sábado, 11 de janeiro de 2014

118 - tabula não tão rasa assim

tabula rasa é um conceito criado por John Locke, que afirma que o ser humano nasce como uma folha de papel em branco a ser preenchida pelas experiências. Este papel nunca é inteiramente em branco, mas também não é o que supomos ser destino.

Quer dizer que uma alma escolhe antecipadamente o tipo de vida que terá?


Não, isso iria contra o objetivo do encontro, que é criar a sua experiência – e, portanto, o seu eu – no glorioso momento atual. Por esse motivo você não escolhe antecipadamente a vida que terá.

Imagina que a alma humana enfrenta os desafios da vida por acaso? – Quer dizer que a alma escolhe que tipo de vida terá? – Não. Mas pode escolher as pessoas, os lugares e os eventos, as condições e circunstâncias, os desafios e os obstáculos, as oportunidades e opções para criar a sua experiência. 

Conversando com Deus. Neale D. Walsch.



Por outro lado criamos personalidades peculiares para tratarmos de todos os acontecimentos da vida e os chamamos de ego. As construções do ego surgem para nos auxiliar no processo de interação com o meio ao qual estamos inseridos e é predominantemente intuitivo, pois estas construções costumam se agregar com as experiências passadas – que percebemos subjetivamente – e com os exemplos “compreendidos” no presente. 

Estes raciocínios geram respostas automáticas e ficam armazenadas no subconsciente. Porém são imperfeitas, pois consideram respostas que na maioria das vezes adquirimos em situações anormais ou destituídas de lógica. Impressões que acabam ditando o nosso comportamento. Uma percepção apreendida na meninice pode se transformar em um mandamento interior que se fixa no subconsciente e dita suas respostas enquanto não reescrevermos esta lei. Se ela for falha, todas as respostas que se baseiam nesta lei entrarão em conflito com quaisquer novas percepções conscientes.

Devemos constantemente rever nossas leis para que o presente e o futuro se concretizem sem tais obstáculos. Esta é a proposta da meditação, rever e reescrever as leis que ficam armazenadas no subconsciente e que nos impedem de virar o jogo. Este é o objetivo primordial do jogo, tomar as rédeas de sua vida, removendo leis retrógradas e seculares que ferem e fazem sofrer, pensar com discernimento e por em prática novas ações. Consequentemente existem ferramentas hábeis que podem nos ajudar dependendo de como precisamos nos comportar diante dos “problemas ou obstáculos”

Penso que deparei com a resposta para a questão tratada no post [117MH1 – tabula rasa], sobre como enfrentar aquilo que nos incomoda, provocando tamanha aversão que nossa primeira reação é evitar, fugir ou fingir. Ver nossas deficiências espelhadas é só um gatilho para a mudança, mas como eu posso reverter este quadro? Como deixar de odiar?

A questão não é tentar “consertar” o problema dirigindo os nossos esforços no outro, mas sim em nós mesmos. Quando mudamos, todos ao nosso redor se transformam, em sintonia com a nova vibração mental. Aqueles que não mudam acabam se afastando e naturalmente outras pessoas que se sintonizem com esta vibração se aproximarão. Lei do semelhante atrai semelhante. Até mesmo as situações divergentes a esta vibração desaparecerão e, se novos pensamentos forem condizentes com seus anseios, novas situações surgirão.

Contudo esta atitude em si não aplaca o ódio, o rancor e a mágoa que endereçamos. Esta catarse só terá efeito se conseguirmos compreender e nos colocar no lugar do outro. Se você estivesse na mesma posição que o outro está, reagiria diferente? A maioria tende a responder sim, mas a verdade é que se estivéssemos na mesma situação, seríamos a mesma pessoa que criticamos e responderíamos ao problema da mesma forma, independentemente de qualquer justificativa. A pessoa que esta passando por aquele problema está ciente de suas escolhas e reconhece o seu potencial – mesmo limitando-o – de que a “circunstância” é absolutamente propícia e criada para um propósito.

Não é ela quem está errada, mas é você que não percebe os intrincados mecanismos da providência divina. Que chamamos de Deus e está dentro de cada um de nós como um farol a direcionar os nossos sonhos. Que não percebemos claramente e por isso declaramos guerra contra os acontecimentos e criamos o sofrimento que nada mais é que nadar contra a corrente.

