sexta-feira, 16 de maio de 2014

CONCEPÇÃO

Decisões que podem mudar completamente as nossas vidas podem parecer frequentes, mas as que mudam intimamente quem somos, nossas crenças e limitações, são tão raras que podem acontecer uma única vez em muitas vidas.

Este é o meu dilema.

Para aquele que me observa, e mesmo que me conhecesse muito bem, não entenderia e não aceitaria a minha decisão. Soa desagradável porque fomos criados para agir e julgar segundo crenças religiosas, éticas, morais bem estabelecidas e não nos rebelamos diante destas, pois seríamos rotulados como transgressores. Cometeríamos blasfêmias e nem saberíamos porque agimos assim. O medo de desvirtuar a realidade exige que sejamos mantenedores das crenças. E elas são boas. Nos permitem criar um ambiente de segurança para os medos, porque elas também criam os medos.

Para alguns, que se rebelam às leis, às crenças, surgem um forte antagonismo que cria uma desarticulação de quem ele é. Deste modo assume uma outra crença e outra verdade que lhe pareça melhor. E por acreditar em suas convicções, tenta impô-las por obstinadamente acreditar que as suas verdades são melhores.

São os conflitos de crenças que geram a soberba.

Mas e quando não existe outra crença ou modelo que possa nos interessar. Podemos fundir alguns aspectos de várias crenças e/ou torna-las menos rígidas ou até mais, conforme nossas crenças pessoais, que por mais desarticulada que possa ser de sua origem, vê sua nova realidade, crença, com os olhos – ideias e pensamentos – das crenças que foram seus professores.

Mas e quando nenhuma realmente nos identifica, ainda somos quem sempre fomos, buscamos respostas, lutamos por nossas verdades, aprendemos conforme as religiões dizem. E quando desistimos de ser o que as crenças ditam, parecemos, por um tempo, solitários e perdidos. Não queremos defender nenhuma bandeira, e nem abandonar o que nos une, as crenças, o ego coletivo.

Fica uma forte sensação de apatia, que para não ser, precisa de tempo e discernimento. Por isso é uma escolha de muitas vidas, ou ainda acredita que é governado pelo acaso e suas escolhas são somente aquelas que dita o livre-arbítrio?

A verdade é que não sabemos que jogo estamos jogando, quais os objetivos que decidimos antes e nascer. Eu demorei, mas hoje sei que escolhi a doença, não com o propósito de me curar ou encontrar a cura ou simplesmente me resignar, mas para que fosse possível ir além do que acreditamos, ir além das limitações, ir além dos meus medos e vislumbrar um maravilhoso mundo novo.

Para aceitar o desconhecido não basta conhecer o caminho. Saber o caminho não é a mesma coisa que trilhar o caminho. Diante do novo, que nos atemoriza, ouvimos nosso ego gemendo contra o que advém. Tomar uma decisão séria baseada em intuição e conjecturas parece infantilidade e ignorância. Ou evitar que as ilusões sejam apresentadas, e assim manter nossas crenças conforme o ego nos convence de sua primazia, não seria infantilidade, ignorância e egoísmo? Mas quando a realidade e a crença se autodestroem só nos resta seguir em frente, o desconhecido.

“É tolice e desnecessário a uma pessoa continuar sofrendo simplesmente porque não alcançou a iluminação, quando esperava alcançá-la. Não há insucesso na iluminação, portanto a falha reside nas pessoas que, durante muito tempo, procuraram a iluminação em suas mentes discriminadoras, não compreendendo que estas não são as verdadeiras mentes, e sim, falsas e corrompidas, causadas pelo acúmulo de avidez e ilusões toldando e ocultando as suas verdadeiras mentes. Se este acúmulo de falsas divagações for eliminado, a iluminação aparecerá. Mas, fato estranho, quando os homens atingirem a iluminação, verificarão que, sem as falsas divagações, não poderá haver iluminação”. Buda.

terça-feira, 29 de abril de 2014

FRUSTRAÇÃO


Em algum momento nos deparamos com a frustração, e ela nunca está só, vem acompanhada da raiva e da arrogância. Aliás, é o fracasso disfarçado de vítima. Frustramo-nos porque queremos culpar alguém ou algo e não achamos, e então o “subconsciente” discretamente assopra em nossos ouvidos: Só sobrou você! Se não achou culpados, o problema está contigo.

