quarta-feira, 6 de março de 2013

033 - o que é ego segundo o cristianismo



Arthur Walkington Pink (1886-1952) nasceu na Grã-Bretanha e imigrou para os Estados Unidos para estudar no Instituto Bíblico Moody. Pastoreou igrejas no Colorado, na Califórnia, no Kentucky, e na Carolina do Sul, antes de se tornar um professor itinerante da Bíblia em 1919. Ele retornou à sua terra natal em 1934, estabelecendo residência na Ilha de Lewis, na Escócia, em 1940, permanecendo lá até sua morte em 1952. Muitos de seus trabalhos originalmente apareceram como artigos em "Estudos nas Escrituras" (Studies in Scriptures), uma revista mensal que lidava estritamente com a exposição bíblica. A revista nunca teve mais que 1.000 assinantes, mas Pink descobriu que a maioria deles eram ministros, com seus próprios rebanhos, e que passavam o que haviam aprendido da exposição de Pink em seu pastorado, dando-lhe um grande efeito de cascata. Ele apreciou este pensamento. Superficialmente o ministério de Pink e seus escritos não pareceram ser de muito efeito, pois, Pink foi virtualmente desconhecido e certamente desconsiderado em seus dias, contudo agora que já faleceu, é muito mais amplamente conhecido e lido que quando estava entre nós. O estudo independente da Bíblia o convenceu que muito do moderno evangelismo era defeituoso e incorreto. Quando os livros puritanos e reformados foram geralmente escarnecidos como um todo pela Igreja, ele desenvolveu a maioria de seus princípios com um zelo incansável. O progressivo declínio espiritual de sua própria nação (a Grã-Bretanha) foi, para ele, uma consequência inevitável do predomínio de um "evangelho" que não podia nem ferir (com a convicção do pecado) nem curar (através da regeneração). Profundo conhecedor de toda a extensão da revelação, o Pr. Pink raramente se desviou dos grandes temas das Escrituras: a graça, a justificação, e a santificação. Nossa geração tem para com ele um grande débito pela duradoura luz que irradiou, pela graça de Deus, sobre a Verdade da Bíblia Sagrada.




A Cruz [que despreza] o Ego 


 “Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz, e siga-me” — (Mateus 16:24).

Antes de desenvolver o tema deste verso, comentemos os seus termos. “Se alguém”: o dever imposto é para todos os que desejam se unir aos seguidores de Cristo e alistar sob a Sua bandeira. “Se alguém quer”: o grego é muito enfático, significando não somente o consentimento da vontade, mas o pleno propósito de coração, uma resolução determinada. “Vir após mim”: como um servo sujeito ao seu Mestre, um estudante ao seu Professor, um soldado ao seu Capitão. “Negue”: o grego significa “negar totalmente”. Negar a si mesmo: sua natureza pecaminosa e corrompida. “E tome”: não passivamente sofra ou suporte, mas assuma voluntariamente, adote ativamente. “Sua cruz”: que é desprezada pelo mundo, odiada pela carne, mas que é a marca distintiva de um cristão verdadeiro. “E siga-me”: viva como Cristo viveu — para a glória de Deus.

O contexto imediato é mais solene e impressionante. O Senhor Jesus tinha acabado de anunciar aos Seus apóstolos, pela primeira vez, a aproximação de Sua morte de humilhação (v. 21). Pedro se assustou, e disse, “Tem compaixão de Ti, Senhor” (v. 22). Isto expressou a política da mente carnal. O caminho do mundo é a procura para si mesmo e a defesa de si mesmo. “Tenha compaixão de ti” é a soma de sua filosofia. Mas a doutrina de Cristo não é “salva a ti mesmo”, mas sacrifica a ti mesmo. Cristo discerniu no conselho de Pedro uma tentação de Satanás (v. 23), e imediatamente a rejeitou. Então, voltando-se para Pedro, disse: Não somente “deve” o Cristo subir à Jerusalém e morrer, mas todo aquele que desejar ser um seguidor dEle, deve tomar sua cruz (v. 24). O “deve” é tão imperativo num caso como no outro. Mediatoriamente, a cruz de Cristo permanece sozinha; mas experiencialmente, ela é compartilhada por todos que entram na vida.

