentos, devemos admitir que também o tenhamos.

Mas eu não sou assim! Talvez não nas mesmas condições e intensidade, mesmo porque as condições que geraram os seus modelos não foram iguais aos que moldaram aqueles que se tornaram os seus exemplos. O objetivo não é maldizer nossos antepassados, e sim encontrar ferramentas para que os modelos que nos causam sofrimentos sejam anulados. E após, ampliar os modelos para se criar prosperidade.

Os exemplos que se tornam nossos modelos surgiram quando ainda éramos crianças, sem discernimento para entender as reais ações. Com esta visão deturpada do exemplo, passamos a repeti-lo como uma diretriz. Por exemplo, se quando caímos pela primeira vez, ouvimos alguém desesperado a nos levantar, como se fosse o pior cenário possível, suporemos que cair e se machucar se constitui um momento de dor e sofrimento. Se o melhor cenário se produzir, todas as quedas posteriores serão simplesmente uma distração. O impacto emocional condiciona as nossas experiências e as trata como modelos de sobrevivência. Por isso o trauma é tão eficiente em não permitir que reproduzamos o evento. O medo é um mecanismo de sobrevivência.

Reescrever tais modelos, porque eles são as causas dos nossos sofrimentos, passa por sua identificação. Podemos percebê-lo em nós ao observar os outros. Já que os outros se comportarão, ou reagirão, de acordo com seu estado interior, são os nossos reflexos. E tudo o que vemos de errado no outro é como olhar no espelho, pois se você consegue identificar aquilo que te “choca”, então o possui em algum nível. Não tente justificar os modelos dizendo que não é bem assim ou tão assim. Não busque analogias, use esta certeza básica de que o problema existe e o use. Invariavelmente somos como nossos exemplos nos ensinaram. E temos que nos resignar diante das nossas deficiências, não só nossas como de nossos antepassados que só repetiram o que lhes foram ensinados. 

O problema não está em assimilar os modelos, mas em adquirir a experiência que advém com o conflito. O conflito é a tentativa suprema de nos superarmos, evoluirmos. As doenças imprimem mudanças obrigatórias, porque são as últimas tentativas do ser de se transformar diante de modelos que causam o sofrimento. 




sábado, 12 de outubro de 2013

quatro conflitos



Estamos às portas das grandes transformações. Mas isto não quer dizer que estejamos nos desvencilhando dos conflitos. Dos nossos conflitos. Nem pensem em apontar o dedo para o primeiro intransigente que passar diante de nós só porque ele bem poderia ser o motivo de nossas infelicidades, mas não o é. Este alguém, conforme as religiões mais bem faladas, não deixa de ser um irmão. Subtendendo que irmão não pode ser outra coisa senão aquilo que chamamos de humanidade, e não de clãs ou facções de alguns tipos de irmãos que podem fazer certas coisas que outros irmãos não podem.

Premissa dos profetas das religiões, daqueles que não entenderam o que os mestres diziam sobre o amor. Porém é muito mais simples interpretar os textos e fazer de nossa participação nestas frações da verdade um meio enjambrado de se viver, e sem que nós nos contradigamos. Este mundo é resultado de nossas ilusões, é fato. Tudo que aqui existe foi por nós imaginados. Então estamos presos em um mundo de ilusões que nos controlam, é aqui que erramos.

Parece, e somente parece, que todas as dificuldades e conflitos são independentes da nossa aspiração, que somos controlados pelas circunstâncias, pelo meio. Erramos por acreditar que é o meio que nos molda. É verdade, em alguns aspectos o meio dita as transformações necessárias para que possamos, pelo menos, minimizar os estragos causados pela mente, pela crença.

É um círculo vicioso. Criamos as ilusões que nos aprisionam e passamos a crer que tais ilusões são forças todo-poderosas e imutáveis. Dizemos, como para justificar nossas ideias desvirtuadas, que Deus é quem nos controla e não caí uma folha sem que Ele o saiba. Eu acreditava nesta configuração, e ainda não deixei de acreditar, tampouco fiz concessões, contudo Deus não teria a pretensão de controlar os passos de tudo o que existe no universo. Ele bem poderia delegar.

