terça-feira, 5 de março de 2013

032 - o que é ego segundo o cristianismo

O Ego...ou CRISTO?

“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” – Mt 16.24-25.

 Um dos termos equivalentes no hebraico para a palavra “vida”, usada no grego koine, aponta para o “eu”, o seu “ego”. A vida do ser humano é o seu “eu”, o que ele é (natureza) e o que ele faz (ações), a determinação da sua própria vontade.

Jesus aqui aponta para o “ego”, para o que a pós-modernidade se acostumou a denominar “amor-próprio”, “autoestima”, o que podemos denominar de “egocentrismo”. A vontade do homem natural é deificada, seu ídolos entronizados em seu coração, lugar onde DEUS permanece ausente. Diz A. W. Tozer: “O homem, por natureza, não mais goza de paz em seu coração, pois DEUS não se acham mais entronizado ali [desde a queda de Adão, no Éden]; pelo contrário, na obscuridade moral da alma humana, usurpadores teimosos e agressivos lutam entre si, procurando ocupar esse trono.”

Quando DEUS deu um filho a Abraão este o idolatrou. O desenrolar foi dramático (ver Ge. 22.2). Devemos olhar para mais além das aparências, devemos ver que no coração de Abraão estava entronizado seu único filho. DEUS o testa e o leva a um decisão. DEUS pediu o sacrifício do maior ídolo de Abraão. Abraão poderia se recusar e falhar, Certamente DEUS disporia outro homem, para a realização de Seus Propósitos. DEUS não perderia nada. Mas Abraão perderia tudo! Há muitos “Isaques” para os homens. Muitos ídolos que o atormentam. DEUS os conclama a uma decisão. Se recusarem a rendição, perderão tudo!

O que você não deixaria por CRISTO? Suas posses (bens materiais), seus parentes, filhos(as), pais, namorados(as), ego, santos(as), religião? Pode ser algo nobre ou vil, elevado ou simplesmente o seu corrupto comportamento depravado. Se não o deixares aos pés da Cruz, em rendição, perderás tudo! E em prantos, na eternidade, lamentarás e tardiamente perceberás que isto tudo nunca foi realmente e absolutamente nada!

Tozer ainda nos diz: “Esse apego grosseiro às coisas é um dos hábitos mais daninho da vida...O Senhor Jesus não veio para destruir, mas para salvar. Tudo quanto for entregue a ELE, fica em perfeita segurança, pois, na realidade, nada será garantido enquanto não for entregue a ELE.” Pode, porém ser apenas um sentimento de amor próprio que impede o homem de achegar-se a CRISTO. O ego é tudo que rodeia o homem em seus propósitos seculares. Sua carreira, seus amores, amizades, gostos e preferências, sua estima própria. Esta é sua vida? Talvez seja este o teu caso?

O que farás com esta vida? A tomarás nas mãos, desprezarás a DEUS, apegar-te-á a ela até o fim?...Ou a depositarás aos pés do Salvador? Não poderás deixar de ser confrontado com a necessidade desta decisão. Mais uma vez Tozer assim explica: “Autopiedade...é um dos piores pecados do coração humano. Se queremos conhecer a DEUS em crescente intimidade, precisamos palmilhar o caminho da renúncia.” O salvo renunciou a si mesmo no calvário. E todos os dias toma sua cruz e morre um pouco mais para o seu “amor-próprio”, para sua “autoestima”, para o seu “ego”. Nada mais importa, pois a Graça de DEUS lhe deu tudo e ele não deseja mais nada senão estar com o seu Salvador!

Você não pode deixar de ser levado a este conflito. O que ocorreu com Abraão, um dia, ocorre com todos os seres humanos. Se guardares tua vida, DEUS dará tua parte a outro, e perderás tudo. Se “levantares a mão para a imolar”, sem reservas, DEUS te dará tudo: perdão, salvação e adoção. Não poderás fugir a isso. Nem agora, nem na eternidade!