O que é um “cristão”? Alguém que sustenta membresia em alguma igreja terrena? Não. Alguém que crê num credo ortodoxo? Não. Alguém que adota um certo modo de conduta? Não. O que, então, é um cristão? Ele é alguém que renunciou a si mesmo e recebeu a Cristo Jesus como Senhor (Colossenses 2:6). Ele é alguém que toma o jugo de Cristo sobre si e aprende dEle que é “manso e humilde de coração”. Ele é alguém que foi “chamado à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Coríntios 1:9): comunhão em Sua obediência e sofrimento agora, em Sua recompensa e glória no futuro sem fim. Não há tal coisa como pertencer a Cristo e viver para agradar a si mesmo. Não cometa engano neste ponto, “E qualquer que não tomar a sua cruz e não vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27), disse Cristo. E novamente Ele declarou, “Mas aquele (ao invés de negar a si mesmo) que me negar diante dos homens (não “para” os homens: é conduta, o caminhar, que está aqui em vista), também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 10:33).

A vida cristã começa com um ato de autorenúncia, e é continuada pela automortificação (Romanos 8:13). A primeira pergunta de Saulo de Tarso, quando Cristo o apreendeu, foi, “Senhor, que queres que eu faça?”. A vida cristã é comparada com uma “corrida”, e o corredor é chamado para “deixar todo embaraço e o pecado que tão de perto nos assedia” (Hebreus 12:1), cujo “pecado” é o amor por si mesmo, o desejo e a determinação de ter o nosso “próprio caminho” (Isaías 53:6). O grande alvo, fim e tarefa posta diante do Cristão é seguir a Cristo — seguir o exemplo que Ele nos deixou (1 Pedro 2:21), e Ele “não agradou a si mesmo” (Romanos 15:3). E há dificuldades no caminho, obstáculos na estrada, dos quais o principal é o ego. Portanto, este deve ser “negado”. Este é o primeiro passo para se “seguir” a Cristo.

O que significa para um homem “negar a si mesmo” totalmente? Primeiro, isto significa a completa repudiação de sua própria bondade. Significa cessar de descansar sobre quaisquer obras nossas, para nos recomendar a Deus. Significa uma aceitação sem reservas do veredicto de Deus que “todas as nossas justiças [nossas melhores performances], são como trapo da imundície” (Isaías 64:6). Foi neste ponto que Israel falhou: “Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus” (Romanos 10:3). Agora, contraste com a declaração de Paulo: “E seja achado nEle, não tendo justiça própria” (Filipenses 3:9).

Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua própria sabedoria. Ninguém pode entrar no reino dos céus, a menos que tenha se tornado “como criança” (Mateus 18:3). “Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito!” (Isaías 5:21). “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Romanos 1:22). Quando o Espírito Santo aplica o Evangelho em poder numa alma, é para “destruir os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10:5). Um moto sábio para o todo cristão adotar é “não te estribes no teu próprio entendimento” (Provérbios 3:5).

Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua própria força. É “não confiar na carne” (Filipenses 3:3). É o coração se curvando à declaração positiva de Cristo: “Sem mim, nada podeis fazer” (João 15:5). Este é o ponto no qual Pedro falhou: (Mateus 26:33). “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Provérbios 16:18). Quão necessário é, então, que prestemos atenção à 1 Coríntios 10:12: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia”! O segredo da força espiritual reside em reconhecer nossa fraqueza pessoal: (veja Isaías 40:29; 2 Crônicas 12:9). Então, “fortifiquemo-nos na graça que há em Cristo Jesus” (2 Timóteo 2:1).

Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua própria vontade. A linguagem do não-salvo é, “Não queremos que este Homem reine sobre nós” (Lucas 19:14). A atitude do cristão é, “Para mim, o viver é Cristo” (Filipenses 1:21) — honrá-Lo, agradá-Lo, servi-Lo. Renunciar sua própria vontade significa atender à exortação de Filipenses 2:5, “Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”, o qual é definido nos versos que imediatamente seguem como de abnegação. É o reconhecimento prático de que “não sois de vós mesmos, porque fostes comprados por bom preço” (1 Coríntios 6:19,20). É dizer com Cristo, “Não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres” (Marcos 14:36).

Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente suas luxúrias ou desejos carnais. “O ego do homem é um feixe de ídolos” (Thomas Manton, Puritano), e estes ídolos devem ser repudiados. Os não-cristãos são “amantes de si mesmos” (2 Timóteo 3:1); mas aquele que foi regenerado pelo Espírito diz com Jó, “Eis que sou vil” (40:4), “Eu me abomino” (42:6). Dos não-cristãos está escrito, “todos buscam o que é seu e não o que é de Cristo Jesus” (Filipenses 2:21); mas dos santos de Deus está registrado, “eles não amaram a sua vida até à morte” (Apocalipse 12:11). A graça de Deus está “ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente” (Tito 2:12).

Esta negação do ego que Cristo requer de todos os Seus seguidores deve ser universal. Não há nenhuma reserva, nenhuma exceção feita: “Nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Romanos 13:14). Deve ser constante, não ocasional: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23). Deve ser espontânea, não forçada, realizada com satisfação, não relutantemente: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Colossenses 3:23). Ó, quão impiamente o padrão que Deus colocou diante de nós tem sido rebaixado! Como isso condena a vida acomodada, agradável à carne e mundana de tantos que professam (mas, de maneira vã) que eles são “cristãos”!

“E tome a sua cruz”. Isto se refere não à cruz como um objeto de fé, mas como uma experiência na alma. Os benefícios legais do Calvário são recebidos através do crer, quando a culpa do pecado é cancelada, mas as virtudes experimentais da Cruz de Cristo são somente desfrutadas à medida que somos, de um modo prático, “conformados com a Sua morte” (Filipenses 3:10). É somente à medida que realmente aplicamos a cruz às nossas vidas diárias, regulamos nossa conduta pelos seus princípios, que ela se torna eficaz sobre o poder do pecado que habita em nós. Não pode haver ressurreição onde não há morte, e não pode haver andar prático “em novidade de vida” até que “carreguemos no corpo o morrer do Senhor Jesus” (2 Coríntios 4:10). A “cruz” é o sinal, a evidência, do discipulado cristão. É sua “cruz”, e não o seu credo, que distingue um verdadeiro seguidor de Cristo do mundano religioso.

Agora, no Novo Testamento a “cruz” tem o significado de realidades definidas. Primeiro, ela expressa o ódio do mundo. O Filho de Deus veio aqui não para julgar, mas par salvar; não para punir, mas para redimir. Ele veio aqui “cheio de graça e verdade”. Ele sempre esteve à disposição dos outros: ministrando aos necessitados, alimentando os famintos, curando os enfermos, libertando os possessos pelo demônio, ressuscitando os mortos. Ele era cheio de compaixão: gentil como um cordeiro; inteiramente sem pecado. Ele trouxe com Ele felizes notícias de grande alegria. Ele procurou os perdidos, pregou aos pobres, todavia, não desdenhou dos ricos; Ele perdoou pecadores. E, como Ele foi recebido? Que tipo de recepção os homens Lhe deram? Eles O “desprezaram e rejeitaram” (Isaías 53:3). Ele declarou, “Eles Me odeiam sem uma causa” (João 15:25). Eles tiveram sede de Seu sangue. Nenhuma morte ordinária os apaziguaria. Eles demandaram que Ele deveria ser crucificado. A Cruz, então, foi a manifestação do ódio inveterado do mundo pelo Cristo de Deus.

O mundo não mudou, não mais do que o etíope pode mudar sua pele ou o leopardo suas manchas. O mundo e Cristo ainda estão em aberto antagonismo. Por conseguinte, está escrito: “Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4:4). É impossível andar com Cristo e comungar com Ele, até que tenhamos nos separado do mundo. Andar com Cristo necessariamente envolve compartilhar Sua humilhação: “Saiamos, pois, a Ele, fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hebreus 13:13). Isto foi o que Moisés fez (veja Hebreus 11:24-26). Quanto mais próximo eu andar de Cristo, mais eu serei mal-entendido (1 João 3:2), ridicularizado (Jó 12:4) e detestado pelo mundo (João 15:19). Não cometa engano aqui: é extremamente impossível continuar com o mundo e ter comunhão com o Santo Cristo. Portanto, “tomar” minha “cruz” significa, que eu deliberadamente convido a inimizade do mundo através da minha recusa em ser “conformado” a ele (Romanos 12:2). Mas, o que importa o olhar carrancudo do mundo, se estou desfrutando os sorrisos do Salvador?