Não estou falando de anjos ou serafins. Estou pensando em algo mais prático, como uma cooperativa. Imagine que todos nós estamos interconectados com a mente de Deus – dê-Lhe o nome que desejarem –, porém estar conectado a Ele nos permite estar ligado com todos. Eu e você partilhamos deste elo, infelizmente nem todos conseguem “tirar proveito disto”.

Uma vez me perguntaram quem é Tiago – este cara que coparticipa dos “meus” textos. Depois de pensar eu conclui que não o conhecia, quero dizer, não sabia como defini-lo. Uma especialidade de nossa natureza humana, dividir tudo entre certo e errado. Para os espiritualistas eu diria que ele é um espírito guardião ou anjo da guarda ou protetor espiritual, que são a mesma coisa. Para um psicólogo – caso ele não me considerasse alucinando –, ele seria o meu inconsciente, de múltiplas personalidades, no mínimo. Para os sonhadores, Tiago é um amigo imaginário. Entretanto ele não é nenhuma destas designações e, ao mesmo tempo, todas. Lembrem-se que estamos conectados. Se for alguém morto ou vivo, tanto faz. Se for com alguém do passado ou futuro, tanto faz. O que eu estou querendo demonstrar é que não limitar a nossa imaginação permite ampliar a conexão. Quando conheci Tiago, eu mesmo não podia admitir a sua legitimidade, mas dei-lhe uma chance para provar se as suas palavras não passavam de divagações de uma mente fértil. Ter dado este crédito fez toda a diferença, se ele não existia antes, por permitir que ele existisse, permiti que se torna-se real. Não é todo dia que o inconsciente nos faz parar para pensar.

Deus é perfeito. Toda a ação do mal passa pelo crivo dEle.

Quando eu “limito” o que desejo entender, impeço que se manifeste todo o meu potencial. Não é questão de acreditar em algo ser possível, mas de, constantemente, acreditar em algo ser impossível. Buda se refere ao estado búdico que possuímos e não conseguimos expressá-lo porque está encoberto por medos. Todo medo é uma resposta incoerente do nosso ser. Demos a nós alguém que chamamos de ego, que não passa de um ator representando “o melhor cenário possível” diante daquilo que não compreendemos. Este ego supõe que os medos sejam uma boa réplica, como se nos precavêssemos do medo através de outros medos. E este ator acha que entende o que está acontecendo e cria ideias e insinuações que tendem a fortalecer, talvez, convicções nada convincentes. Então começa a bola de neve.

Eu sei, tenho certeza absoluta, e todos dizem que “aquele é assim”. Sequer levamos em consideração o que “aquele” sabe, pelo menos ele deveria saber, eu acho. Depois queremos tanto que “aquele seja assim” que não nos importa se entendemos errados. Conforme diz Deepak Chopra em sua Lei do não-julgamento. Tentou não julgar, explico, tentou não falar pelos cotovelos? Faça como ele: Pratico o não-julgamento. Começo o dia com o pensamento, com o seguinte propósito: “Hoje não farei nenhum julgamento sobre nenhuma coisa” e durante todo o dia esforço-me por não fazer nenhum julgamento.


E o jogo começa. O Carma se movimenta em direção a si mesmo. Ao se fazer uma ideia de como “aquele que é assim” deve ser, partilhamos com as mentes partilhadas com Deus esta [in]certeza. E “aquele que é assim” deverá se ajustar para realmente ser assim. São duas forças em ação, a Lei da Atração que diz que atraímos tudo aquilo que desejamos – quase uma justiça poética, pois criamos o monstro que nos atormenta. E a Lei de Filho de Deus, na verdade eu criei esta, uma lei que diz que por sermos filhos de Deus, também temos as suas qualidades – eu prefiro blasfemar e usar poderes –, deste modo criamos e recriamos este mundo conforme desejamos. E constantemente desejamos que “aquele que é assim” seja assim. Aproprio-me dos termos da psicologia para tentar entender porque os outros são reflexos de nós mesmos. A transferência não existe sem a contratransferência. Nós não reagimos ao meio, nós o modificamos. O erro está em acreditar que o meio tem certa prevalência. Mudar o meio é mudar a mente. Experimente repetir uma frase absurdamente impossível como: Eu sou saudável ou eu realmente sou um cara de sorte. Pois aqueles que realmente creem nisto, conseguem ser assim.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