Observe o querelante – apesar de que nós deveríamos ser chamados assim – e compreenda o meio como ele foi criado, a história familiar que tem grande influencia na determinação de seus costumes e crenças. Suas reações são ditadas por quais leis mentais? Não faça de suas crenças o modelo de perfeição que deveria ser estendido a todos, não controle nem se julgue capaz de interferir. Simplesmente observe. [MH5 – Eu te compreendo]

Joanna de Angelis comenta o caráter do ego que nos controla o julgamento e nos obriga a reagir egoisticamente contra: A sombra que resultas dos fenômenos egoicos, havendo acumulado interesses inferiores que procura escamotear, ocultando-os no inconsciente, é a grande adversária do sentimento de gratulação. Na sua ânsia de aparentar aquilo que não conquistou, impedida pelos hábitos enfermiços, projeta os conflitos nas demais pessoas, sem a lucidez necessária para confiar e servir. Servindo-se dos outros, assim fazem todos os demais, competindo-lhe fruir o melhor quinhão, ante a impossibilidade de alargar a generosidade, que lhe facultaria o amadurecimento psicológico para a saudável convivência social, para o desenvolvimento interior dos valores nobres do amor e da solidariedade.

[...]

A sombra sempre trabalha para o ego, com raras exceções, quando se vincula ao self, evitando toda e qualquer possibilidade de comunhão fora do seu círculo estreito de caráter autopunitivo, porque se compraz em manter a sua vitima em culpa contínua, que busca ocultar, mantendo, no seu recesso, uma necessidade autodestrutiva, porque incapaz de enfrentar-se e solucionar os seus mascarados enigmas.

Psicologia da Gratidão, Divaldo Franco.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

117 - tabula rasa

Sempre pensei que estava no controle – parcial e limitado – da minha vida. Talvez um bom observador, daqueles que poderiam ser orgulhar de admirar as pequenas idiossincrasias humanas tão comuns que não nos preocupamos mais com o quê os sentimentos deveriam ser. Mesmo porque os sentimentos se transformaram em moeda de troca de um jogo emocional.

Não estou preparado para jogar este jogo absurdo, também acredito que você não esteja “querendo” participar, porém acabamos nos inscrevendo e, para não parecermos deslocado em meio a este caos, recriamos as mesmas respostas. Respostas de inconformismo, de ódio, de resignação forçada, de arrogância ou soberba, de antipatia ou falsa simpatia, de rancor ou frustração, de infinitos sentimentos controversos e doentios. Deste modo ferimos para não sermos feridos, como se agir com desconfiança e esperteza fossem qualidades morais. Ou ferimos na esperança de manter nossas expectativas em segurança. Criamos uma atmosfera de indignação e irritação que faz ferver quem entra nesta zona negra de nossos pensamentos.

Estou me imiscuindo de minhas desvantagens morais. Todos nos precipitamos em reagir conforme o que a maioria defende ser o certo. Mas e quando sentimos que as nossas reações são personagens já criados e eternizados, que não emitem os reais sentimentos e sim os padrões esperados? Entramos no jogo da infelicidade.

O que eu estou querendo dizer é que, por mais que eu perceba quais ações acertadas devem ser declaradas, continuo respondendo com amargura e desconfiança. Ou seja, estou julgando pelas minhas próprias ideias do que eu gostaria que acontecesse, de como eu gostaria que se comportassem. Então eu experimentei usar a Lei da Atração para observar porque semelhantes se atraem, mesmo que eu tente minimizar ou justificar as minhas ações refletidas no outro, só estarei negligenciando a verdade de que eu sou exatamente assim.

Assim sendo, por que eu não consigo ver em mim as deficiências que tão facilmente critico no outro? Porque não quero admitir que também sou assim? Talvez as diferenças – que não são diferenças, nem justificativas atenuantes – estejam no fato de que não falamos em voz alta o que o outro expressa e nos ofende. Odiar abertamente uma pessoa é a mesmíssima coisa do que só pensar e dissimuladamente sorrir. Mesmo que seja uma tentativa de não se declarar abertamente o conflito. É ao mesmo tempo covardia, um medo de não saber lidar com os conflitos, e uma admoestação amarga e indigerível.

Deve estar pensando que devemos ir à luta e enfrentar tais inconformismos como se a alternativa fosse uma espécie de holocausto moral, onde só se consolidaria os sentimentos mais fortes. Não se engane, neste jogo não há perdedores, as experiências servem a um propósito quase indistinguível. Observar as suas falhas refletidas no outro significa, mesmo que seja exacerbada aos seus olhos, que é uma oportunidade de refletir sobre os seus sentimentos camuflados e ocultos, ou mesmo abertamente percebidos.

