sábado, 30 de agosto de 2014

FALSAS IDEIAS

Firmemente tive que me dominar às obstinações da doença. Não que eu tivesse ignorado o seus sintomas já previstos pela medicina. De qualquer forma hoje comemorarei o Dia Mundial da Esclerose Múltipla, meu dia. Oras, tenho esse direito, mas antes que você comece a pesquisar o que é esclerose múltipla, eu tenho que te alertar.

Não estou nem aí para o fato de ser incurável.

Aliás, fiz de tudo para torná-la, pelo menos até onde pude ir, plenamente curável – porque também fui levado onde jamais pensei ir. Se você está pensando que eu estou deliberadamente me enganando, está certo, nada mais do que as pessoas se enganam diariamente.

No meu caso a medicina não podia sequer garantir uma estabilização dos processos degenerativos, então decidi que procuraria outras alternativas. Comecei por aquelas que mais conhecemos, alimentação proativa, remédios fitoterápicos, etc. até chegar às SOLUÇÕES mais – digamos – milagrosas. E acabei me deparando com um problema imprevisto: não poderia controlar o como, o quando e o porque, ou seja, controlar os resultados.

Não sei porque queremos tanto ter controle sobre todos os momentos e ações de nossas vidas, quando sabemos, mesmo que inconscientes, que jamais controlamos. Os resultados não dependem de nossa atuação, talvez a gente consiga criar um ambiente controlável para que tenhamos algum controle, mas esta ilusão só cria a certeza de que se podemos controlar os resultados, isto se deve às poucas variáveis que enfrentamos. Ou seja, estaremos IMPOSSIBILITADOS de experienciar, porque preferimos estar no controle do que sofrer.

E acolher este sofrimento imaginado – inclusive a dor moral; amargura, ansiedade, angústia – e sem origem perceptível é permitir-se renovar as experiências que podem resolver os problemas. Enfim, enfrentá-los é compreender que nem tudo que parece maligno talvez mereça ser evitado.

Eu estou doente, mereço sofrer?

Seja qual for a sua resposta, a minha será que, às vezes sim. Eu acolho os resultados que provém de uma ideia deturpada sobre se realmente sofro, ou se eu simplesmente preciso atravessar o deserto para chegar ao oásis.

Se Deus é perfeito, por que não aceitamos que tudo é perfeição? Melhor, por que não admitimos que o sofrimento é um mecanismo de evolução que deve ser superado e não mantido por nossos medos de não experimentar o desconhecido?

Ao perceber que não tenho CONTROLE, percebi que a vida tem um controle maior que resolve, até mesmo aqueles problemas insolúveis e incuráveis. Mas é difícil abrir mão do controle e deixar que as mãos invisíveis nos guiem.

Comece pequeno... então.


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