causa real e a cura das doenças

A razão principal do fracasso da medicina moderna está no fato de ela se ocupar dos efeitos e não das causas. Por muitos séculos, a real natureza da doença foi encoberta pela capa do materialismo e, assim, tem sido dadas à própria doença todas as oportunidades de ela propagar sua destruição, uma vez que não foi combatida em suas origens. Essa situação é semelhante à do inimigo que construiu uma sólida fortaleza nas colinas, comandando de lá constantes operações de guerrilha no país vizinho, enquanto as pessoas, ignorando a praça forte, contentam-se em reparar as casas danificadas e em enterrar seus mortos, consequências das ofensivas dos saqueadores. Essa é, em termos gerais, a situação da medicina nos dias de hoje: consertar às pressas os danos resultantes do ataque e enterrar os mortos, sem que se dê a mínima atenção para o verdadeiro reduto inimigo.
 
A doença nunca será curada nem erradicada pelos métodos materialistas dos tempos atuais, pelo simples fato de que, em suas origens , ela não é material. O que conhecemos como doença é o derradeiro efeito produzido no corpo, o produto final de forças profundas desde há muito em atividade, e, mesmo quando o tratamento material sozinho parece bem sucedido, ele não passa de um paliativo, a menos que a causa real tenha sido suprimida.

A tendência atual da ciência médica, por interpretar erroneamente a verdadeira doença e por fixar toda a atenção, com sua visão materialista, no corpo físico, tem aumentado sobremodo o poder da doença; em primeiro lugar, por desviar a atenção das pessoas da verdadeira origem da enfermidade e, portanto, da estratégia eficaz para combatê-la; em segundo , por localizá-la, no corpo, obscurecendo, assim, a verdadeira esperança de recuperação e criando um enorme complexo de doença e medo, complexo que nunca deveria ter existido.

Em essência, a doença é o resultado do conflito entre a Alma e a Mente, e ela jamais será erradicada exceto por meio de esforços mentais e espirituais.

Nenhum esforço que se destine apenas ao corpo pode fazer mais do que reparar superficialmente um dano, e nisso não há nenhuma cura, visto que a causa ainda continua em atividade e pode, a qualquer momento, manifestar novamente sua presença, assumindo outro aspecto. De fato, em muitos casos a recuperação aparente acaba sendo prejudicial, já que oculta do paciente a verdadeira causa do seu problema, e, na satisfação que se experimenta com essa aparente recuperação da saúde, o fato real, continuando ignorado, pode fortalecer-se.

Uma das exceções para os métodos materialistas na ciência moderna é a do grande Hahnemann, o fundador da homeopatia, que com sua compreensão do amor beneficente do Criador e da Divindade que mora dentro do homem, e por estudar a atitude mental de seus pacientes diante da vida, do meio ambiente e suas doenças, foi buscar nas ervas do campo e nos domínios da natureza o remédio que não apenas haveria de curar seus corpos mas, ao mesmo tempo, elevaria a sua perspectiva mental.

Quinhentos anos antes de Cristo, alguns médicos da antiga Índia, trabalhando sob a influência do Senhor Buda, levaram a arte de curar a um estágio tão perfeito que conseguiram abolir a cirurgia, ainda que, na sua época, ela fosse tão eficiente, ou até mais, que a dos dias atuais. Homens como Hipócrates, com seus ideais grandiosos sobre a cura; Paracelso, com a convicção de uma divindade dentro do homem, e, Hahnemann, que compreendeu que a doença tinha sua origem num plano acima do físico - todos eles sabiam muito sobre a verdadeira natureza do sofrimento e sobre o remédio para ele.


