O ator e o ego
por Brahma Kumaris - sao.paulo@br.bkwsu.org
Um guitarrista de blues descreveu recentemente na rádio
como, às vezes, sua performance pode ser tão perfeita que a plateia fica
totalmente tocada e os outros músicos em transe. É como se ele se movesse para
além do espetáculo, e observasse de algum outro lugar, onde a consciência do
ego não está envolvida. Ele pode ser levado às lágrimas por sua própria música
como se estivesse na plateia - uma experiência fantástica, quase mística.
Michelangelo, também, disse em suas esculturas: "As
figuras já estão lá, eu só retirei o excesso de mármore" Estátuas que,
apesar do tempo, continuam a ter um forte impacto na vida das pessoas.
A maioria de nós teve momentos místicos parecidos. A
diferença entre alguém bom e alguém grandioso é a grande capacidade de
desapegar totalmente de sua criação ou performance. Embora não possamos
exatamente ser lembrados na história como grandiosos, sempre que experimentamos
esse desapego, nos movemos para a dimensão da grandeza por um certo tempo. Essa
sensação de grandeza é muito real e um componente espiritual importante na vida
de uma pessoa.
Todos nós somos atores. Se olharmos para dentro, somos levados
a descobrir uma multidão de personagens. Em um único dia, atuamos com tal
variedade de papéis. Alguns papéis são desempenhados com o mesmo traje, e às
vezes o traje pode mudar. A cada mudança de cena, um novo personagem interno é
projetado no drama de nossas vidas. Finalmente, chega o momento quando nós
perguntamos qual deles sou eu, ou "Será que o meu eu verdadeiro pode se
levantar por favor?" Esta é uma das perguntas mais difíceis de responder.
Os seres humanos são criaturas de hábito. Nossos personagens
internos têm seus hábitos também. Quando usamos um personagem de forma
inadequada, é inevitável que algo vai dar errado. Se o nosso observador
permanece adormecido, nossos diferentes personagens, por pura força do hábito,
podem continuar a agir de forma inadequada. Mas, se o nosso observador está
desperto, ele pergunta: "Ei, o que está acontecendo? Este não é o que você
deveria estar fazendo".
O objetivo na meditação é despertar o eu observador. Nossa
atenção nos permite enviar o personagem para os bastidores e chamar o próximo
ator. Quando o observador é qualificado, competente e confiável, isso funciona
bem. O ator e observador são opostos complementares. Um mestre espiritual é
hábil ao se mover entre os dois e equilibra ambos rumo a perfeição.
Normalmente, na cultura ocidental, a perfeição é um extremo
da escala e tudo o que não é esse extremo não é perfeito. No entanto, a
perfeição é o fiel da balança. Ficamos sem equilíbrio quando nos movemos em
direção ao sucesso extremo e perpetuamos esta exposição. Isto é chamado um
problema de ego. Ego é escorregadio e difícil de se ver em si mesmo, embora
seja fácil de ver na outra pessoa. Estudo e prática espiritual nos convidam
para trabalhar em níveis muito profundos, mais profundos do que os do ego.
A nossa consciência pode atuar como um barômetro para
identificar instantaneamente quando estamos certos ou errados. O trabalho
espiritual aumenta a nossa sensibilidade e habilidade em ler o nosso barômetro
e ver a nossa atividade de cada dia. Como sabemos quando estamos agindo
corretamente? Quando nos sentimos bem.
Em última análise, nós somos os diretores, e é através de
nossa maestria e autoestima que podemos assegurar que toda a peça, desempenhada
por nós mesmos como os principais atores, se desenrole para nossa satisfação
total.
Denise Lawrence é inglesa, bacharel em Filosofia e Línguas
Modernas pela Universidade de Kent no Reino Unido e primeira professora
ocidental da Brahma Kumaris. Trabalhou para a BBC e a Canadian Broadcasting
Corporation em Londres. Coordenou as atividades da Brahma Kumaris em Los
Angeles, San Francisco, Texas, Toronto e Frankfurt. Produziu vários programas
para a TV e vídeos sobre meditação.