segunda-feira, 25 de março de 2013

amor vs apego



Agradecemos muito pouco. Queremos que tudo seja como desejamos. 

Paz, harmonia, felicidade, provisão infinita. E não admitimos sequer que somos uma das peças do jogo. Se estamos em desarmonia, provavelmente estaremos emanando este sentimento, o que acaba contribuindo para o fortalecimento desta desarmonia. Mas não fui eu quem começou?! E o que te impede de terminar, orgulho? Pois eu não encontro uma razão para extinguir o mal.

Eu olho para o problema e, se estou envolvido – sabemos, pois automaticamente sentimos algo, não ignoramos ser afetado por ele -, deve existir uma razão, um meio hábil. “Shariputra, desde que atingi o Estado Búddhico tenho ensinado várias causas e várias metáforas expondo largamente os meus ensinamentos e utilizei incontáveis meios expeditos para guiar os seres viventes e fazê-los renunciar aos apegos. Porque isto é assim? Porque o Tathagata aperfeiçoou os meios expeditos e o paramita da sabedoria”. Por um momento vamos nos esquecer de como devemos reagir e agir com tolerância. Jesus ensinou o princípio: amai-vos uns aos outros como eu vos amei.” (João 15: 12).


Mas somos orgulhosos demais. Se simplesmente não nos respeitamos, quanto ao amor, nada podemos dizer. Amor ou compaixão é sinônimo de apego.

“Ora, quando as pessoas falam de compaixão, creio que costuma haver um perigo de confundir a compaixão com o apego. Por isso, quando estudamos a compaixão, devermos primeiro traçar uma distinção entre dois tipos de amor ou compaixão. Um tipo de compaixão tem um quê de apego— o sentimento de controlar alguém, ou de amar alguém para que essa pessoa retribua nosso amor. Esse tipo comum de amor ou compaixão é totalmente parcial e tendencioso. E um relacionamento que se baseie exclusivamente nisso é instável. Esse tipo de relacionamento parcial, que tem por base a percepção e identificação da pessoa amiga, pode levar a um certo apego emocional e a um sentimento de intimidade. No entanto, se houver uma mudança ínfima na situação, talvez uma desavença,ou se o amigo fizer algo que nos deixe furiosos, de repente nossa projeção mental muda e o conceito de “meu amigo” já não está mais ali. E assim descobrimos que o apego emocional se evapora. Em vez daquele sentimento de amor e interesse pelo outro, podemos ter um sentimento de ódio. Logo, esse tipo de amor, que tem por base o apego, pode estar intimamente associado ao ódio.

Existe, porém, um outro tipo de compaixão que é desprovido desse apego. É a compaixão verdadeira. Esse tipo de compaixão não se baseia tanto no fato de que essa pessoa ou aquela me é cara. Pelo contrário, a verdadeira compaixão tem por base o raciocínio de que todo ser humano tem um desejo inato de ser feliz e de superar o sofrimento, exatamente como eu. E, exatamente como eu, eles têm o direito natural de realizar essa aspiração fundamental. Com base no reconhecimento dessa igualdade e dessa característica comum, a pessoa desenvolve uma noção de afinidade e intimidade com os outros. Com esse tipo de fundamento, pode-se sentir compaixão, independentemente de se encarar a pessoa como amiga ou como inimiga. Ele se apóia nos direitos fundamentais do outro, em vez de na nossa projeção mental. A partir dele, portanto, geramos amor e compaixão. Essa é a verdadeira compaixão”. [A arte da felicidade. S.S. Dalai-Lama]

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