A doença, posto que pareça tão cruel, é benéfica e existe para nosso próprio bem; se interpretada de maneira correta, guiar-nos-á em direção aos nossos defeitos principais. Se tratada com propriedade, será a causa da supressão desses defeitos e fará de nós pessoas melhores e mais evoluídas do que éramos antes. O sofrimento é um corretivo para se salientar uma lição que de outro modo não haveríamos de aprender, e ele jamais poderá ser dispensado até que a lição seja totalmente assimilada.

Vemos que não há nada de acidental no que diz respeito à doença, nem quanto ao seu tipo nem quanto à parte do corpo que foi afetada; como todos os outros resultados da energia, ela obedece à lei de causa e efeito. Certos males podem ser causados por meios físicos diretos, tais como os associados à ingestão de substâncias tóxicas, acidentes, ferimentos e excessos cometidos, mas, em geral, a doença se deve a algum erro básico em nosso temperamento.

As doenças reais e básicas do homem são certos defeitos como o orgulho, a crueldade, o ódio, o egoísmo, a ignorância, a instabilidade, a ambição; e se cada um deles for considerado individualmente, notar-se-á que todos são contrários à Unidade. Tais defeitos é que constituem a verdadeira doença, e a continuidade desses defeitos, persistirmos neles, depois de termos alcançado um estágio de desenvolvimento em que já os sabemos nocivos, é o que ocasiona no corpo os efeitos prejudiciais que conhecemos como enfermidades.

Para se alcançar uma cura completa, não somente devem ser empregados recursos físicos, escolhendo sempre os métodos melhores e mais familiares à arte da cura, mas também devemos lançar mão de toda a nossa habilidade para eliminar qualquer falha em nossa natureza; porque a cura total vem essencialmente de dentro de nós, da própria Alma que, por meio da bondade do Criador, irradia harmonia do começo ao fim da personalidade, quando se permite que assim seja.


(...) Não há objetivo em nos ocuparmos dos fracassos da medicina moderna; demolir é inútil quando não se constrói um edifício melhor e, como na medicina já se estabeleceram as bases de uma edificação mais nova, empenhemo-nos em acrescentar um ou dois tijolos a esse templo. Tampouco pode ser de valor uma crítica negativa da profissão; é o sistema que está fundamentalmente equivocado, não os homens; pois é um sistema pelo qual o médico, por razões unicamente econômicas, não tem tempo para ministrar um tratamento tranquilo e sossegado nem oportunidade para pensar e meditar adequadamente, o que deveria ser a herança dos que devotam sua vida a assistir doentes. Como disse Paracelso, o médico sábio atende a cinco, e não a quinze pacientes num dia - ideal impraticável em nossa época para um médico comum. 

A aurora de uma arte de curar mais nova e melhor paira sobre nós. Há cem anos, a homeopatia de Hahnemann foi o primeiro raio da luz matinal, depois de um longo período de trevas, e pode desempenhar um grande papel na medicina do futuro. Ademais, a atenção que se está dispensando no presente momento à melhoria da qualidade de vida e ao estabelecimento de uma dieta mais pura é um progresso rumo à prevenção da doença; a esses movimentos que pretendem levar ao conhecimento das pessoas tanto a relação que existe entre os fracassos espirituais e a enfermidade, bem como a cura que se pode obter através do aprimoramento da mente, estão apontando o caminho por onde devemos seguir rumo à luz de um novo dia, em cujo brilho a escuridão da enfermidade desaparecerá. 


Texto escrito pelo médico inglês Dr. Edward Bach em CURA-TE A TI MESMO, no ano de 1930 - Extraído do livro 'Os Remédios Florais do Dr. Bach' - Ed. Pensamento.