Tomar minha “cruz” significa uma vida voluntariamente rendida a Deus. Como o ato dos homens ímpios, a morte de Cristo foi um assassinato; mas como o ato do próprio Cristo, foi um sacrifício voluntário, oferecendo a Si mesmo a Deus. Foi também um ato de obediência a Deus. Em João 10:18 Ele disse, “Ninguém a [Sua vida] tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou”. E por que Ele o fez? Suas próximas palavras nos dizem: “Este mandato recebi de meu Pai”. A cruz foi a suprema demonstração da obediência de Cristo. Nesta Ele foi o nosso Exemplo. Uma vez mais citamos Filipenses 2:5: “Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. E nos versos seguintes nós vemos o Amado do Pai tomando a forma de um Servo, e tornando-Se “obediente até a morte, e morte de cruz”. Agora, a obediência de Cristo deve ser a obediência do cristão — voluntária, alegre, sem reservas, contínua. Se esta obediência envolve vergonha e sofrimento, acusação e perda, não devemos nos acovardar, mas por o nosso rosto “como um seixo” (Isaías 50:7). A cruz é mais do que o objeto da fé do cristão, ela é o sinal de discipulado, o princípio pelo qual sua vida deve ser regulada. A “cruz” significa rendição e dedicação a Deus: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12:1).

A “cruz” significa serviço vicário e sofrimento. Cristo deu a Sua vida pelos outros, e Seus seguidores são chamados a estarem dispostos para fazerem o mesmo: “Devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1 João 3:16). Esta é a lógica inevitável do Calvário. Somos chamados para seguir o exemplo de Cristo, para a companhia de Seus sofrimentos, e para ser participantes em Seu serviço. Assim como Cristo “a si mesmo se esvaziou” (Filipenses 2:7), assim devemos fazer. Assim como Ele “veio para servir, e não para ser servido” (Mateus 20:28), assim devemos ser. Assim como Ele “não agradou a si mesmo” (Romanos 15:3), assim devemos fazer. Assim como Ele lembrou dos outros, assim devemos lembrar: “Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos, como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os maltratados” (Hebreus 13:3).

“Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mateus 16:25). Palavras quase idênticas a estas são encontradas novamente em Mateus 10:39. Marcos 8:35, Lucas 9:24; 17:33, João 12:25. Certamente, tal repetição mostra a profunda importância de notar e prestar atenção a este dito de Cristo. Ele morreu para que nós pudéssemos viver (João 12:24), e assim devemos fazer (João 12:25). Como Paulo, devemos ser capazes de dizer “Em nada tenho a minha vida por preciosa” (Atos 20:24). A “vida” que é vivida para a gratificação do ego neste mundo, está “perdida” para eternidade; a vida que é sacrificada para os interesses próprios e rendida a Cristo, será “achada” novamente, e preservada durante toda a eternidade.

Um jovem universitário graduado, com prospectos brilhantes, respondeu ao chamado de Cristo para uma vida de serviço a Ele na Índia, entre a casta mais baixa dos nativos. Seus amigos exclamaram: “Que tragédia! Uma vida lançada fora!” Sim, “perdida”, até onde diz respeito a este mundo, mas “achada” novamente no mundo porvir!

terça-feira, 5 de março de 2013

032 - o que é ego segundo o cristianismo

O Ego...ou CRISTO?

“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á.” – Mt 16.24-25.

 Um dos termos equivalentes no hebraico para a palavra “vida”, usada no grego koine, aponta para o “eu”, o seu “ego”. A vida do ser humano é o seu “eu”, o que ele é (natureza) e o que ele faz (ações), a determinação da sua própria vontade.

Jesus aqui aponta para o “ego”, para o que a pós-modernidade se acostumou a denominar “amor-próprio”, “autoestima”, o que podemos denominar de “egocentrismo”. A vontade do homem natural é deificada, seu ídolos entronizados em seu coração, lugar onde DEUS permanece ausente. Diz A. W. Tozer: “O homem, por natureza, não mais goza de paz em seu coração, pois DEUS não se acham mais entronizado ali [desde a queda de Adão, no Éden]; pelo contrário, na obscuridade moral da alma humana, usurpadores teimosos e agressivos lutam entre si, procurando ocupar esse trono.”

Quando DEUS deu um filho a Abraão este o idolatrou. O desenrolar foi dramático (ver Ge. 22.2). Devemos olhar para mais além das aparências, devemos ver que no coração de Abraão estava entronizado seu único filho. DEUS o testa e o leva a um decisão. DEUS pediu o sacrifício do maior ídolo de Abraão. Abraão poderia se recusar e falhar, Certamente DEUS disporia outro homem, para a realização de Seus Propósitos. DEUS não perderia nada. Mas Abraão perderia tudo! Há muitos “Isaques” para os homens. Muitos ídolos que o atormentam. DEUS os conclama a uma decisão. Se recusarem a rendição, perderão tudo!