Que farás, amigo(a)?
Pr Miguel Ângelo L Maciel

sexta-feira, 1 de março de 2013

031 - o que é ego segundo hinduísmo


A estruturação do psiquismo segundo o Hinduísmo

 “Quem sou eu?” é, sem dúvida, a pergunta mais importante do universo humano. E é claro, “De onde vim e para onde vou?”, “Quem é Deus?”, e tantas outras perguntas do mesmo teor, vêm na sequência. E em toda a história da Humanidade, o homem mergulhou intensamente na busca desta resposta. Para tanto, criou inúmeras religiões, filosofias, ciências e psicologias, sempre na ânsia ancestral e atávica, de desvendar aquilo que os índios norte-americanos chamam de “O Grande Mistério”.

 A ideia central das culturas orientais e xamânicas – a Unidade – traz o conceito de que tudo é Um, o Universo é um único organismo consciente e totalmente interagente, e que toda a percepção e sensação de separatividade é uma ilusão (maya). Os hindus chegam a dizer que a única doença de que nós  realmente sofremos – todas as outras (físicas e psíquicas) são um desdobramento desta – é avidya, a ignorância da nossa natureza real, a Unidade. E é assim que nós nos sentimos: totalmente cindidos, fragmentados. Tanto externamente – nos sentimos separados de cada semelhante, da Natureza e do que acreditamos que seja Deus; quanto internamente – corpo, cabeça e coração raramente se alinham.

 Na tarefa humana de caminhar para a Luz, em primeiro lugar é importante perceber que quando trabalhamos conosco ou com outra pessoa, estamos fundamentalmente lidando com as duas instâncias mais externas da personalidade - a autoimagem e  a persona – que são construções psicoemocionais limitadoras desenvolvidas por nós (inconscientemente, na maior parte do tempo) paradoxalmente para nos defender. A autoimagem é “quem eu acredito que eu sou”. É um sistema de crenças que nós artificialmente construímos como proteção em função das nossas experiências dolorosas, e que nos dão uma imagem e uma perspectiva de nós mesmos, que na maior parte das vezes nós sentimos como muito desfavorável, ou ao contrário (mas pela mesma defesa), o ego infla e a pessoa se sente exageradamente o máximo. A persona é  “quem eu quero que acreditem que eu sou”. São as nossas máscaras sociais filhas da autoimagem, e que procuram compensar esta.

 E a autoimagem e a persona são competente e eficientemente fomentadas, mantidas e monitoradas pela mente e pelo ego. A autoimagem e a persona são componentes importantíssimos na construção da nossa visão de mundo, a chamada “realidade” (que é o que nós acreditamos que a vida é). Outro movimento do psiquismo -  que foi percebido por S. Freud bem no início da estruturação da Psicanálise - são as pulsões da  busca do prazer e da evitação da dor. E todo o complexo psicoemocional trabalha neste sentido: o de nos manter afastados do contato com a dor.

 Na infância, quando passamos por experiências traumáticas, estas impressões são “escondidas” no inconsciente. A intenção é que não tenhamos que estar sempre entrando em contato com nossas dores (ou do que a mente acredita serem dores), pois seria insuportável viver assim, lembrando o tempo todo de tudo o que de ruim nos aconteceu. O problema é que estas dores continuam vivas no inconsciente, produzindo ao longo do tempo um sistema de crenças e padrões que irá contribuir decisivamente na formação do caráter e da personalidade, e também na somatização de doenças físicas, psicoemocionais ou sociais. Ou seja, paradoxalmente , o mesmo procedimento interno que trabalha para nos proteger, nos limita e nos sabota.

 Vamos pegar emprestada aqui, um pouco da Psicologia Hindu para nos dar um subsídio filosófico: Em primeiro lugar, se tanto as tradições orientais quanto as xamânicas dizem que somos seres multidimensionais, isto quer dizer que existimos simultaneamente em infinitos níveis, certo? Na filosofia hindu, temos duas formas de codificar as dimensões do ser humano: uma trina (os Shariras, ou corpos) mais usada pelo Yoga e outra quíntupla (os Koshas, ou envoltórios) mais usada pela Vedanta. São apenas divisões de caráter didático, já que estas dimensões não são lineares e tridimensionais, são holográficas.