Não estamos aqui para cobrarmos justiça conforme consideramos justo, mas de perceber que perdemos tempo em resolver tudo com as nossas próprias mãos. Então como fica Deus perfeito, se teimamos em resolver tudo por nós mesmos? Por isso devemos agradecer a estas pessoas a oportunidade de entendermos como somos.

Kanzeon Bosatsu significa Amor de Deus, Lei da Mente que permeia o universo. É o ato de salvar o outro, manifestando-se numa forma adequada às vibrações mentais de cada pessoa. Portanto cada pessoa pode ser a manifestação de Deus que nos aparece com o objetivo nos fortalecer. Kanzeon Bosatsu é chamada abreviadamente de Kannon, mas ela não é um ser humano. É um ser búdico que, captando o “som da mente das pessoas”, ou seja, a vibração mental, faz manifestar aquilo que as pessoas desejam. Bem ou mal, conforme a vibração mental.

sábado, 4 de janeiro de 2014

116 - todas as coisas são reais?

Todas as ações são reais.

Mentira. Existem coisas que não são bem a verdade, mas podemos chamá-las de verdade. Esqueçam isto, não quero explicar quais destas ações podem ser reais ou não. O importante é saber que existem ações que não “parecem reais”. Quando um médico afirma, ele se baseia em certezas médicas que encontraríamos em teses e pesquisas científicas, mais as evidências do sucesso destas, aplicados e comprovados pela experiência. Usam diagnósticos avançados e tecnologia que atestem os procedimentos que são sempre reescritos conforme as observações se mostrem mais apuradas.

Então surgem as “anomalias”. E para que as ações – sobretudo médicas – não percam credibilidade ou criem dúvidas, estabeleceu-se que o não-normal seria negligenciado. Não se podem concentrar as ações reais no que é anormal. O problema é que também negligenciamos a essência humana que é sempre evoluir, encontrar novas verdades. Digo, expandir o conceitos e encontrar a verdade. Esta busca será sempre inalcançável, mas prioritária.

Por que a gravidez imaginária acontece? Ou que algumas amputações traumáticas não causam dor? Certos remédios não curam, apesar de sua eficácia comprovada? E certos placebos curam? E que doenças incuráveis podem ser curadas e pessoas iludidas pelo medo morrem. O conceito de poder da mente é uma ciência que engatinha, contudo existe a milhares de anos. Não cabe aqui julgar quem esconde ou mente.

Parece inacreditável que o pensamento crie os modelos e as normas que regem este mundo e, ao mesmo tempo, cria modelos e normas deturpadas e incoerentes. Estamos sempre recriando as ações de nossos antepassados e desta forma não percebemos que poderíamos moldar novas percepções. Parece difícil aceitar que a mudança de pensamento poderia curar. Mas é muito mais incrível que possamos nos iludir com crenças limitadoras que afirmam ser Deus menos do que perfeito. Que destrói, que controla e faz sofrer, que ama somente quem faz o bem e opta. Que por vezes não interfere, porém parece ter preferências.
É um jogo de interesses, tanto daqueles que controlam, quanto de nós. Nós, que aproveitamos esta situação caótica para encontrar o caminho da evolução. Toda a ação do mal passa pelo crivo da bondade de Deus.

Pensar é domar o pensamento e usá-lo a nosso favor. Acreditar que as anormalidades são sinais que dizem: experimente novas verdades e descubra a verdade real. Assim como Buda, quando nos ensina que ao alcançar a iluminação, estaremos apenas aprendendo o caminho para a verdadeira iluminação. Que todas as ações – meios hábeis – são meios para se atingir a iluminação. 

“É tolice e desnecessário a uma pessoa continuar sofrendo simplesmente porque não alcançou a iluminação, quando esperava alcançá-la. Não há insucesso na iluminação, portanto a falha reside nas pessoas que, durante muito tempo, procuraram a iluminação em suas mentes discriminadoras, não compreendendo que estas não são as verdadeiras mentes, e sim, falsas e corrompidas, causadas pelo acúmulo de avidez e ilusões toldando e ocultando as suas verdadeiras mentes. Se este acúmulo de falsas divagações for eliminado, a iluminação aparecerá. Mas, fato estranho, quando os homens atingirem a iluminação, verificarão que, sem as falsas divagações, não poderá haver iluminação”.


Acreditando ou não nas capacidades humanas, se acreditar nas capacidades de Deus que está em cada um de nós, acreditará que todas as coisas são possíveis. Acho que precisarei fazer um podcast para tentar mostrar o quanto podemos nos boicotar ao determinar que tudo que nos dizem é imutável e permanente.