O que você não deixaria por CRISTO? Suas posses (bens materiais), seus parentes, filhos(as), pais, namorados(as), ego, santos(as), religião? Pode ser algo nobre ou vil, elevado ou simplesmente o seu corrupto comportamento depravado. Se não o deixares aos pés da Cruz, em rendição, perderás tudo! E em prantos, na eternidade, lamentarás e tardiamente perceberás que isto tudo nunca foi realmente e absolutamente nada!

Tozer ainda nos diz: “Esse apego grosseiro às coisas é um dos hábitos mais daninho da vida...O Senhor Jesus não veio para destruir, mas para salvar. Tudo quanto for entregue a ELE, fica em perfeita segurança, pois, na realidade, nada será garantido enquanto não for entregue a ELE.” Pode, porém ser apenas um sentimento de amor próprio que impede o homem de achegar-se a CRISTO. O ego é tudo que rodeia o homem em seus propósitos seculares. Sua carreira, seus amores, amizades, gostos e preferências, sua estima própria. Esta é sua vida? Talvez seja este o teu caso?

O que farás com esta vida? A tomarás nas mãos, desprezarás a DEUS, apegar-te-á a ela até o fim?...Ou a depositarás aos pés do Salvador? Não poderás deixar de ser confrontado com a necessidade desta decisão. Mais uma vez Tozer assim explica: “Autopiedade...é um dos piores pecados do coração humano. Se queremos conhecer a DEUS em crescente intimidade, precisamos palmilhar o caminho da renúncia.” O salvo renunciou a si mesmo no calvário. E todos os dias toma sua cruz e morre um pouco mais para o seu “amor-próprio”, para sua “autoestima”, para o seu “ego”. Nada mais importa, pois a Graça de DEUS lhe deu tudo e ele não deseja mais nada senão estar com o seu Salvador!

Você não pode deixar de ser levado a este conflito. O que ocorreu com Abraão, um dia, ocorre com todos os seres humanos. Se guardares tua vida, DEUS dará tua parte a outro, e perderás tudo. Se “levantares a mão para a imolar”, sem reservas, DEUS te dará tudo: perdão, salvação e adoção. Não poderás fugir a isso. Nem agora, nem na eternidade!

Que farás, amigo(a)?
Pr Miguel Ângelo L Maciel

sexta-feira, 1 de março de 2013

031 - o que é ego segundo hinduísmo


A estruturação do psiquismo segundo o Hinduísmo

 “Quem sou eu?” é, sem dúvida, a pergunta mais importante do universo humano. E é claro, “De onde vim e para onde vou?”, “Quem é Deus?”, e tantas outras perguntas do mesmo teor, vêm na sequência. E em toda a história da Humanidade, o homem mergulhou intensamente na busca desta resposta. Para tanto, criou inúmeras religiões, filosofias, ciências e psicologias, sempre na ânsia ancestral e atávica, de desvendar aquilo que os índios norte-americanos chamam de “O Grande Mistério”.

 A ideia central das culturas orientais e xamânicas – a Unidade – traz o conceito de que tudo é Um, o Universo é um único organismo consciente e totalmente interagente, e que toda a percepção e sensação de separatividade é uma ilusão (maya). Os hindus chegam a dizer que a única doença de que nós  realmente sofremos – todas as outras (físicas e psíquicas) são um desdobramento desta – é avidya, a ignorância da nossa natureza real, a Unidade. E é assim que nós nos sentimos: totalmente cindidos, fragmentados. Tanto externamente – nos sentimos separados de cada semelhante, da Natureza e do que acreditamos que seja Deus; quanto internamente – corpo, cabeça e coração raramente se alinham.