Os Shariras, ou corpos, são 3: o Sthula Sharira ou corpo denso (o corpo físico), o Sukshma Sharira ou corpo sutil  (o corpo de energia, o corpo emocional e o corpo mental) e Karana Sharira ou corpo causal.

 Karana Sharira se chama corpo causal porque é nesse nível  onde se localiza a causa da ignorância (avidya). Mas é também neste nível que se localiza a visão da Águia, da Testemunha, e que acontecem as canalizações e as conexões mediúnicas. E este também é o nível que faz a “interface” do estado de consciência separada com o estado da Unidade Absoluta (Nirvana, Samadhi, Moksha, Satori).

 Os Koshas, são chamados de envoltórios (ou bainhas), porque são as camadas que ilusoriamente prendem e condicionam o Espírito. São cinco:
Annamaya kosha, ou corpo físico; Pranamaya kosha, o corpo de energia (onde normalmente atua a Acupuntura, a Homeopatia, a Cromoterapia, o Reiki, etc. e que os esoteristas chamam de duplo-etérico e os espíritas de perispírito). Neste nível circulam as Pranavaha Nadis (condutos energéticos que transportam o Prana); Manomaya kosha, o corpo psicoemocional. Neste nível circulam as Manovaha Nadis (condutos de energia que transportam Ojas, a energia mental. Ojas é a quintessência energética extraída dos alimentos pelos Dhatus – os 7 tecidos corporais); Vijñanamaya kosha, o corpo psíquico e; Anandamaya kosha, o corpo psicoespiritual.

Vijñanamaya Kosha é onde opera o discernimento, a capacidade de se escolher e discriminar entre o que é real ou irreal. Assim como o Karana Sharira, Anandamaya kosha é a ponte, o degrau para o estado da Unidade.

 O Sthula Sharira (bem como sua correspondente Annamaya Kosha) está relacionado a Guna Tamas; o Sukshma Sharira (Prananamaya, Mano Maya e Vijñanamaya Kosha) está relacionado a Guna Rajas; e Karana Sharira (Anandamaya Kosha) a Guna Sattwa.  O complexo psíquico (que os hindus chamam de Antahkarana, ou órgão interno) é formado por:

 1. Buddhi, é a parte mais elevada da mente. Num primeiro nível, Buddhi  trabalha com o discernimento, as escolhas e as opções. Desde as escolhas inconscientes - como, por exemplo, as que faz o sistema nervoso autônomo - passando pelas opções e escolhas conscientes do dia-a-dia, até a mais elevada das formas de discernimento que é o questionamento sobre o que é real e o que é irreal na existência (que é o que os hindus chamam de Viveka). Em um nível mais elevado de atuação, Buddhi é  a mente testemunha (a visão da águia), o nível da meditação e da neutralidade, onde não há julgamento. O Buddhi atua no nível de Karana Sharira e Vijñanamaya kosha. Abarca também o inconsciente. O trabalho da mente com os Guardiões e os Mantras no Fogo Sagrado, ocorre neste nível.

2. Manas é a mente pensadora. Administra os estímulos que vem através da aferência dos sentidos (Jñana Indriyas)  e da atividade da memória (Chitt , conteúdos do consciente e do inconsciente), administra as escolhas e opções de Buddhi, e  produz os Vrittis (pensamentos, movimentos mentais, mente racional) e as respostas psicomotoras (Vasanas) através dos Karma Indriyas (órgãos de ação).

3. Ahamkara, o ego. Trabalha em dobradinha com Manas na função de se manter a identificação da Consciência com o estado ilusório de separatividade (maya). O ego e a mente mantém a Consciência ilusoriamente identificada com sua personalidade (que poderíamos chamar aqui de autoimagem/persona ou Corpos Energéticos ou ainda vrittis/samskaras/vasanas) e com as Gunas, os movimentos impermanentes da vida. E como este “órgão interno“ trabalha ? Quando os nossos sentidos apreendem algum objeto, informação ou estímulo, dois mecanismos disparam automaticamente: o corpo mental associa um nome (nama) e uma forma (rupa) e o corpo emocional avalia se aquele determinado objeto me atrai (raga) ou se eu o rejeito (dwesha) – bem no estilo das pulsões “busca do prazer evitação da dor” freudianas.  