Deste modo, frustração é raiva de si. Frustra-se porque é incapaz e sua arrogância dita que não. Não consegue equilibrar a raiva e a arrogância que se digladiam em nome da verdade. Era mais fácil culpar os outros, mas se sua incapacidade já fizer parte dos seus padrões de pensamento, não lhe restará outra opção senão transformar a frustração em depreciação de si mesmo.

Frustramo-nos porque não sabemos e não reconhecemos que somos capazes de “reescrever” as ideias errôneas que acumulamos em nosso inconsciente e chamamos estas ações engessadas de hábitos e certezas, crenças e preconceitos, impossibilidades e injustiças. O erro não está em admitir tais incapacidades que nos foram ditas e impressas em nós, mas em não aprender que tais incapacidades foram meios para se atingir experiência e, assim sendo, incapacidades que deveriam ser descartadas.

Mas o medo nos impede de eliminar as “incapacidades” porque elas estão incorporadas em nós e assumiram o status de “modo de segurança”. O Papa João XXIII disse: “Consulte não a seus medos, mas a suas esperanças e sonhos. Pense não sobre suas frustrações, mas sobre seu potencial não usado. Preocupe-se não com o que você tentou e falhou, mas com aquilo que ainda é possível a você fazer”.

Preso ao passado, geramos culpa e, as expectativas do futuro nos causam sofrimento por algo que não existe. Sofremos porque o passado parece estar presente, nos culpando pelos fracassos de ontem, como se quisessem nos dizer que jamais deveríamos errar. E antecipamos os medos futuros porque baseamos os resultados nas experiências erradas do passado.

Excesso de expectativa é o caminho mais curto para a frustração.

Estamos amarrados em nossas frustrações e não percebemos que as oportunidades jamais conseguirão nos alcançar. Projetamos no futuro incapacidades que nos foram ensinadas e ditas com autoridade e nem sequer cogitamos a ideia de que elas não existem: estão no passado. O presente é um presente por várias razões, talvez a mais importante seja que no presente todas as ações podem mudar as nossas ideias e crenças, agir e moldar, experimentar.


“… que qualquer frustração que você tem é simplesmente o resultado de um pensamento errado. Se você estivesse pensando corretamente, possivelmente não poderia imaginar que alguma coisa estivesse ‘errada’. Você saberia que nada no Universo trabalha contra você. Por definição, dado quem você é, isso é impossível. Passe, então, para a gratidão quando encontrar suas frustrações. E veja cada evento como uma oportunidade. Você sabe exatamente por que recebeu esta mensagem hoje”.

Neale Donald Walsch

sexta-feira, 18 de abril de 2014

O CAMPO DAS INTENÇOES

Não compreendo porque criamos barreiras para viver. Nos impossibilitando de surpreender e sermos surpreendidos. Ainda nos advogamos imprescindíveis e que nossas ideias sempre serão incorruptíveis. Nos debatemos em conflitos sem sentido porque o que sabemos não é certo. Confiamos na nossa capacidade de julgar para justificar nossas atitudes que podem ser de opressão por causa do que acreditamos ser o melhor. Determinamos batalhas para a nossa sobrevivência e enfim, terminamos nos contaminando com as contradições que estas oposições, criadas para e por nós, se permitem existir.

Não somos contraditórios, nem estamos em uma luta entre nós, só acreditamos que é assim. Observamos o outro como reflexo de nossos medos e projetamos um mundo em que o bem e o mal coexistam. Não existe o mal, nem o bem. Existe somente a experiência. Por temermos o mal, criamos o bem como uma meta quase tão insuportavelmente inacessível quanto o medo de alcançar o mal. O mesmo vale para o contrário. Não somos separados do todo como nos fazem acreditar, e nós o perpetuamos.

Se para a coragem existir é necessário o equilíbrio entre a temeridade e o medo, tudo que precisamos fazer é admitir que as trevas e a luz que possuímos dentro de nós são indispensáveis para a criação de todas as nossas potencialidades. Se Deus é a fonte de tudo que concebemos, concluo: toda a ação do mal passa pelo crivo da bondade de Deus.

Não precisamos acreditar que as diferenças existem, precisamos acreditar nas semelhanças. Não precisamos acreditar que qualquer um dos lados tem prevalência sobre o outro. O mundo se constitui daquilo que criamos e atraímos. Não é uma questão de nos adaptarmos ao meio e sim do meio refletir o nosso mundo interior.