 Na tarefa humana de caminhar para a Luz, em primeiro lugar é importante perceber que quando trabalhamos conosco ou com outra pessoa, estamos fundamentalmente lidando com as duas instâncias mais externas da personalidade - a autoimagem e  a persona – que são construções psicoemocionais limitadoras desenvolvidas por nós (inconscientemente, na maior parte do tempo) paradoxalmente para nos defender. A autoimagem é “quem eu acredito que eu sou”. É um sistema de crenças que nós artificialmente construímos como proteção em função das nossas experiências dolorosas, e que nos dão uma imagem e uma perspectiva de nós mesmos, que na maior parte das vezes nós sentimos como muito desfavorável, ou ao contrário (mas pela mesma defesa), o ego infla e a pessoa se sente exageradamente o máximo. A persona é  “quem eu quero que acreditem que eu sou”. São as nossas máscaras sociais filhas da autoimagem, e que procuram compensar esta.

 E a autoimagem e a persona são competente e eficientemente fomentadas, mantidas e monitoradas pela mente e pelo ego. A autoimagem e a persona são componentes importantíssimos na construção da nossa visão de mundo, a chamada “realidade” (que é o que nós acreditamos que a vida é). Outro movimento do psiquismo -  que foi percebido por S. Freud bem no início da estruturação da Psicanálise - são as pulsões da  busca do prazer e da evitação da dor. E todo o complexo psicoemocional trabalha neste sentido: o de nos manter afastados do contato com a dor.

 Na infância, quando passamos por experiências traumáticas, estas impressões são “escondidas” no inconsciente. A intenção é que não tenhamos que estar sempre entrando em contato com nossas dores (ou do que a mente acredita serem dores), pois seria insuportável viver assim, lembrando o tempo todo de tudo o que de ruim nos aconteceu. O problema é que estas dores continuam vivas no inconsciente, produzindo ao longo do tempo um sistema de crenças e padrões que irá contribuir decisivamente na formação do caráter e da personalidade, e também na somatização de doenças físicas, psicoemocionais ou sociais. Ou seja, paradoxalmente , o mesmo procedimento interno que trabalha para nos proteger, nos limita e nos sabota.

 Vamos pegar emprestada aqui, um pouco da Psicologia Hindu para nos dar um subsídio filosófico: Em primeiro lugar, se tanto as tradições orientais quanto as xamânicas dizem que somos seres multidimensionais, isto quer dizer que existimos simultaneamente em infinitos níveis, certo? Na filosofia hindu, temos duas formas de codificar as dimensões do ser humano: uma trina (os Shariras, ou corpos) mais usada pelo Yoga e outra quíntupla (os Koshas, ou envoltórios) mais usada pela Vedanta. São apenas divisões de caráter didático, já que estas dimensões não são lineares e tridimensionais, são holográficas.

Os Shariras, ou corpos, são 3: o Sthula Sharira ou corpo denso (o corpo físico), o Sukshma Sharira ou corpo sutil  (o corpo de energia, o corpo emocional e o corpo mental) e Karana Sharira ou corpo causal.

 Karana Sharira se chama corpo causal porque é nesse nível  onde se localiza a causa da ignorância (avidya). Mas é também neste nível que se localiza a visão da Águia, da Testemunha, e que acontecem as canalizações e as conexões mediúnicas. E este também é o nível que faz a “interface” do estado de consciência separada com o estado da Unidade Absoluta (Nirvana, Samadhi, Moksha, Satori).

 Os Koshas, são chamados de envoltórios (ou bainhas), porque são as camadas que ilusoriamente prendem e condicionam o Espírito. São cinco:
Annamaya kosha, ou corpo físico; Pranamaya kosha, o corpo de energia (onde normalmente atua a Acupuntura, a Homeopatia, a Cromoterapia, o Reiki, etc. e que os esoteristas chamam de duplo-etérico e os espíritas de perispírito). Neste nível circulam as Pranavaha Nadis (condutos energéticos que transportam o Prana); Manomaya kosha, o corpo psicoemocional. Neste nível circulam as Manovaha Nadis (condutos de energia que transportam Ojas, a energia mental. Ojas é a quintessência energética extraída dos alimentos pelos Dhatus – os 7 tecidos corporais); Vijñanamaya kosha, o corpo psíquico e; Anandamaya kosha, o corpo psicoespiritual.

Vijñanamaya Kosha é onde opera o discernimento, a capacidade de se escolher e discriminar entre o que é real ou irreal. Assim como o Karana Sharira, Anandamaya kosha é a ponte, o degrau para o estado da Unidade.