 Em outras palavras  os sentidos captam, a mente e o emocional enquadram e o ego identifica com eu/meu.

Assim enquadramos toda a realidade Una em pequenas unidades ilusoriamente  separadas,  mantemos a ignorância da nossa natureza real, e ficamos vivendo aprisionados em uma realidade construída por nós mesmos. Se o estímulo ou informação que recebemos através dos sentidos (jñana indriyas) é alguma coisa muito forte e traumatizante, ou se por outro lado, são estímulos ou informações que se repetem com periodicidade, isto vai imprimir samskaras (impressões psicoemocionais) no  inconsciente, que vão por sua vez produzir vasanas (crenças, hábitos, tendências e padrões) e vrittis (movimentos da mente, pensamentos, atividade racional).
Algumas imagens:

1. Imagine que o seu complexo psíquico é um lago: o  reservatório em si é a mente (Manas); o conteúdo – a água – é Chitta, a memória consciente e inconsciente; o fundo do lago é o Ser, a Unidade coberta pela “poeira” de Chitta que forma “bancos de areia” (samskaras) em função dos movimentos internos e da superfície (vrittis); por sua vez, os movimentos ondulatórios da superfície são os Vrittis  (pensamentos, atividade racional) cujos padrões são produzidos pelo perfil topográfico do fundo (samskaras). Quanto mais nivelado e liso estiver o fundo, mais tranquilas serão as águas da superfície.

2. Uma carruagem:  Buddhi é o condutor, Manas são as rédeas, Ahamkara é a carruagem e os cavalos são os sentidos (indriyas).

3. Estou em um campo e de repente vejo um touro enfurecido correndo em minha direção: os jñana indriyas captam a imagem , Manas processa a informação (“vendo um touro correndo”), Ahamkara identifica com o eu (“eu estou vendo um touro”), Buddhi faz as escolhas (“eu estou vendo um touro, que vai me pegar. Tenho que correr”), e os Karma Indriyas executam a ação.

Ernani Fornari (Dharmendra)

http://www.geocities.com/yogaterapia/

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

030 - o que é ego segundo a ilusão


Uma parte de mim aceita que entender o ego possa gerar incongruências e divergências, mas aceitar que haja verdade em uma ou outra designação constitui erro. Para entendermos o ego devemos aceitar inexoravelmente todas as opiniões, mesmo que elas sejam opostas e até heterogêneas. Existe uma verdade por trás de cada expressão. 

Três cegos se aproximaram de um elefante. O primeiro, ao tocar seu rabo, passou a considerar o elefante como uma corda, o segundo, abraçado à perna, disse que o animal se parecia a uma árvore e, então, o último, pegando na orelha, pensou que era uma grande folha. Estudar o ego é assim, nos prendemos às particularidades, às partes, e deste modo passamos a considerar as partes o todo. Devemos pensar que o ego é constituido de todas as teorias, religiosas ou não, e mesmo assim não conheceríamos o todo do qual é constituido. É como definir Deus, que é a soma de tudo que já foi dito sobre Ele, e mesmo assim seriam incompletas. Mas nós sabemos que Deus é perfeição, e temos certeza que isto significa que o Seu alcance é justo, mesmo que, presos por ideias fragmentadas, acreditemos que Deus é rancoroso e injusto, que joga dados.


Como matar o ego... e viver em psicose!


Publicado em: 17 de setembro de 2007, 12:40:50  


É difícil adentrar em uma discussão temática indefinida e, ao mesmo tempo, desfazer-se do ego. Grande parte das discordâncias em espaços universalistas ocorrem desnecessariamente, por significados pessoais diferentes para as mesmas palavras. Convenção por convenção, a Voadores costuma valorizar a fundamentação acadêmica. Pelo menos aqui, chamemos as coisas pelo que são:


Viver "sem ego" é um mito, no mal sentido da palavra. Este conversa pseudoespiritual de "viver sem ego" é um convite à psicose, e não à iluminação. Podemos matar o egoísmo, não o ego. Os delírios, e não a mente. A neurose, não os neurônios. O individualismo, e não o indivíduo. A falta de sentimento, e não a existência de pensamento. A indisciplina excessiva, e não a saudável capacidade de questionar. O que nos afasta de Deus, não o que nos sustenta aqui.