 O Sthula Sharira (bem como sua correspondente Annamaya Kosha) está relacionado a Guna Tamas; o Sukshma Sharira (Prananamaya, Mano Maya e Vijñanamaya Kosha) está relacionado a Guna Rajas; e Karana Sharira (Anandamaya Kosha) a Guna Sattwa.  O complexo psíquico (que os hindus chamam de Antahkarana, ou órgão interno) é formado por:

 1. Buddhi, é a parte mais elevada da mente. Num primeiro nível, Buddhi  trabalha com o discernimento, as escolhas e as opções. Desde as escolhas inconscientes - como, por exemplo, as que faz o sistema nervoso autônomo - passando pelas opções e escolhas conscientes do dia-a-dia, até a mais elevada das formas de discernimento que é o questionamento sobre o que é real e o que é irreal na existência (que é o que os hindus chamam de Viveka). Em um nível mais elevado de atuação, Buddhi é  a mente testemunha (a visão da águia), o nível da meditação e da neutralidade, onde não há julgamento. O Buddhi atua no nível de Karana Sharira e Vijñanamaya kosha. Abarca também o inconsciente. O trabalho da mente com os Guardiões e os Mantras no Fogo Sagrado, ocorre neste nível.

2. Manas é a mente pensadora. Administra os estímulos que vem através da aferência dos sentidos (Jñana Indriyas)  e da atividade da memória (Chitt , conteúdos do consciente e do inconsciente), administra as escolhas e opções de Buddhi, e  produz os Vrittis (pensamentos, movimentos mentais, mente racional) e as respostas psicomotoras (Vasanas) através dos Karma Indriyas (órgãos de ação).

3. Ahamkara, o ego. Trabalha em dobradinha com Manas na função de se manter a identificação da Consciência com o estado ilusório de separatividade (maya). O ego e a mente mantém a Consciência ilusoriamente identificada com sua personalidade (que poderíamos chamar aqui de autoimagem/persona ou Corpos Energéticos ou ainda vrittis/samskaras/vasanas) e com as Gunas, os movimentos impermanentes da vida. E como este “órgão interno“ trabalha ? Quando os nossos sentidos apreendem algum objeto, informação ou estímulo, dois mecanismos disparam automaticamente: o corpo mental associa um nome (nama) e uma forma (rupa) e o corpo emocional avalia se aquele determinado objeto me atrai (raga) ou se eu o rejeito (dwesha) – bem no estilo das pulsões “busca do prazer evitação da dor” freudianas.  

 Em outras palavras  os sentidos captam, a mente e o emocional enquadram e o ego identifica com eu/meu.

Assim enquadramos toda a realidade Una em pequenas unidades ilusoriamente  separadas,  mantemos a ignorância da nossa natureza real, e ficamos vivendo aprisionados em uma realidade construída por nós mesmos. Se o estímulo ou informação que recebemos através dos sentidos (jñana indriyas) é alguma coisa muito forte e traumatizante, ou se por outro lado, são estímulos ou informações que se repetem com periodicidade, isto vai imprimir samskaras (impressões psicoemocionais) no  inconsciente, que vão por sua vez produzir vasanas (crenças, hábitos, tendências e padrões) e vrittis (movimentos da mente, pensamentos, atividade racional).
Algumas imagens:

1. Imagine que o seu complexo psíquico é um lago: o  reservatório em si é a mente (Manas); o conteúdo – a água – é Chitta, a memória consciente e inconsciente; o fundo do lago é o Ser, a Unidade coberta pela “poeira” de Chitta que forma “bancos de areia” (samskaras) em função dos movimentos internos e da superfície (vrittis); por sua vez, os movimentos ondulatórios da superfície são os Vrittis  (pensamentos, atividade racional) cujos padrões são produzidos pelo perfil topográfico do fundo (samskaras). Quanto mais nivelado e liso estiver o fundo, mais tranquilas serão as águas da superfície.

2. Uma carruagem:  Buddhi é o condutor, Manas são as rédeas, Ahamkara é a carruagem e os cavalos são os sentidos (indriyas).

3. Estou em um campo e de repente vejo um touro enfurecido correndo em minha direção: os jñana indriyas captam a imagem , Manas processa a informação (“vendo um touro correndo”), Ahamkara identifica com o eu (“eu estou vendo um touro”), Buddhi faz as escolhas (“eu estou vendo um touro, que vai me pegar. Tenho que correr”), e os Karma Indriyas executam a ação.

Ernani Fornari (Dharmendra)

http://www.geocities.com/yogaterapia/