Vejo religiosos usando o termo EGO ao seu bel prazer, quase como um coringa que pode valer como "vaidade", "egoísmo malévolo", "personalidade forte", "subversão às ordens de meu guru" e até mesmo "capacidade de pensar". Tudo é "ego" para eles, menos os vários conceitos sérios dele (que são vários, também, e nenhum parece com esses).


Há também pseudohinduistas, que sem perceber incorrem no maior ego de todos: o de se achar livre do ego. Dizem eles: "eu aniquilei o ego e estou unido ao Todo... e você, mundano, não". : Ora, que todo é esse que não inclui tudo? Podemos no máximo remover a ilusão de que SOMOS aquilo que ESTAMOS, mas sem criar a ilusão maior de achar que já ESTAMOS aquilo que SOMOS. Além do mais, é uma vingança irônica do ego: quem se afirma "sem ego" no fundo acredita ser maior que os demais. Ou não se definiu adequadamente o que seja ego, ou - com todo respeito - não se tem a menor ideia do que estão falando. Não ter ego equivale a psicotizar, inclui delírios e alucinações, e exige medicamentos sob pena de (constatados) danos à estrutura cerebral. Perda cognitiva não é iluminação.


O ego é quem ouve o acreditamos ser certo e errado, e toma seus julgamentos e decisões. Se um iogue sem ego preferiu ouvir seus conceitos espiritualistas aos seus desejos, quem fez isso foi seu ego. Se um vegetariano brahmacharia sem ego deixar de comer carne ou fazer sexo, quem optou por isso foi seu ego. E essas escolhas se dão na mente que o tal iogue disse que abandonou.


O Wagner Borges costuma contar em palestras que um iogue passou toda sua vida meditando para conseguir parar todos os pensamentos da mente. Com muita disciplina, um dia chegou lá, e feliz, PENSOU: "Consegui!".


Há quem pense que "matar o ego" é apenas viver sem máscaras, mas até isso é impossível: a persona tem sua função, sem ela não há socialização. Mais razoável seria conhecermos as máscaras que precisamos usar. 
  
Espíritas também usam a expressão, em seu crescente sincretismo hinduísta. Mas aí fica mais incoerente ainda, pois seus relatos mediúnicos sobre cidades astrais são baseados justamente na manutenção do ego do lado de lá, até bem mais definido, tanto nos que o usam para seguir as instruções do plano maior quanto nos malévolos ou patológicos desencarnados.


Há quem diga que o ego é sempre o dos outros. Em si, seu compromisso de "matar o ego" é sempre um objetivo (bem) futuro, uma meta suave, uma espécie de noivado com o divino. Nos outros, contudo, é um julgamento impiedoso daqueles que só o ego poderia fazer.


Numa repetição "espiritualista" da posição esquizoparanóide de vários julgamentos religiosos, o "ego" assume a função já ocupada pelo "diabo"... e o possuído é sempre o próximo, o que tira a atenção do observador, que assim se identifica com o "bem" não por trabalho interno, mas pelo rotular e afastar de seus próprios aspectos sombrios projetado nos outros. Se "o resto" aos meus olhos é "o mal", sobra para mim - sem esforço - ser o bem. Se "os outros" são "o mundo", só posso então ser "de Deus".


O sábio Ramakrishna resume bem este tipo de iogue, antecipando em décadas a psicanálise: "Quem julga o ego é sempre um ego maior". Ramakrishna também dizia que não podemos viver sem ego aqui, mas que podemos transformá-lo em um ego servidor. Em outra passagem, pergunta o objetivo de vida de seu maior discípulo, e ouve: "Ah, mestre, eu gostaria de atingir o samadhi, deixar meu ego, fundir-me ao todo, e dissolver-me em Deus"


Ao que o grande mestre ensina: "Não lhe parece um objetivo muito EGOista, sabendo que há tanta gente precisando de ajuda AQUI?"


Lázaro Freire